Segurança

Mãe de adolescente morto na Maré em operação da Força de Segurança Nacional pede justiça

12/07/2018 - 18:21  

Em audiência na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11), Bruna Silva, mãe do adolescente Marcos Vinícius Silva, morto na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, em 20 de junho, pediu uma investigação séria do caso e que se faça justiça. Ele tinha 14 anos e foi morto durante operação das forças de segurança que atuam na intervenção no Rio.

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre as circunstâncias da morte do estudante Marcus Vinícius, 14 anos, no Complexo da Maré/RJ, em 20 de junho de 2018, quando ele ia uniformizado para a escola. Mãe do Estudante Marcus Vinícius, Bruna Silva
Bruna Silva fez um relato emocionado dos últimos momentos com o filho, Marcos Vinicius, e pediu justiça

Sete pessoas foram mortas e duas crianças ficaram feridas durante a operação realizada pela Força de Segurança Nacional, em conjunto com a Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Mais de 100 policiais, com o apoio de forças do Exército e da Polícia Judiciária Nacional, teriam participado da ação, que teve como objetivo, além do combate ao tráfico de drogas na região, encontrar os suspeitos de envolvimento na morte do inspetor chefe da Delegacia de Combate às Drogas de Acari.

O adolescente Marcos Vinícius Silva estava a caminho da escola quando foi baleado pelas costas. Ele chegou ainda com vida ao atendimento médico, mas não resistiu.

Em depoimento emocionado, Bruna Silva relatou o caso. "O meu filho lutou, ele lutou para viver. A pressão do meu filho subia, descia, quando descia eu e o pai caíamos em desespero. Daqui a pouco subia, eu falava no ouvidinho dele: vai, meu filho, reage. Você é um guerreiro."

Ela repetiu as palavras finais do adolescente. "Ele disse: mãe, não vai trabalhar, fica comigo. Mãe, o blindado me deu um tiro. Eles não me viram com roupa de escola, mãe?"

Bruna fez um relato sobre a vida difícil que a família sempre teve, com muito trabalho e pouco acesso aos estudos. "Eu trabalhava no lixão do Caju. Eu revirava lixo podre, dos outros, para pegar uma garrafa pet, uma garrafa de óleo reciclável para poder levar o sustento para a minha casa. Eu já saí do lixão do Caju com vinte, com trinta reais, mas eu saía de lá feliz."

Ela também falou da dor que tem de ser superada. "É muito triste eu chegar na minha casa e eu não ter o lado alegre, o lado extrovertido mais dentro da minha casa. A minha casa agora é um museu, é um mausoléu."

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Para Bruna, não há espaço para o luto. "Eu pulei do meu luto para a luta. Porque, se eu tivesse luto, o Estado iria encontrar uma mãe drogada de remédio, se descabelando, batendo a cabeça na parede."

Durante a audiência pública, ela fez uma acusação. "Foi o Estado do Rio de Janeiro que assassinou o meu filho. Eu falo isso, não com raiva, com ódio, não. Eu estou chamando eles de assassinos para ver se eles mudam de conduta. Gente, que policial mira numa criança? Não se mira em criança. A criança não é o mal do amanhã, não, eles são o futuro de amanhã."

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ), que propôs a audiência, se sensibilizou com as declarações de Bruna Silva. "Quando a gente consegue, em meio à maior dor que o ser humano pode vivenciar, ter essa lucidez, essa clareza, essa indignação que não é raivosa - a raiva parece que é o produto mais cotidiano dos nossos tempos -, você revela uma grandeza incomum. Uma dor assim pungente não há de ser inutilmente", disse.

Chico Alencar informou que as comissões externas que acompanham as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco e a intervenção federal na segurança pública do Rio também vão cobrar a elucidação desse crime.

Reportagem – Newton Araújo
Edição – Ana Chalub

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