16/02/2016 22:01 - Segurança
Radioagência
Deve haver "mudança cultural" para se combater assédio sexual na internet, diz deputado
A média de idade de vítimas de assédio sexual é de cerca de 10 anos. A conclusão é da ONG Think Olga, que debate temas feministas. Segundo a criadora da campanha "hashtag" #PrimeiroAssédio, Juliana de Faria, em menos de 5 dias, mais de 80 mil pessoas se manifestaram, contando os casos de assédio que vivenciaram na infância ou na adolescência.
Juliana participou, nesta terça-feira, de audiência da CPI dos Crimes Cibernéticos para dicutir o assédio sexual a crianças nas redes sociais. Ela disse que a campanha Primeiro Assédio foi lançada, após o episódio envolvendo uma participante do reality show MasterChef Júnior, da Band. A menina de 12 anos foi alvo de comentários de cunho sexual nas redes sociais no ano passado.
O levantamento da ONG foi feito com base em 3 mil mensagens no Twitter e a idade média de 9,7 anos para vítimas de assédio é considerada alarmante, segundo Juliana de Faria. Conforme avalia, esse dado revela que a sociedade está sexualizando as meninas muito cedo e as consequências podem se refletir em traumas na fase adulta. Juliana de Faria diz que o caminho para evitar esse tipo de assédio passa por uma mudança de cultura.
"Existem papéis para essa missão em cada um de nós. Como ONG, a nossa luta é conscientizar. A gente precisa mostrar que isso é uma violência. Eu sei que parece que isso que estou falando é uma obviedade, mas quando a gente começou a campanha Chega de Fiu Fiu, sobre assédio sexual, 3 anos atrás, as pessoas batiam no meu ombro e falavam: como você é exagerada, isso é só uma cantada. Ainda existe essa mentalidade de que isso não é uma violência e para a gente poder chegar a uma solução é compreendermos todos que é uma violência e nós, que somos vítimas, precisamos nos enxergar também como vítimas."
Diretora da campanha Manda Prints, promovida pela mesma ONG, Maíra Liguori, explicou que objetivo é combater a violência online contra a mulher. A ideia é colocar o tema em evidência e divulgar as informações e procedimentos para a proteção das vítimas. De acordo com Maíra Liguori, a tendência, nesse tipo de crime, é culpar a própria vítima.
"Quando a gente fala de crime online, a gente está falando de vazamento de fotos íntimas ou de agressão verbal e ameaças e comentários. Quando a gente fala, principalmente de vazamento de fotos, a gente, normalmente, culpa a vítima. A gente diz: quem mandou ela fazer essa foto, quem mandou ela mandar para o namorado? A gente não está olhando para o verdadeiro criminoso que é o cara que vazou essas imagens."
Maíra Liguori disse ainda que a legislação precisa ser discutida para que as redes sociais também sejam responsabilizadas. Ela também apela para que órgãos do poder público, como delegacias, tenham treinamento adequado na hora de receber esse tipo de denúncia. Segundo Maíra, o primeiro procedimento recomendado no caso de ataque pela internet é a impressão da tela com a ofensa e até o registro do documento em cartório para que se tenha uma prova na hora de denunciar o crime.
Vice-presidente da CPI dos Crimes Cibernéticos, o deputado Leo de Brito (PT-AC) reafirmou a importância de uma mudança cultural e de ações do poder público no combate ao assédio.
"Trabalhar uma cultura de dignidade, de respeito às mulheres. Não necessariamente nós vamos trabalhar do ponto de vista de uma perspectiva de enrijecer a legislação penal, mas de como a gente pode trabalhar políticas públicas que possam enfrentar esse tipo de situação."
O prazo para o encerramento dos trabalhos da CPI está previsto para 14 de março. Segundo o deputado, serão realizadas no máximo mais duas audiências, antes da votação do relatório.