14/06/2018 18:12 - Direitos Humanos
Radioagência
Criação de vagões exclusivos para mulheres em metrô divide opiniões
A criação de vagões exclusivos no metrô para mulheres, como vem ocorrendo em diversas capitais brasileiras, divide opiniões de feministas, mas é consenso que a solução para o problema do assédio no transporte público deve ir além da criação deles. O tema foi um dos discutidos em audiência pública sobre o direito das mulheres à cidade, promovida pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Desenvolvimento Urbano da Câmara (nesta quinta-feira, 14).
A jornalista Flavia Gianini, organizadora do ato "Então eu grito", disse que o vagão exclusivo garante a segurança da mulher, mas é uma solução paliativa, já que culpabiliza a mulher pelo assédio, responsabilizando-a pelo problema. Para Gianini, é preciso pensar em soluções definitivas.
"E 92% das mulheres que utilizem os vagões exclusivos no Brasil aprovam essa utilização. Nem de longe eles vão resolver esse problema, não definitivamente. Mas a aceitação da mulher dessa setorização, é melhor você poder ir e vir, mesmo segregada, do que sofrer ou estar mais suscetível à violência em outros espaços."
Entre outras iniciativas para atacar o problema, Flavia defendeu canais de denúncia imediata de casos de assédio, como adotados no metrô de São Paulo. Na capital paulista, é relatado um caso de assédio em transporte público a cada dois dias, a maioria dos casos entre 7h e 10h da manhã.
A jornalista defendeu ainda o incentivo para que as mulheres denunciem o assédio; a educação de gênero da população, com o combate do que chama de "masculinidade tóxica"; e a ocupação dos espaços de decisão pelas mulheres. Além disso, Flávia disse que é preciso conscientizar os agentes públicos, como delegados de polícia, para classificar corretamente os atos como assédio e estupro, e não como contravenção penal.
Já Sonia Coelho, representante da Marcha Mundial das Mulheres, criticou os vagões de metrô exclusivos para mulheres.
"Queremos estar em todos os lugares, e respeitadas e livres de violência. Nós não queremos um lugarzinho, não, porque isso é dizer que o machismo vai ficar livre e que nós vamos ficar aprisionadas em um vagão".
Sonia acredita que a ação dos governos é essencial para a construção de políticas de combate às desigualdades de gênero e raça nas cidades. Entre as iniciativas necessárias, citou o investimento em iluminação das vias públicas e em redes de atendimento a vítimas de violência, além de campanhas permanentes contra o assédio sexual.
A arquiteta e urbanista Joice Berth ressaltou que a maior parte das mulheres já sofreu assédio nas cidades e que muitas não são conscientes das opressões que vivem.
"Muitas vezes têm essa dificuldade de enxergar que determinadas ações masculinas são, sim, manifestações do machismo. Quando se fala de assédio, por exemplo, tem mulheres que são resistentes a isso. Elas acham que transitar na cidade e ser abordadas por um homem, que isso pode ser elogioso".
O debate foi iniciativa das presidentes das comissões de Defesa dos Direitos da Mulher e de Desenvolvimento Urbano: as deputadas do PT Ana Perugini, de São Paulo; e Margarida Salomão, de Minas Gerais, respectivamente.