28/11/2017 19:10 - Educação
Radioagência
Antônio Conselheiro poderá ser reconhecido oficialmente como Herói da Pátria
"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia cinco, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados".
O principal personagem da história da guerra de Canudos, contada no livro "Os Sertões", de Euclides da Cunha, do qual apresentamos o trecho que abre esta reportagem, o líder social Antônio Conselheiro poderá ser reconhecido oficialmente como um Herói da Pátria. O homenageado é visto como símbolo da liderança social na cidade de Canudos no interior da Bahia, que muito incomodou os republicanos da época. Conselheiro morreu dias antes do fim da guerra, em 5 de outubro de 1897.
O nome de Antônio Vicente Mendes Maciel poderá ser inscrito no Livro de Heróis da Pátria, ao lado de personalidades como Tiradentes, Santos Dumont e Chico Mendes. Para isso, um projeto de lei (PL 6753/16) deverá ser ainda aprovado no Senado Federal, que avalia a proposta.
Na Câmara, o projeto já foi aprovado com texto de autoria da deputada Luizianne Lins, do PT do Ceará. Para ela, seu conterrâneo foi um exemplo de enfrentamento a problemas relacionados às desigualdades social e econômica, que ainda ocorrem nos dias atuais.
"Homenagear um líder popular como Antônio Conselheiro, eu creio que nesse momento que o país está passando de tanta dificuldade, de tanta falta de bons exemplos, na política, na vida social, pessoas que tenham liderança, eu acho que é importante trazer à tona esse papel. (..) Essas questões estão postas de novo e a necessidade de o povo se organizar e de forma com bravura, assim como eram as pessoas de Canudos, elas poderem redefinir, ou pelo menos minimizar, os problemas que o Brasil está enfrentando nesse momento".
A homenagem chama atenção para a trajetória do peregrino e das lutas populares. O professor de história Pedro Vasconcelos lembra que, neste ano, o massacre de Antônio Conselheiro e de seus seguidores completa 120 anos, e que sua história vai além de uma liderança religiosa que aconteceu e chegou a ser narrada num contexto de desigualdade social, econômica e racial.
"Uma das lideranças mais importante da história popular brasileira. Uma figura que foi absolutamente execrada no seu tempo e praticamente durante todo o século 20 com a pecha de louco, de agitador, às vezes até de comunista. O nome de Antônio Conselheiro escrito nesse livro soa como um alento em tempos tão desanimadores".
Parte do contexto da história de Antônio Conselheiro é contada no clássico da literatura "Os Sertões", lançado em 1902, cinco anos depois da morte de Antônio Conselheiro. A primeira publicação do livro de Euclides da Cunha conta a história da Guerra de Canudos e completa 115 anos no dia primeiro de dezembro.