31/08/2016 08:31 - Política
Radioagência
Senadores antecipam voto durante julgamento do impeachment
Senadores antecipam voto em discursos veementes no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff. Cerca de 60 senadores se inscreveram para a discussão final do processo. Os pronunciamentos se prolongaram pela madrugada desta quarta-feira, por cerca de 12 horas. Informalmente, cerca de 40 senadores defenderam o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência da República; um pouco menos de 20 se manifestaram contra o impeachment. Na votação final, Dilma precisa dos votos de, pelo menos, 28 dos 81 senadores para barrar o impeachment e voltar a comandar o país. Já Michel Temer precisa de, pelo menos, 54 votos para deixar de ser interino e tornar-se, definitivamente, presidente da República, com posse prevista para a tarde de hoje. Vamos ouvir o que alguns senadores disseram durante a discussão.
O relator do processo de impeachment, Antônio Anastasia, do PSDB mineiro, repetiu argumentos técnicos para reafirmar que Dilma cometeu crime de responsabilidade por fraudes fiscais nas chamadas "pedaladas" e na edição de decretos de crédito extraordinário.
"A meu juízo, os crimes de responsabilidade ocorreram e temos a possibilidade e a necessidade da votação pela conclusão desse processo e a apenação de acordo com o que está na Constituição da República, dada a ocorrência dos crimes de responsabilidade".
Para contestar essa tese, o senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, fez um discurso veemente, com analogia entre contextos históricos e atuais.
"'Canalha, canalha!' Assim Tancredo Neves apostrofou Moura Andrade, que declarou vaga a presidência com Jango ainda em território nacional, consumando assim o golpe de 1964. Não são as pedaladas ou a tal irresponsabilidade fiscal que a excomungam. O próprio relator da peça acusatória praticou-as. Só que lá, em Minas, não havia um providencial e desfrutável Eduardo Cunha, nem um centrão querendo sangue e salivando por sinecuras e 'pixulecos'".
Também veemente, o ex-presidente da República Fernando Collor de Melo, hoje senador pelo PTC de Alagoas, comparou o atual processo de impeachment com aquele do qual ele foi alvo 24 anos atrás. Collor declarou voto favorável ao afastamento definitivo de Dilma Rousseff.
"Em 1992, forças conjugadas simularam uma crise política de governabilidade. Mesmo eleito democraticamente, me condenaram politicamente em meio a tramas e ardis. Mas penalmente, na correta instância, me absolveu a Suprema Corte. Hoje a situação é completamente diversa. Além da infração às normas orçamentárias e fiscais, o governo afastado transformou a sua gestão em uma tragédia anunciada. Esse é um contexto que, outrora, até poderia ensejar um golpe de estado clássico para solucionar, em curto prazo, uma aguda crise política. Não foi o caso".
A senadora Vanessa Graziottin, do PC do B do Amazonas, rebateu a tese de Collor.
"Eu voto ‘não’ porque eu não estou em um tribunal de exceção e porque sou contra golpe parlamentar. Voto ‘não’ à usurpação da soberania popular. Querem, a toda força, voltar a aplicar o projeto neoliberal, projeto nocivo ao Brasil".
Houve também quem não declarasse o voto explicitamente durante o discurso. Foi o caso do senador Acir Gurgacs, do PDT de Rondônia, que defendeu a necessidade de união e conciliação, seja qual for o resultado da votação do impeachment.
"Chegou a hora de todos nós, independentemente de partidos, nos unirmos pelo nosso país. A população quer mais empregos, trabalho e renda. O país quer andar e nós aqui paralisados por uma crise que é política".
Ao longo da discussão, os senadores usaram argumentos técnicos, mas a predominância foi de aspectos políticos do julgamento de Dilma. Também houve citações históricas, religiosas e até musicais nos discursos dos senadores. A sessão será retomada às 11 da manhã, com a leitura dos fundamentos da defesa e da acusação, o encaminhamento dos votos e a votação final, que será nominal, por meio do sistema eletrônico.