Segurança

Familiares das vítimas da boate Kiss enfrentam morosidade da Justiça

10/02/2014 - 11:32  

Prefeitura de Santa Maria/João Vilnei
Cidades - Catástrofes - Incêndio Santa Maria Janeiro 2013 boate Kiss
Flores na calçada em frente à boate lembram os mortos na tragédia.

Além da demora da aprovação do projeto, os familiares das vítimas da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria (RS), ainda precisam enfrentar a morosidade da Justiça. Dois processos criminais contra oito réus estão em andamento. Quatro são acusados de homicídio doloso e por tentativa de homicídio, outros quatro, por falso testemunho e fraude processual.

Para Ogier Vargas Rosado, pai do jovem Vinícius Rosado, de 22 anos, um dos 242 mortos na tragédia, a lentidão da Justiça não surpreende. Na sua avaliação, as investigações ficaram a desejar.

"Sabemos que ainda existe no Brasil um Código Penal muito brando, que é arcaico, que está ultrapassado. Enquanto ele não for reformulado, ainda vai acontecer isso”, lamenta Ogier. “A única coisa que eu sinto, pessoalmente, como pai, é que o inquérito foi muito rápido, foi feito em 55 dias, poderia levar mais tempo: a Justiça nos diz que precisa de provas contundentes, se não tiver provas contundentes, não consegue punir ninguém.”

Culpados libertados
Ele ressalta que as quatro pessoas que estavam denunciadas como culpadas foram libertadas. “Agora está na fase de oitiva, estão ouvindo, isso vem se arrastando. Eu também pessoalmente sinto que quando a polícia fez a investigação, centrou mais no município, mas o estado foi pouco citado. Da própria União ninguém fala”, ressalta Ogier.

Câmara Municipal de Santa Maria / Cristian Cunha
Provisória - Ogier Vargas Rosado, pai do jovem Vinícius Rosado, que morreu no incêndio da boate Kiss
Depois de perder o filho na tragédia, Ogier Rosado fundou a associação 'Ahh Muleke'que faz trabalhos sociais.

“Porque a causa mortis dos nossos filhos foi uma espuma [que recobria as paredes da boate] e, até hoje, ninguém fala quem libera a espuma no País, se o Ministério das Minas e Energia, se o Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia], se a fábrica que produz essa espuma... Isso também não foi citado", observa.

Punição dos responsáveis
A forma que Ogier Rosado encontrou para superar a tragédia familiar, foi lutar pela punição dos responsáveis, pela aprovação de leis mais rigorosas e no exemplo do próprio filho, que antes de morrer, salvou 14 pessoas.

Ele ressalta "a força da minha família, da minha esposa, da minha filha, que estava na boate e conseguiu sair, a história do meu filho, da história de vida dele, pelo que ele fez naquela noite, porque ele saiu da boate, ele estava lá fora, ele voltou”.

“Segundo informações que se tem, e isso foi dito nos autos do processo e por amigos, ele salvou 14 pessoas, tirou 14 pessoas até não resistir mais e perecer... E, então, se ele não desistiu naquela noite, se ele voltou e ajudou as pessoas, eu não posso desistir. Claro, eu sou um cara bem racional, eu tento fazer dessa tragédia uma maneira de ajudar as pessoas", acrescenta.

Dep. Pedro Uczai (PT-SC)
"O sofrimento continua", lamenta Pedro Uczai.

Deputado perdeu sobrinha
Já o deputado Pedro Uczai (PT-SC) perdeu uma sobrinha na tragédia: "O que, pra mim, está muito forte ainda é a convivência familiar que, aparentemente, um mês, dois, três meses passaria o sofrimento, mas a gente percebe, que depois de um ano, ainda as quatro famílias que eu acompanho mais, aqui de Santa Catarina, e da minha família e do meu irmão, o sofrimento continua”.

Ele lembra ainda os momentos difíceis pela “ausência de um jovem na família, no meu caso, do caso do meu irmão, que só tinha duas filhas, a ausência de uma filha no final do ano, no Natal e no Ano Novo, que ia completar uma confraternização. A ausência dela, marca sofrimento, marca uma reorientação da vida dessas famílias".

Reportagem – Luiz Gustavo Xavier
Edição – Newton Araújo

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