20/06/2017 16:48 - Ciência e Tecnologia
Radioagência
Sem reajuste em bolsas de estudo, pesquisadores fazem alerta sobre futuro da ciência brasileira
Pesquisadores alertam, em audiência na Comissão de Educação da Câmara (nesta terça-feira, 20), que, sem reajuste em bolsas de mestrado e doutorado, o futuro da ciência brasileira está comprometido. Representante do governo admite, no entanto, que, pelo menos até o próximo ano, não há perspectiva de aumento dos valores.
Uma proposta (PL 4559/16) em debate na comissão estabelece um reajuste para bolsas de pesquisa e pós-graduação sempre em janeiro de cada ano, pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, o INPC, calculada com base nos 12 meses anteriores. As bolsas estão sem aumento desde abril de 2013: são R$ 400 para alunos de iniciação científica; R$ 1500 para mestrado; e R$ 2.200 para doutorado.
Durante a audiência, o secretário-geral da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Gabriel Nascimento, deu um exemplo de como os gastos aumentaram neste período.
"Se eu pagasse um aluguel de 500 reais em 2012, tomando o IGPM como medida, nesse ano eu estaria pagando um aluguel de 672 reais pra cima, isso é o mínimo, né? Isso acompanhado por todos os outros índices que foram reajustados no Brasil, isso puxado pelo salário mínimo, puxado pela inflação do período."
Para a representante dos pesquisadores em educação, Andrea Gouveia, por causa dos baixos valores das bolsas de estudo, futuros cientistas estão trocando a carreira acadêmica pelo mercado de trabalho.
"Eu tô perdendo muitas vezes o menino ou a menina porque ele está indo se sujeitar a um estágio mal remunerado, mas que garante um salário mínimo. E aí eu deixo de ter esse sujeito podendo ingressar num grupo de pesquisa, fazendo sua graduação com excelência."
Os representantes dos órgãos de incentivo à pesquisa, CNPQ e Capes, reconheceram que a situação dos pós-graduandos é difícil. Eles relataram que houve uma expansão no número de bolsas nos últimos anos, sem aumento equivalente nos orçamentos das instituições.
O presidente substituto da Capes, Geraldo Nunes, já fez duas propostas ao Governo Federal para reajustar as bolsas, sem sucesso. Depois da audiência pública, ele deu uma má notícia aos estudantes: pelo menos até o ano que vem, não há chance de modificar os valores atuais.
"Talvez em 2019, (...) a gente negociando a aprovação desse projeto e negociando ao longo de 2018, talvez em 2019."
O deputado Lobbe Netto, do PSDB de São Paulo, autor da proposta que prevê o reajuste anual das bolsas, ainda aposta em uma negociação com o Poder Executivo para mostrar que aumentar o dinheiro para a pesquisa não é despesa, mas investimento.
"Um investimento na ciência, na tecnologia, na iniciação científica, que, apesar da crise, nós temos que preparar o país para a pós-crise, para que nós possamos competir globalmente."
Atualmente, a Capes tem 121 mil bolsistas de mestrado e 102 mil de doutorado. No CNPq, são 26 mil bolsas de iniciação científica, 9 mil de mestrado e 8 mil de doutorado. No total, pelo menos 266 mil estudantes em todo o País.