18/10/2017 19:05 - Política
Radioagência
Ex-diretor da JBS diz que procuradores atuaram para favorecer a empresa
Em depoimento à CPI Mista da JBS, o advogado Francisco de Assis e Silva, ex-diretor jurídico da JBS, reforçou as suspeitas sobre as atuações do ex-procurador da República Marcelo Miller e do procurador da República Ângelo Goulart Villela, acusados de beneficiar o grupo empresarial quando atuavam na Procuradoria-Geral da República.
No depoimento, que ocorreu em reunião reservada, Silva afirmou que Miller ajudou na formatação da proposta de delação premiada dos executivos da JBS quando ainda fazia parte da equipe do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot.
O relator da CPI, deputado Carlos Marun, do PMDB de Mato Grosso do Sul, revelou que o advogado disse ter sido apresentado a Miller no dia 12 de fevereiro e que não sabia que ele ainda era procurador.
"Ele coloca que o Miller estaria ajudando a JBS e que ele não sabia, ele não sabia que o Miller era procurador ainda. Mas reconhece que o Miller contribuiu na formatação dos documentos apresentados à PGR para celebração da delação".
Miller se desligou oficialmente do Ministério Público apenas em 5 de abril. Na defesa que entregou ao Supremo Tribunal Federal, ele alega que decidiu deixar o órgão em fevereiro para trabalhar em um escritório de advocacia, mas que o desligamento só ocorreu oficialmente em abril porque ele ainda tinha férias vencidas para tirar.
Francisco de Assis e Silva afirmou ainda que o procurador Ângelo Goulart Villela era pago pelo ex-advogado da JBS Willer Tomaz de Souza para manter o grupo informado a respeito do andamento da Operação Greenfield, da Polícia Federal.
A operação investigava uma das empresas do grupo, a Eldorado Celulose, em um esquema de fraudes em fundos de pensão.
Em depoimento à CPI, Villela negou as acusações e disse que estava apenas tentando convencer os executivos da JBS a fazerem uma delação premiada.
Ele atribuiu a denúncia a uma suposta intenção política do ex-procurador geral da República Rodrigo Janot de usar a delação premiada de Joesley Batista para derrubar o presidente Michel Temer e, assim, impedir a nomeação de Rachel Dodge como sua sucessora no comando do Ministério Público.
Para o senador Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá, o depoimento de Francisco de Assis derruba esta versão.
"Se quiseram convocar, convidar, o doutor Francisco aqui para auxiliar a linha deles de ataque ao Ministério Público, de tornar o procurador como uma vítima, de falar de abusos, então deram um tiro no pé".
Antes do depoimento de Francisco de Assis e Silva, o relator da CPI, Carlos Marun, disse que apresentaria um requerimento para transformar em convocação o convite aprovado pela comissão para que Rodrigo Janot seja ouvido.
A diferença é que o convite não obriga o comparecimento do depoente, ao contrário da convocação.