27/08/2015 19:05 - Trabalho
Radioagência
Líderes partidários batem boca sobre investimentos de fundo de pensão
Divergências sobre influência partidária marcam investigação de CPI sobre prejuízos no fundo de pensão dos servidores da Caixa. O presidente do Funcef, Carlos Alberto Caser, prestou depoimento por seis horas, nesta quinta-feira, na CPI dos Fundos de Pensão, para explicar as suspeitas de má gestão e investimentos de risco que teriam levado o fundo a acumular deficit de R$ 5,5 bilhões nos últimos anos. Caser preside o Funcef desde 2011 e atribuiu os prejuízos a desvalorizações sucessivas nos principais investimentos do fundo, como os ativos da Vale e as aplicações na Bolsa de Valores de São Paulo. Apesar de filiado ao PT, garantiu que não sofre influência política na orientação dos investimentos e que o fundo tem liquidez suficiente para garantir o pagamento de benefícios aos servidores da Caixa.
"Nenhum diretor da fundação (Funcef) pode solitariamente decidir qualquer tipo de investimento. As decisões são colegiadas. Temos 64 normas que cuidam especificamente de governança, investimentos imobiliários e investimentos mobiliários".
No entanto, o relator e sub-relatores da CPI citaram uma série de investimentos considerados de risco, que, segundo eles, ajudaram a aprofundar o deficit do Funcef. Entre esses investimentos, há alguns que foram alvo da operação Lava Jato da Polícia Federal, como o aporte de recursos na Sete Brasil, empresa de investimento criada com o aval da Petrobras para explorar negócios em torno do pré-sal; e na Bancoop, fundo da cooperativa habitacional dos bancários de São Paulo, que já foi presidida pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso na Lava Jato. Frisando que os recursos do Funcef pertencem aos servidores da Caixa, o deputado Marcus Pestana, do PSDB mineiro e um dos sub-relatores da CPI, criticou os investimentos.
"Esses investimentos desafiam um pouco a lógica. O deficit atuarial está apontado: tem seus motivos estruturais, mas tem alguns de gestão".
Líderes de oposição afirmaram não haver dúvidas quanto à influência do PT no Funcef a fim de beneficiar projetos de interesse do governo federal. Alguns líderes, como o deputado Rubens Bueno, do PPS, defendeu o afastamento imediato de Caser.
"A sua trajetória é a mesma de João Vaccari Neto, trajetória do sindicato dos bancários. Em um país sério, o senhor não estaria nem um dia a mais na sua função como presidente. O senhor terá de ser julgado pelos prejuízos que causa ao Brasil".
Também provocou bate-boca na CPI a afirmação de Caser sobre contribuição (R$ 13 mil), como pessoa física, para a campanha eleitoral da deputada Érika Kokay, do PT do Distrito Federal. O deputado Sóstenes Cavalcante, do PSD fluminense, chegou a questionar a participação da deputada na audiência pública. Integrante da CPI, Érika Kokay disse se orgulhar de ter a sua campanha transparente e legalmente financiada apenas por pessoas físicas, a maioria deles bancários, como ela e Caser. A deputada criticou a oposição, em maioria na CPI, de partidarizar a discussão e ignorar que os investimentos dos fundos de pensão são de longo prazo, com grande perspectiva de retorno financeiro no futuro. Kokay ressaltou ainda que a gestão de Caser ajudou o patrimônio do Funcef a subir de R$ 9 bilhões, em 2003, para quase R$ 56 bilhões, neste ano.
"Não existe nenhuma ação que esteja sendo impetrada contra o depoente, nem um auto de infração. O depoente está sendo acusado porque é filiado ao Partido dos Trabalhadores. É preciso que tiremos daqui essa tentativa de criminalização do PT e possamos nos dedicar às medidas que estão sendo tomadas para que tenhamos mais segurança no processo de investimento".
Na próxima semana, a CPI dos Fundos de Pensão vai ouvir os dirigentes dos fundos de pensão dos servidores da Petrobras, o Petros, e do Banco do Brasil, o Previ.