18/10/2017 19:17 - Agropecuária
Radioagência
Comissão de Agricultura busca acordo com lideranças indígenas para promover parcerias agrícolas
Mais de trinta lideranças indígenas de todas as regiões do País foram ouvidas em audiência pública na Comissão de Agricultura. Em debate, a possibilidade de obter financiamento para a produção agrícola indígena e arrendar as terras indígenas para fazendeiros e mineradoras.
Mas o arrendamento de terras indígenas causa polêmica. O Conselho Indigenista Missionário, Cimi, foi convidado para a audiência e não mandou representante. Em nota, a organização diz que o arrendamento é uma tática da bancada ruralista para tomar posse das terras indígenas.
Do lado de fora da Câmara, índios contrários à proposta entraram em confronto com a polícia legislativa. Na confusão, houve quebra de vidros em uma das entradas da Câmara e o lançamento de bombas de efeito moral pelos policiais.
Enquanto isso, na audiência na comissão de agricultura, o presidente do fórum de caciques do Mato Grosso do Sul, Jucelino Custódio, criticou as ONGs, como o Cimi, e associações indígenas como a APIB, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que são contrárias às parcerias nas terras dos índios.
Arnaldo Zunizakae, representante da etnia Pareci, de Mato Grosso, disse que foi o primeiro indígena a plantar soja, e foi denunciado ao Ministério Público por isso. Ele explicou como funciona a parceria com os fazendeiros da região:
"Nós trouxemos pra dentro no tempo em que o povo pareci sofria com alto grau de desnutrição infantil. O modelo de parceria agrícola foi adotado porque não conseguimos crédito nas instituições financiadoras. O índio entrava no contrato com a terra e com a mão de obra, e todo o custeio feito pelos fazendeiros. Este ano tivemos projeto que investiu 800 mil reais em compra de máquinas. Projetos indígenas, com dinheiro do índio."
O deputado Nilson Leitão, do PSDB do Mato Grosso, disse que os índios têm que ser ouvidos nos projetos de desenvolvimento em suas terras.
"Essa audiência pública é o início de uma luta enorme, porque não é só daquele que quer parcerias, mas atrás de tudo isso está um discurso ideológico. Não cabe mais ficar apenas debatendo deputado contra deputado. Vocês é que vão decidir o que vocês querem, e o que nós vamos descrever tem que sair com a caligrafia digital de vocês. Não ter intermediários nesse meio. Vocês têm inteligência e sensibilidade para escrever esse novo futuro que vocês querem para os índios brasileiros.
Ao encerrar a reunião, o deputado Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina, disse que vai solicitar uma audiência entre os índios e a Casa Civil para cobrar a medida provisória que permite a realização das parcerias de arrendamento em terras indígenas. Colatto garantiu que será criado um grupo de trabalho para estudar esse assunto, que deve ser tema de um seminário aqui na Câmara dos Deputados, em dezembro deste ano.