Radioagência

Índios enfrentam dificuldades para entrar no Senado para participar de audiência pública sobre a luta dos povos indígenas por justiça e direitos humanos. O evento promovido em parceria pelas comissões de Direitos Humanos do Senado e da Câmara teve que ser cancelado e os parlamentares se reuniram com as lideranças indígenas no acampamento Terra Livre que reúne cerca de 2 mil índios ao lado do Teatro Nacional, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Autora do requerimento para o debate, a presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, senadora Regina Sousa, do PT do Piauí, lamentou o incidente.

"É um aparato policial imenso, inclusive, cavalaria. Vieram escoltando os índios do acampamento para cá e a alegação é que tinha muita gente, mas a gente sabia e tínhamos pessoas lá pra controlar a entrada. Nós tínhamos combinado quantos iam entrar, nem todos iam entrar, muitos iam ficar lá fora. Então, deu confusão. Prenderam um rapaz que diz ser jornalista, mas eles estão dizendo que não era. Não interessa, mas prenderam uma pessoa. A discussão foi terrível com o pessoal do comando da polícia (PM). Nós tentamos intermediar, eu Gleisi (Hoffman) e Paulo Rocha. A gente precisa tomar providência. É impossível que toda vez que chega índio aqui é essa confusão"

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Paulão, do PT de Alagoas, pediu providências ao governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, e ao presidente do Senado, Eunício Oliveira.

"É fundamental fazer um relato da tratativa (ao presidente do Congresso). Tá um nível de exacerbação muito grande. Um tensionamento muito grande. Toda vez que tem um índio, o índio tem sua marca própria, que são dos povos originários, portanto, a pintura, o maracá, toda instrumentalização, não é de guerra, mas o pessoal fica tensionado. No entanto, na semana passada, quando a polícia civil depredou o prédio da Câmara Federal, eu não vi a mesma ação da polícia legislativa ou da polícia militar do Distrito Federal"

Leila Borari, representante dos povos indígenas do Baixo Tapajós, disse estar muito triste com a violência com que foram recebidos em Brasília. Ela relatou que só conseguiu entrar no Senado, porque participou de uma reunião mais cedo no gabinete do senador Paulo Rocha, do PT do Pará.

"A gente veio dizer que a gente não quer hidrelétricas no Tapajós. O Tapajós não é apenas um rio para gente, mas também é o lugar dos nossos encantados. Toda nossa cultura está no rio. É de onde a gente tira nosso sustento também. Queria expressar um pouco nossa profunda tristeza com o desrespeito que ainda continua muito forte com os povos indígenas. A Amazônia está quase toda destruída e hoje o foco é para o Pará. O Pará tem muito minério, tem madeira. O que eles mais querem é tirar a gente de lá. E as nossas terras estão sendo dominadas pela soja e para gente o que é mais valioso é nossa floresta em pé, é nosso rio limpo"

O deputado Nilto Tatto, do PT de São Paulo, criticou a maneira como os índios foram recebidos. Ele destacou as dificuldades enfrentadas pelas lideranças indígenas para vir a Brasília se manifestar. Tatto também fez um apelo para que o governo pare de fazer o desmonte da Funai e continue a demarcação de terras.