12/04/2017 16:42 - Meio Ambiente
Radioagência
Câmara faz mobilização para conter destruição das veredas
Câmara faz mobilização para conter a destruição das veredas, que agonizam no "Grande Sertão" de Minas Gerais e reduzem a recarga hídrica na bacia do rio São Francisco.
MÚSICA: "Sagarana" (de João de Aquino e Paulo Cesar Pinheiro, com Clara Nunes)
"É buriti, buritizais / É o batuque corrido dos gerais
O que aprendi, o que aprenderás / Que nas veredas por em-redor Sagarana
Uma coisa é o alto bom-buriti / Outra coisa é buritirana..."
Após mergulhar no ambiente, ora seco ora úmido de chapadas, buritizais e cavernas do norte e noroeste de Minas Gerais, o escritor Guimarães Rosa produziu obras-primas da literatura, como "Sagarana", em 1946, e o clássico "Grande Sertão: Veredas", em 1956. Esse cenário rústico, palco das aventuras dos personagens Riobaldo e Diadorim, vive hoje dias agonizantes, segundo especialistas ouvidos em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara (em 11/04), lotada de prefeitos, vereadores e moradores da região.
As veredas, um frágil "oásis" do bioma Cerrado, agonizam devido ao avanço das pastagens de gado, assoreamento, queimadas, desmatamento para a produção agrícola e de carvão e abertura indiscriminada de poços artesianos e de estradas vicinais. Coordenadora do programa "Vereda Viva" da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a pesquisadora Maria das Dores Veloso afirma que esse quadro agrava a crise hídrica do norte e noroeste de Minas.
"Onde tem vereda, tem água. Onde tem água, tem buriti. A vereda é um termômetro: ela está nos mostrando que, se a gente não cuidar muito rápido do ambiente, nós vamos ficar sem água, porque elas estão morrendo antes da gente, de sede".
Levantamento coordenado pelo Laboratório de Ecologia da Unimontes mostra que em 17 veredas pesquisadas, apenas três não apresentavam impacto das pastagens. O quadro de degradação foi confirmado pelo repórter do jornal O Estado de Minas, Luiz dos Santos, que percorreu mais de 2 mil quilômetros de 12 municípios mineiros e constatou o impacto da destruição das veredas na redução da recarga hídrica da bacia do rio São Francisco. A série jornalística, publicada no ano passado, comemorou os 60 anos do livro "Grande Sertão: Veredas".
Para o deputado Saraiva Felipe, do PMDB mineiro, a situação torna-se ainda mais grave a partir do avanço da transposição do São Francisco sem o cumprimento das metas de revitalização da bacia hidrográfica.
"Nós temos que brigar para salvarmos a mãe das águas - no caso, as veredas - e cobrarmos do governo, porque foi dito o seguinte: que não haveria transposição sem que se pensasse na questão da revitalização do rio São Francisco, sobretudo de sua nascente. Esse é o momento de uma mobilização, que precisa ser muito maior. Os recursos são exíguos mesmo".
Chefe da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Minas Gerais, o engenheiro agrônomo George de Brito, reforçou o pedido de mais recursos financeiros, inclusive por meio de emendas parlamentares, a fim de garantir as metas do Plano Novo Chico, lançado pelo governo Temer em agosto de 2016. Nos últimos anos, foram investidos R$ 620 milhões em revitalização hidroambiental em Minas Gerais.
Em defesa do desenvolvimento sustentável na região, a Codevasf tem incentivado manejos de solo e técnicas alternativas para reter a água da chuva e alimentar o lençol freático. Fazendeiro e prefeito do município mineiro de Urucuia, Rutílio Cavalcanti é adepto de técnicas como o terraceamento em curvas de nível e as barragens de águas pluviais. Segundo Rutílio, essas técnicas evitam que "a água que cai no sertão das Gerais seja desperdiçada no caminho até o mar".
"Queremos que as veredas de Guimarães Rosa sejam recuperadas, como há 60 anos. E precisamos também produzir grãos e desenvolver os nossos municípios e os nossos estados".
Autor do requerimento de audiência pública, o deputado Zé Silva, do Solidariedade mineiro, fez um apelo, em nome dos extensionistas rurais (Emater), para que as ações governamentais de recuperação ambiental não se restrinjam a paisagens específicas, mas ao conjunto do bioma Cerrado.
"O Cerrado brasileiro representa 22% do nosso território. É como se fosse uma esponja, que, no ciclo da água, vai armazenando a água. E depois, como se fosse as nossas artérias, vai distribuindo essa água para as nascentes, córregos e rios, alimentando a vida da nossa geração".
MÚSICA: "Sagarana" (de João de Aquino e Paulo Cesar Pinheiro, com Clara Nunes)
"Quem quiser que cante outra / Mas à moda dos gerais
Buriti: rei das veredas / Guimarães: buritizais..."