Saúde

Médicos defendem diálogo franco com paciente na hora de detectar o câncer de mama

Informações claras, disseram especialistas no Senado, podem levar mulheres a decidir melhor sobre quando fazer a mamografia. Não existe consenso sobre a idade ideal para se submeter pela primeira vez ao exame.

16/10/2014 - 14:01   •   Atualizado em 16/10/2014 - 17:04

Médicos que participaram de debate sobre câncer de mama nesta quinta-feira, no Senado, defenderam o repasse de informações mais claras sobre a doença às mulheres. Os especialistas acreditam que a comunicação eficiente entre médico e paciente pode embasar melhor as decisões sobre quando fazer a mamografia e a que tratamentos se submeter em caso de resultado positivo.

Em evento promovido pelas secretarias da mulher da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o médico do Instituto Nacional de Câncer (Inca) Arn Migowski explicou que o câncer de mama é uma doença heterogênea. Manifesta-se de diferentes formas em diferentes mulheres, podendo ser mais ou menos agressivo. Existem ainda fatores externos que devem ser levados em consideração como a idade da mulher, a existência ou não de casos de câncer na família e a existência de outras doenças na paciente.

Idade
Não existe consenso sobre a idade ideal para a primeira mamografia. O Inca e o Ministério da Saúde recomendam o exame a cada dois anos a partir dos 50 anos, pois antes disso a mama ainda é muito densa. Há ainda médicos que recomendam apenas o exame clínico, sem a necessidade de mamografia.

Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Secretaria da Mulher da Câmara e do Senado Federal - Quintas Femininas: “Câncer de mama e o atendimento público” - Carolina Fuschino
Carolina: a mulher sem sintomas e sem casos na família deve fazer mamografia uma vez por ano a partir dos 40 anos.

Já a indicação da Sociedade Brasileira de Mastologia é que a mulher sem sintomas e sem casos na família se submeta à mamografia uma vez por ano a partir dos 40 anos. “Um quarto das mulheres que vão apresentar câncer estão na faixa de 40 a 49 anos”, justificou a presidente da sociedade no Distrito Federal, a médica Carolina Fuschino.

Por outro lado, se a mulher tem casos da doença na família, ela deve procurar orientação médica o mais rapidamente possível. “A relação médico-paciente deve ser de confiança. Se você tem essa relação, você passa informação imparcial, que deixa a paciente pronta para decidir. Mas, claro, a decisão pode ser conjunta”, afirmou Carolina.

Mesmo a periodicidade do exame pode ser decidida na conversa entre médico e paciente. Quanto mais mamografias, disseram os especialistas, mais a paciente é submetida a radiação. Além disso, maiores as chances de resultados falsos positivos e de detecção de cânceres menos agressivos que nunca evoluiriam para uma doença de fato.

É o chamado sobrediagnóstico, que obriga os médicos a iniciar um tratamento muitas vezes desnecessário, submetendo também a paciente a uma carga de estresse. “A antecipação da mamografia nem sempre resulta em benefício”, avaliou Arn Migowski.

Vida saudável
Os médicos destacaram ainda que mamografia não previne câncer, apenas detecta precocemente. O que pode prevenir, ressaltou Carolina Fuschino, é levar uma vida saudável, com alimentação natural, prática de exercícios físicos, sem fumo ou álcool. O Brasil deverá registrar, em 2014, 57 mil novos casos de câncer de mama.

Para a presidente da Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília (Recomeçar), Joana Jeker, é fundamental que a mulher conheça seu corpo e procure um médico em caso de dúvida, independentemente da idade. “As mulheres têm que ter acesso à mamografia de rastreamento, principalmente aquelas com caso na família”, disse Joana, que assistiu às palestras desta quinta.

Direito
Apesar do impasse, a legislação brasileira (Lei 11.664/08) assegura o acesso de todas as mulheres à mamografia a partir dos 40 anos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O pedido de Lilian Marinho, representante da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, é para que as mulheres tenham de fato o direito de se submeter a uma mamografia quando necessário e, mais do que isso, o direito de se tratar.

No encontro, Lilian chamou a atenção para o acesso desigual das mulheres brasileiras ao sistema de saúde. “O Estado não tem direito de dizer a uma mulher que ela tem suspeita de câncer de mama se não garantir a ela todos os procedimentos necessários”, defendeu.

O evento desta quinta fez parte da programação do Outubro Rosa, um movimento de mobilização pela conscientização sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama. O debate foi mais uma edição do projeto Quintas Femininas.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Natalia Doederlein

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.