24/05/2016 21:36 - Educação
Radioagência
Artistas afirmam que ocupação em defesa do Ministério da Cultura continua
Em audiência na Câmara, artistas anunciam que prédios públicos continuarão ocupados em defesa do Ministério da Cultura. Presença dos deputados Feliciano e Bolsonaro causou tumulto na reunião. A Comissão de Cultura da Câmara debateu, nesta terça-feira, a extinção (MP 276/06) e posterior recriação (MP 278/16) do Ministério da Cultura no governo interino de Michel Temer.
A extinção fazia parte da reforma ministerial, mas os protestos veementes de artistas e as ocupações de órgãos culturais levaram Temer a rever a ideia inicial. No entanto, movimentos de artistas populares e de trabalhadores da cultura classificam o governo interino de "golpista" e se negam a negociar com o novo ministro Marcelo Calero, que tomou posse nesta terça. Representante da Frente Nacional de Teatro, Fernando Yamamoto anunciou que as ocupações ocorrem em prédios da Funarte ou do Iphan em todo o país e serão mantidas.
"São ocupações pacíficas, poéticas e afetivas, com uma clara posição de contraponto ao caráter policialesco, intolerante e violento do discurso e dos atos desse governo interino.”
Os músicos Tico Santa Cruz e Silvério Pontes e a líder indígena Sônia Guajajara também participaram da audiência pública. Outros artistas manifestaram preocupação com o destino do Iphan diante da criação da secretaria especial do patrimônio histórico e artístico nacional. Eles temem que o novo órgão seja uma brecha para flexibilizar os critérios de avaliação de patrimônio cultural e, assim, beneficiar a especulação imobiliária.
A deputada Jandira Feghali, do PC do B fluminense, admite que a recriação do Ministério da Cultura dividiu a classe artística, mas ressaltou que as conquistas do setor só serão mantidas por meio de resistência.
"Neste momento, o diálogo é por aqui: pela luta, resistência e ocupações, e não legitimar junto ao ministro da Cultura desse governo ilegítimo. A volta do MinC não é a volta das políticas que lutamos anos para conquistar e ainda faltavam muitos avanços, que foram interceptados no meio do caminho.”
A reunião ficou tumultuada e tensa quando os deputados Pastor Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro, todos do PSC, entraram no plenário lotado de artistas e trabalhadores culturais. Os três foram chamados de "golpistas e fascistas". Houve provocações mútuas e policiais legislativos foram mobilizados para proteger os deputados. Feliciano criticou os manifestantes e disse que vai pedir CPI para investigar o ministério.
“A CPI da Lei Rouanet está incompleta. Apresentei uma nova CPI para que seja aditada a essa e vai ver os convênios do Ministério da Cultura com algumas ONGs, porque artistas de verdade, que precisam de dinheiro, não conseguem e não têm acesso fácil aos convênios da Lei Rouanet. Eu sou artista: sou cantor, tenho três CDs gravados e 20 livros escritos. Eu sei como funciona a cultura. Isso aqui não é cultura, isso é baderna.”
Já a representante do Movimento Ocupa MinC Brasil, Marina Brito, contou com a ajuda da plateia para, em forma de jogral, dar a resposta dos artistas.
"Antes de tudo, não aceitamos governo golpista, comandado por homens, brancos, elitistas, fascistas, empresários e agitadores religiosos intolerantes. Cultura não combina com conservadorismo. Nenhum direito a menos.”
O presidente da Comissão de Cultura da Câmara, deputado Chico D'Angelo, do PT fluminense, manifestou o apoio do colegiado aos artistas.
"Nós estamos há duas semanas à frente desta comissão. E esta comissão certamente será uma trincheira de resistência da cultura brasileira.”
Em sua posse, nesta terça, o novo ministro disse que pretende trabalhar de forma transparente e com diálogo, preservando conquistas.