Radioagência

Em quase sete horas de depoimento à CPI da Petrobras, a ex-presidente da empresa, Graça Foster, disse que a corrupção na estatal não era generalizada e que só foi informada a respeito de cobrança de propina por parte de diretores com o início da Operação Lava Jato, no ano passado. Ela foi ouvida pela comissão como testemunha, sob o compromisso de dizer a verdade, e defendeu a empresa.

"A partir do momento em que eu não sabia, como diretora e como presidente, e passei a ter as informações depois da Operação Lava Jato, eu não posso caracterizar a corrupção como sistêmica, institucionalizada."

Foi a quinta vez que Graça Foster foi ao Congresso explicar suspeitas de irregularidades na Petrobras. Ela disse que a Lava Jato fez um grande bem à empresa, já que a partir daí foram adotados mecanismos de controle preventivos. Ela explicou aos deputados negócios que são investigados hoje pela Polícia Federal, como a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A ex-presidente disse que, analisando a compra hoje, pode dizer que foi um mal negócio, principalmente porque o lucro estimado inicialmente não aconteceu, já que o preço mundial do petróleo caiu. Ela falou ainda das indicações dos diretores investigados por recebimento de propina, como Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró. E negou conhecer o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, também apontado como destinatário de propina.

"Eu não sei quem indicou Renato Duque, eu não sei quem indicou Paulo Roberto, eu não sei quem indicou Cerveró. E o senhor Vaccari eu nunca vi em lugar nenhum."

Graça Foster admitiu que muitos projetos da Petrobras acabaram custando muito mais que o previsto inicialmente por causa da deficiência dos projetos básicos. Isso explicava os muitos aditivos contratuais que multiplicavam os preços, o que aconteceu, por exemplo, na construção da refinaria Abreu e Lima. A obra, prevista para custar 2 bilhões de meio de dólares, chegou a 18 bilhões no final.

"Se nós sabemos o que vamos construir, se tem um projeto básico de qualidade, nós podemos trabalhar com faixas menores."

O depoimento de Graça Foster deixou satisfeito o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio, do PT do Rio de Janeiro.

"Ela trouxe esclarecimentos importantes. A sua convicção de que a corrupção foi um conluio entre ex-diretores, empresas, mas que ocorreram de fora para dentro da Petrobras eu acho que isso vai conformando um juízo de valor acerca dessa questão."

Na próxima terça-feira (31), a CPI vai ouvir o depoimento do ex-gerente geral da Refinaria do Nordeste Glauco Legatti. Ele foi acusado pelo engenheiro Shinko Nakandakari, um dos delatores da Operação Lava Jato, de ter recebido propinas. Também na semana que vem deve ser marcada a data do depoimento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e pode ser votado o pedido de convocação do empresário Fernando Soares, apontado como operador do PMDB pela Polícia Federal e Ministério Público.