Segurança

Combate à morte de jovens passa por integração de polícias, diz secretário do DF

10/06/2015 - 13:30  

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Audiência Pública e Reunião Ordinária
CPI da Violência Contra Jovens Negros e Pobres debateu o tema com integrantes da cúpula da segurança pública no Distrito Federal.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Contra Jovens Negros e Pobres ouviu, nesta terça-feira (9), representantes de órgãos da Segurança Pública do Distrito Federal (DF).

Durante a audiência, o secretário de Segurança Pública do DF, Artur Trindade, defendeu um pacto federal de combate à violência. “Se a unificação das forças de segurança não é possível, a integração é uma necessidade.”

Para Trindade, o enfrentamento depende de políticas tanto na área de segurança, de maneira mais reativa, quanto na área de prevenção ao crime, com investimentos sociais em educação, saúde e bem estar. “Nenhuma sociedade conseguiu reduzir suas taxas de homicídio atuando em apenas uma dessas frentes”, disse.

Homicídios
Em relação ao caso específico do DF, Trindade disse que a taxa de homicídios é alta e estável há mais de 20 anos – 24 para cada 100 mil habitantes. A peculiaridade, entretanto, está no fato de que, no DF, os homicídios são parte de um fenômeno que junta questões geográficas e raciais.

“Um elemento muito importante é que essas mortes se concentram em alguns bairros e vitimam principalmente a população jovem negra”, disse Trindade. “Oito áreas administrativas do DF somam 202 bairros, e 22 deles respondem por 70% das mortes.”

Trindade disse ainda que o desempenho das policias na investigação de homicídios ainda é baixo. “Não se deixa de investigar porque é branco ou negro. Mas alguns bairros concentram homicídios e não necessariamente concentram o empenho em investigar e resolver esses homicídios”, ressaltou. Ele informou que na região do entorno de Brasília a taxa de elucidação de homicídios não ultrapassa 8%.

Assassinato
A audiência para debater número de homicídios no DF foi sugerida pelo presidente da CPI, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), e pela deputada Erika Kokay (PT-DF), logo após o assassinato do jovem de 27 anos Cristiano Alves dos Santos em Ceilândia – cidade a 30 quilômetros de Brasília. Negro e de família humilde, Cristiano foi morto pelas costas com três tiros em frente a uma padaria.

Diretor da Polícia Civil do Distrito Federal, Eric Seba de Castro destacou que as pessoas estão matando por qualquer coisa. Para ele, falta investimento em ensino básico e técnico para os jovens, além de apoio no enfrentamento a questões sociais, como a dependência química e o tráfico de drogas. “Se não for assim, nós da segurança pública continuaremos sendo aparadores de tudo o que não deu certo na sociedade.”

Castro informou que o inquérito sobre o assassinato de Cristiano já foi concluído, com o indiciamento do autor e do funcionário da padaria que teria fornecido a arma de fogo. E ressaltou que a maioria das mortes de jovens negros e pobres no DF não decorre de confronto com a polícia.

Pacto federativo
Segundo o presidente da CPI, o assassinato de Cristiano reflete o perfil dos homicídios praticados no DF: sete jovens negros assassinados para cada um branco. “Se conseguirmos reduzir a taxa de homicídios de jovens negros para as taxas de jovens brancos, certamente chegaremos a números próximos de países desenvolvidos”, disse Lopes.

Lopes considera fundamental discutir um novo pacto federativo para a área de segurança pública, além de ações concretas de combate à violência. “Não estaremos sendo ousados se não fizermos um pacto para reduzir para um dígito as taxas de homicídios no País em 10 anos”, acrescentou Lopes.

Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que ocorreram 32,4 assassinatos por 100 mil habitantes no Brasil em 2012. O índice é quase cinco vezes a média mundial (6,7) e nove vezes a média do grupo de países ricos (3,8).

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Newton Araújo

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