Saúde

Debatedores pedem implementação de políticas públicas para anemia falciforme

Em seminário em Salvador, relator da subcomissão que trata da saúde da população negra promete relatório para novembro

10/08/2015 - 13:14  

Debatedores pediram a implementação das políticas públicas para a anemia falciforme em seminário na Câmara Municipal de Salvador (BA) sobre a doença, nesta segunda-feira (10). O evento foi promovido pela subcomissão especial da Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados criada para tratar da saúde da população negra do País.

A presidente da subcomissão, deputada Benedita da Silva (PT-RJ), ressaltou que a anemia falciforme é a doença hereditária mais comum entre a população afrodescendente. Bahia e Rio de Janeiro são os estados que têm mais corrência do problema. A cada 650 crianças que nascem na Bahia, uma tem doença falciforme. Segundo Benedita, a ideia da subcomissão é apresentar soluções legislativas e de políticas públicas para este e outros problemas de saúde que atingem a população negra. O presidente da Comissão da Seguridade Social, deputado Antonio Brito (PTB-BA), que é relator da subcomissão, prometeu apresentar relatório até novembro.

A anemia falciforme se caracteriza pela mudança dos glóbulos vermelhos do sangue. Como essas células têm sua membrana alterada, elas se rompem com mais facilidade e causam anemia, fortes dores, fadiga intensa, atraso no crescimento, feridas pelo corpo, infecções e problemas no coração, pulmão e rins.

Avanços
A coordenadora da Política Nacional de Atenção às Pessoas com Doença Falciforme, do Ministério da Saúde, Maria Cândida Queiroz, disse que nos últimos anos houve avanços no combate à doença no Brasil. Ela salientou que 80% das crianças até 5 anos de idade com a doença podem morrer se não tiverem cuidados. “Com o diagnóstico precoce (de preferência no atendimento neonatal) e a assistência integral, a expectativa de morte diminui para 1,8%”, apontou. Ela observou, porém, que ainda existe no País grande número de pessoas com diagnóstico tardio ou sem diagnóstico. “Ainda temos morte de pessoas sem diagnóstico, principalmente na gestação”, disse.

A representante do Ministério da Saúde também afirmou que, após o diagnóstico, o atendimento ao paciente com doença falciforme deve ser multidisciplinar e que vários medicamentos para tratar a doença já estão incluídos na Farmácia Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), além de vários procedimentos. “Mas muitas vezes faltam medicamentos”, lembrou. Segundo ela, uma grande vitória recente foi a inclusão no SUS do transplante de medula óssea para pessoas com anemia falciforme.

Invisibilidade
O coordenador da Associação Baiana de Pessoas com Doenças Falciformes, Altair Lira, destacou que a doença foi descoberta há mais de um século, mas apenas em 2005 começaram a ser implementadas as políticas públicas de atenção para a anemia falciforme, o que, para ele, configura-se racismo do Estado brasileiro. “Precisamos enfrentar o racismo institucional na saúde e a alta mortalidade da população negra”, ressaltou. Ele acredita que é preciso tirar a doença da invisibilidade.

A vice-prefeita de Salvador, Célia Sacramento, afirmou que a cidade não está preparada para lidar com a doença, que atinge grande parte da população negra local, que muitas vezes nem sabe que tem a doença. Para ela, o seminário pode inaugurar uma nova etapa na implementação de políticas públicas de combate à doença na cidade. A secretaria de Políticas para Mulheres da Bahia, Olívia Santana, também acredita que a anemia falciforme precisa de mais visibilidade.

Impactos
O ortopedista Gildásio Daltro, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, explicou que a pessoa com doença falciforme tem mais de 40% de chance de ter osteonecrose do quadril - que ocorre quando o suprimento de sangue para o osso é interrompido. Segundo ele, o Brasil precisa investir em terapia celular para esse problema, já que o uso de próteses tem alto risco. “Não queremos operar tanta gente”, salientou.

O hematologista Fernando Araújo também defendeu a terapia celular para pacientes com a doença em estágio avançado e, principalmente, a prevenção do processo inflamatório crônico que a anemia falciforme pode causar ao longo da vida do paciente e que pode atingir diferentes órgãos, como o cérebro, o pulmão e os rins. Já o superintendente do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos, Antônio Carlos Lemos, ressaltou que algumas das consequências mais graves da anemia falciforme são a síndrome torácica aguda e a hipertensão arterial pulmonar, cujos tratamentos não são de fácil acesso para usuários do SUS.

Reportagem – Lara Haje
Edição - Patricia Roedel

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