06/04/2017 17:06 - Comunicação
Radioagência
Presidente dos Correios reafirma crise e apresenta propostas para a empresa
A crise financeira dos Correios foi tema de audiência pública da Comissão de Integração Nacional da Câmara. A empresa teve um prejuízo de 4 bilhões de reais nos últimos dois anos, está fechando agências e pretende cortar benefícios dos funcionários, que ameaçam uma greve geral.
A audiência pública foi acompanhada por um grande número de funcionários dos Correios e teve a presença de sindicalistas e do presidente da empresa, Guilherme Campos, que apresentou um panorama de dificuldades econômicas graves.
Segundo ele, os Correios, que tem 117 mil funcionários e está presente em todo o país, vêm apresentando déficits ano após ano, desde 2010.
Guilherme Campos atribuiu parte do problema à tendência mundial de diminuição no número de entrega de correspondências. Essa queda é atribuída à Internet e a entrega de correspondência é justamente o setor em que os Correios detêm o monopólio no Brasil.
Já na outra parte do serviço, que é a entrega de encomendas, os Correios têm concorrência de empresas privadas.
Mas Guilherme Campos elencou outros fatores que explicam os sucessivos déficits da empresa, entre os quais a retirada de quase 6 bilhões de reais do caixa dos Correios pelo governo federal, entre 2007 e 2013.
"De 2007 a 2013 foi retirado do caixa da empresa mais de 6 bilhões de reais a título de antecipação de dividendos. A retirada desse caixa comprometeu demais os investimentos e as possibilidades de transformações e mudanças necessárias na empresa. E nós tivemos, e não é novidade para ninguém, dois anos, mas dois anos com números muito comprometedores. O ano de 2015, com prejuízo de dois bilhões e cem milhões de reais, e o ano de 2016, cujos números ainda não estão fechados, com prejuízo da ordem de 2 bilhões de reais".
Guilherme Campos apresentou o plano da empresa para reduzir estes custos.
Entre as medidas, estão a suspensão das férias por um ano, um plano de desligamento voluntário e o corte de gratificações de chefia.
Mas o que mais causou revolta entre os funcionários foi o anúncio de corte do desembolso com o plano de saúde, que representou 1 bilhão e meio do prejuízo de 2 bilhões de reais que os Correios tiveram no ano passado.
O sistema funciona da seguinte maneira: os Correios entram com 93% do custo e os funcionários, com 7%. E o plano atende toda a família dos servidores, inclusive aposentados, pais e mães.
Guilherme Campos classificou o modelo do plano de saúde como insustentável e está tentando negociar o corte na Justiça do Trabalho.
A proposta dos Correios é financiar apenas as despesas dos funcionários e não de seus dependentes. Como contrapartida, a empresa oferece destinar 15% do lucro dos Correios para ajudar a abater o custeio do plano de saúde do trabalhador.
Já os representantes dos funcionários são contra a proposta e apresentaram sugestões alternativas para tirar os Correios da crise atual.
Entre elas, estão obrigar os órgãos públicos a contratarem os Correios e não as empresas concorrentes para entrega de encomendas; cobrar do governo federal os 6 bilhões retirados dos cofres da empresa nos últimos anos; e cortar despesas como os patrocínios a entidades esportivas.
Caso contrário, como explicou José Rivaldo da Silva, da federação nacional dos trabalhadores dos Correios, eles vão entrar em greve geral no próximo dia 26.
"Em hipótese alguma nós vamos aceitar essa situação. Nós vamos fazer aquilo que a gente sabe fazer bem e vamos continuar prestando bons serviços à população. Agora, se continuar com essa situação toda apresentada pela diretoria da empresa, eu acredito que no dia 26 de abril nós vamos parar, e vamos parar por tempo indeterminado até que a empresa faça o seu papel e chame a gente para negociar, tem margem para negociar".
Na Câmara, foi criada uma frente parlamentar em defesa dos Correios. O coordenador da frente é o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG). Ele disse que a intenção do grupo é buscar saídas para a empresa que não passem pelo corte de benefícios dos funcionários. E fortalecer os Correios, que têm uma função social importante.
"Mas é uma empresa também, diferente de uma empresa privada, ela tem uma função social importante. Ela chega em todos os cantos desse país. Muitas vezes a gente chega numa cidadezinha pequena, que não tem uma agência bancária, mas tem agência e o posto lá dos Correios e que funciona o correspondente bancário. E a gente sabe também que o serviço postal é um serviço público. É uma prestação de serviço público. Em quase todo o mundo, postal é estatal e público."
Na audiência pública, o presidente dos Correios, Guilherme Campos, disse que não é intenção do governo privatizar a empresa, mas deixou claro que é preciso mudar a forma de atuação para priorizar o setor de logística.
O deputado Angelim (PT-AC), autor do pedido de audiência pública, anunciou que vai protocolar um pedido de criação de uma comissão especial para tratar da crise da empresa.