31/03/2015 20:32 - Administração Pública
Radioagência
CPI da Petrobras: ex-gerente nega propina e comissão convoca Vaccari
Em sete horas de depoimento à CPI da Petrobras, o ex-gerente geral da Refinaria Abreu e Lima Glauco Legatti negou ter recebido propina de uma empreiteira e irritou os deputados da comissão ao defender os procedimentos adotados pela empresa nas contratações. Legatti foi acusado por um dos delatores da Operação Lava Jato, o engenheiro Shinko Nakandakari, de ter recebido R$ 400 mil em propina da empresa Galvão Engenharia. Legatti afirmou na CPI que Nakandakari disse isso para justificar ter ficado com o dinheiro da propina.
"Isso é uma suposição minha: ele continuava recebendo da empresa e precisava falar que ele tinha contatos na empresa e tudo o mais. Então, eu fui usado para que ele pegasse dinheiro da empresa e embolsasse o dinheiro."
O ex-gerente trabalhou no projeto e coordenou a obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que teve um custo inicial previsto em 2 e meio bilhões de dólares, orçamento que depois chegou a 18 bilhões de dólares. Ele disse que o valor de 18 bilhões não é real e se deve a diferenças no câmbio. Ele sustentou que não houve superfaturamento na obra.
"Não tem superfaturamento na obra, senhor deputado. Superfaturamento é quando eu digo que uma coisa custa 10 e eu vendo por 15. Aqui são custos reais incorridos na obra. Não tem um centavo pago que não tem um serviço em contrapartida."
As declarações de Legatti não convenceram os deputados. Um dos sub-relatores da CPI, o deputado Altineu Cortes, do PR do Rio de Janeiro, não escondeu a irritação.
"Eu não consigo acreditar que o senhor não viu nada acontecendo ali. Todo mundo abaixo do senhor, ninguém sabia de nada. E o senhor, como gerente com 35 anos de Petrobras, o senhor foi o técnico da Renest."
Ao final do depoimento, o presidente em exercício da comissão, deputado Antonio Imbassahy, do PSDB da Bahia, causou polêmica ao antecipar o depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O relator da CPI, deputado Luiz Sérgio, do PT do Rio de Janeiro, queria que Vaccari fosse ouvido apenas no final de abril e acusou o vice-presidente de querer inflar, com o depoimento, uma manifestação contra o governo prevista para o dia 12 de abril.
"Os partidos precisariam começar a ser ouvidos a partir do depoimento de empresários. Eu acho que nós estamos quebrando uma lógica processual, mas se é para fazer agitação política, eu entendo que não precisaríamos de uma CPI."
O deputado Antonio Imbassahy foi pressionado pela bancada do PT para marcar o depoimento de Vaccari para o dia 14, depois da manifestação, mas manteve a data.
"O fato é que eu não vejo muita diferença entre a minha proposta de ouvir o Vaccari no dia 9 e a proposta do relator e do próprio PT em ouvir o Vaccari dia 14. Portanto, eu não vejo que a CPI possa introduzir nenhum elemento novo nesta manifestação."
O próximo depoimento da CPI será na próxima terça-feira (7). A comissão vai ouvir Hugo Repsold, diretor da Petrobras responsável pela construção do gasoduto Gasene, que liga a Bahia ao Espírito Santo.