23/05/2016 21:18 - Política
Radioagência
Votação da nova meta fiscal coincide com primeiro dia de afastamento do ministro do Planejamento
A votação da nova meta fiscal do governo, prevista para esta terça-feira, vai coincidir com o primeiro dia de afastamento justamente do ministro encarregado de fazer com que os gastos do governo caibam no orçamento da União: o ministro do Planejamento, Romero Jucá.
Jucá anunciou que vai se licenciar do cargo até que o Ministério Público diga se há crime na conversa, divulgada pelo jornal Folha de São Paulo, entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Na conversa, de acordo com o jornal, o ministro propõe uma espécie de pacto, que envolveria políticos e até ministros do Supremo Tribunal Federal, contra a Operação Lava Jato.
O anúncio foi feito por Jucá minutos depois que o presidente em exercício, Michel Termer, entregou ao presidente do Senado, Renan Calheiros, o projeto que altera a meta orçamentária que o governo tem que cumprir este ano e que prevê um déficit recorde de 170,5 bilhões de reais, o maior da história.
Logo depois da reunião, Jucá disse que pediria licença do cargo para que a suspeita de obstrução da Justiça não atingisse o governo.
Pela manhã, ele tinha alegado que estava se referindo à economia e não à Operação Lava Jato na conversa. Mas o ainda ministro admitiu que poderia voltar ao cargo, dependendo da resposta do Ministério Público e da vontade de Temer:
"Eu não quero que paire nenhuma dúvida sobre o governo ou sobre o meu comportamento. Eu poderia ficar. O presidente me deu um voto e confiança, mas eu não quero servir de massa de manobra para o atraso tentar voltar a este país. Então eu prefiro pedir ao Ministério Público, aguardar com tranquilidade a manifestação do Ministério Público e a partir daí tomaremos outra decisão."
Antes de anunciar que deixaria o ministério, Jucá participou da reunião entre Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros, no gabinete da presidência do Senado, junto com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e parlamentares da base governista.
Temer, os ministros, parlamentares da base aliada e até o presidente do Senado foram recebidos aos gritos de "golpistas" por manifestantes que se misturaram às dezenas de jornalistas, cinegrafistas e fotógrafos que se aglomeravam diante da presidência do Senado.
A manifestação contou com a presença de parlamentares do PT. A deputada Moema Gramacho, da Bahia, pedia a prisão de Jucá e chegou a ser abordada por seguranças do Senado, que apreenderam os cartazes exibidos por ela contra o governo Temer. Ela cobrou o mesmo tratamento dado ao senador Delcídio do Amaral, preso sob a acusação de obstrução da Justiça.
Outro deputado do PT, Paulo Pimenta, do Rio Grande do Sul, disse que a gravação vai embasar um pedido de anulação do processo de impeachment de Dilma Rousseff:
"Revelam mais uma ilegalidade. Revelam tráfico de influências, chantagem em troca de votos para o processo do impeachment."
Ele disse ainda que o PT vai obstruir a votação da alteração da meta fiscal.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, não quis comentar o teor das conversas entre Jucá e Sérgio Machado. Ele alegou que não leu os diálogos e disse que esse caso não vai interferir na votação da alteração da meta fiscal:
"Não vejo relação. Olha, sinceramente, eu não vejo nenhuma relação. O que está em jogo é a necessidade de nós reduzirmos a meta fiscal para que este governo não entre na ilegalidade que o outro entrou."
O deputado Beto Mansur, do PRB de São Paulo, que é da base de apoio ao governo, também não quis misturar os dois assuntos: a votação da alteração da meta fiscal e a crise causada pela divulgação das conversas entre Romero Jucá e Sérgio Machado.
Mansur considerou positivo o presidente em exercício entregar a proposta pessoalmente ao presidente do Congresso e disse que é fundamental a aprovação da proposta:
"Nós vamos ter um déficit, ou seja, estamos gastando mais do que estamos arrecadando neste ano, de R$ 170,5 bilhões. Essa é a verdade. Mesma coisa que a dona de casa, o chefe de família. Quando está gastando mais, tem que economizar. E nós vamos ter que cortar na carne. Essa é a verdade."
A meta fiscal, enviada ao Congresso pela presidente afastada Dilma Rousseff, prevê um déficit de R$ 96 bilhões no orçamento deste ano.
O governo Temer recalculou os gastos e estimou que o déficit será bem maior, de R$ 170,5 bilhões. Mas o Congresso tem que aprovar a alteração até o dia 30 de maio para que os gastos acima da meta atual não sejam considerados ilegais.