24/05/2016 21:38 - Direito e Justiça
Radioagência
Atlas da Violência 2016: especialistas apontam existência de genocídio de jovens negros no Brasil
Participantes de audiência pública para discutir os resultados do Atlas da Violência 2016, que mostra o Brasil como campeão no número absoluto de homicídios no mundo, apontaram existência de genocídio de jovens negros no Brasil. O estudo, divulgado em março, revelou que o Brasil atingiu a marca recorde de quase 60 mil homicídios em 2014.
De acordo com o técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Daniel Cerqueira, que analisou os dados da pesquisa, os homicídios no Brasil não são democráticos ou iguais.
"A gente sabe que, sobretudo, eles acometem uma determinada classe social. São jovens, são negros, são negros, baixa escolaridade, até sete anos de estudo, mortos, em grande parte, nos finais de semana, entre oito e meia noite. A gente sabe exatamente os bairros em que essas pessoas morrem e continuam morrendo."
Cerqueira afirmou que a violência brasileira está concentrada em bairros pobres onde faltam políticas públicas.
O professor de História e Sociologia da rede pública estadual de São Paulo e membro da UNEafro Brasil, Douglas Belchior, afirmou que o Brasil ainda não enfrentou o problema do racismo como estrutura de repressão.
"A denúncia do genocídio e a denúncia do Estado, da hegemonia racial branca, organizada a partir do ódio aos negros e organizada a partir da ideia que as políticas de segurança pública devem existir para combater o risco da sua boa vida, isso é permanente no Brasil.”
Para Belchior, a proposta de instituir uma política nacional de enfrentar o genocídio da juventude negra é uma das formas para enfrentar a natureza racista do Estado brasileiro.
O presidente da comissão, deputado Reginaldo Lopes, do PT mineiro, defendeu a aprovação das propostas apresentadas pela CPI do extermínio de jovens negros. Segundo ele, com o atual Congresso de perfil conservador, os textos só passarão com apoio da sociedade civil, em especial do movimento negro.
"Se o plano nacional der certo, vamos preservar 600 mil vidas em dez anos. 600 mil vidas! Nós não estamos falando de número estatístico frio não, estamos falando de sonhos, de comunidades, de esperança. Então, nesse sentido, eu acho que o movimento precisa incorporar a agenda."
Já o deputado Subtenente Gonzaga, do PDT mineiro, defendeu que os policiais militares também participem da discussão para redução efetiva das mortes.
"Eu, como policial militar que sou, tenho a clareza da necessidade de aprofundar esse debate, da importância de enquanto trabalhadores termos a coragem de fazer a nossa defesa, mas também de dialogar com responsabilidade com os outros setores, com as vítimas.”
Eles participaram de audiência da comissão especial da proposta (PL 2438/15) que cria o Plano Nacional de Enfrentamento ao Homicídio de Jovens, com duração de 10 anos. A proposta foi apresentada no ano passado, ao término dos trabalhos de uma CPI que investigou casos de violência contra jovens negros e pobres no País.