15/03/2018 15:53 - Segurança
Radioagência
Comissão externa da Câmara vai acompanhar investigação do assassinato de Marielle Franco
"Morar, nascer, viver na favela é reivindicar esse lugar de favelada para estar fazendo política de outra maneira. Esse lugar que, sim, é marcado por uma violência de todos os lados e nós estamos expostos à opressão por muita das vezes, diz que a gente não compactua com isso, que a gente não tem que normalizar o entrar na favela e ter que acender as luzes ou sair da favela e ter que ouvir de agente de segurança que ainda não matou ninguém. A gente vai entrar, vai sair, vai fazer política, vai resistir."
Foi na voz da própria Marielle Franco que deputados e manifestantes lembraram um pouco da atuação política da vereadora carioca pelo Psol, morta com quatro tiros na cabeça na noite de quarta-feira (14), no centro do Rio de Janeiro. O assassinato dela e de seu motorista, Anderson Gomes, repercutiu na Câmara, onde uma sessão solene no Plenário prestou homenagem às vítimas nesta quinta-feira (15).
Durante a sessão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou a criação de uma comissão externa para acompanhar as investigações sobre o crime. Além de Marielle e Anderson, estava no carro atingido pelos tiros uma assessora da vereadora, que ficou ferida.
"Acho importante a Câmara participar, já que foi um assassinato brutal de uma parlamentar. É nosso papel fiscalizar os atos, mesmo porque os órgãos de segurança estão sob responsabilidade federal e cabe, sim, uma comissão externa para tratar desse assunto."
O colegiado foi proposto pelos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Luiza Erundina (Psol-SP) e Wadih Damous (PT-RJ).
Durante a sessão, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) cobrou a votação de proposta que trata do abuso de autoridade (PLs 6361/09, 7596/17 e apensados). Quatro dias antes de ser assassinada, Marielle Franco fez denúncias contra a violência policial em Acari, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro. As primeiras investigações sobre o assassinato incluem a hipótese de execução da vereadora.
"Já há ratos nas mídias sociais que tentam desqualificar o conteúdo da pauta dos direitos humanos e aproveito para reforçar que é necessário pautar o projeto de lei para abuso de autoridade."
A deputada Luiza Erundina também se manifestou neste sentido.
"Acreditemos que o sangue da Marielle e todas as vítimas do arbítrio de um estado autoritário e repressor vai germinar como semente que brotará por milhares de Marielles pelo País afora."
Coordenadora adjunta da bancada feminina na Câmara, a deputada Professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO) afirmou que o caso Marielle é um exemplo de feminicídio e de violência política contra a mulher. Já a deputada Érika kokay (PT-DF) criticou a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Durante a sessão solene, militantes e defensores dos direitos humanos protestaram no Plenário contra o assassinato da vereadora e gritaram palavras de ordem contra o presidente da República, Michel Temer; contra a Polícia Militar do Rio de Janeiro; contra a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro; e contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Socióloga, Marielle Franco foi assessora parlamentar do deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) antes de se eleger vereadora em 2016 como a quinta mais votada entre todos os candidatos. Na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, presidia a Comissão de Defesa da Mulher e iria relatar os trabalhos de uma comissão de acompanhamento da intervenção federal na área de segurança pública no Rio.