Segurança

Abin: Copa do Mundo deixa o Brasil vulnerável a ataques terroristas

24/04/2012 - 20:15  

Saulo Cruz
Luiz Alberto Sallaberry (assessor de planejamento da ABIN)
Sallaberry: Não é alarmismo, mas não houve momento mais propício para atos terroristas.

O representante do Gabinete de Segurança Institucional, Luiz Alberto Sallaberry, diretor de contraterrorismo da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), afirmou nesta terça-feira que o Brasil nunca esteve tão suscetível de sofrer um ataque terrorista, tendo em vista os eventos internacionais que serão sediados no País – como a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo de 2014.

“Desde o descobrimento do Brasil não tivemos atentados e nunca fomos alvo. Mas, pela primeira vez em nossa história, vamos sediar grandes eventos – o que nos coloca numa situação de vulnerabilidade sem precedentes. Não estamos aqui com mensagem alarmista, mas, no contexto atual, não houve momento mais propício para atos terroristas no País”, disse.

As declarações foram dadas durante audiência pública que discutiu a estrutura de segurança e defesa do Brasil para a organização dos grandes eventos internacionais que serão realizados no Brasil nos próximos anos. A audiência aconteceu no âmbito da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional e das comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara e do Senado.

Despreparo
O procurador de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Denilson Feitosa, disse que a situação da inteligência no País é muito grave. “Não estamos preparados hoje para os grandes eventos, como a Copa do Mundo. A Rio+20 é um grande evento, com a presença de chefes de Estado, e o Brasil não está preparado para isso”, admitiu.

Pós-doutor em inteligência, segurança e Direito, Feitosa criticou a falta de uma politica nacional de inteligência, que, segundo ele, é fundamental em qualquer Estado do mundo. “Tivemos casos de febre aftosa depois de 20 anos como zona livre da doença. A base de Alcântara explodiu e até hoje ninguém sabe o que aconteceu. Esse fato atrasou nosso programa espacial em dez anos”, apontou. Segundo ele, a incapacidade de identificar ameaças afeta a economia brasileira.

Terceirização
O delegado Wellington Soares Gonçalves, que também participou do debate representando a Polícia Federal, negou que haja intenção de terceirizar setores estratégicos da PF. "Existe um debate sobre terceirizar algumas atividades administrativas, como a emissão de passaporte, para que haja uma maior força policial disponível na área de investigação", explicou.

Questionado pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) sobre o uso de malas de escuta telefônica pela Polícia Federal, ele negou que a corporação faça uso desse tipo de equipamento para causar danos a pessoas ou instituições.

"A forma como a PF faz uso dessas malas e de outros equipamentos é sempre de acordo com as leis e com a Constituição. Trabalhamos sempre por provocação de um fato criminoso, em que haja indícios suficientes para abertura de inquérito", ressaltou.

O diretor de contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, disse que a agência não dispõe de maletas de escuta: "Infelizmente não temos esses equipamentos, porque a legislação não permite que um órgão de inteligência faça esse tipo de interceptação."

Aquecimento Global
O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) trouxe outra dimensão para o debate: para ele, a principal ameaça ao País para os próximos 50 anos é o aquecimento global, que pode provocar impactos muito maiores que outras questões conjunturais. “Podemos ter a destruição da Amazônia”, alertou.

Sirkis citou ainda o terrorismo internacional, a espionagem industrial e a sabotagem econômica como desafios para os próximos anos. “Temos que hierarquizar nossas ameaças, nessa ordem mesmo. Vivemos um contexto novo e é preciso que a gente construa um sistema de inteligência eficaz”, assinalou.

Reportagem - Jaciene Alves
Edição – Carolina Nogueira

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