Saúde

Gravidez de gêmeos pode significar repouso ou parto prematuro e tempo na UTI

Para evitar riscos desnecessários, o Conselho Federal de Medicina limitou o implante de embriões de acordo com a idade da mulher. Já um projeto em análise na Câmara só permite a implantação de dois embriões, independente da idade da paciente.

03/01/2013 - 10:43  

A inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV) podem ser a solução para casais que não conseguem gerar filhos de forma natural. As duas técnicas, no entanto, podem resultar em gestações múltiplas, de dois, três, quatro ou mais bebês. O problema é que a chamada gravidez gemelar pode representar perigo para a saúde das mães e, principalmente, para os próprios bebês.

No Brasil, não existem campanhas que expliquem os riscos da gravidez múltipla. Há mulheres que preferem ter gêmeos por fertilização só pelo desejo de ter dois filhos ao mesmo tempo ou por querer engravidar uma única vez. Muitas destas gestações não vão até o fim e podem originar bebês prematuros.

“Em uma gravidez de trigêmeos a maioria das crianças nasce em torno de 32, 33 semanas de gravidez [uma gestação normal vai até 39, 40 semanas]. Com quadrigêmeos, metade aborta e metade nasce muito antes de 30 semanas”, diz o ginecologista Adelino Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e dono de uma clínica de reprodução em Brasília.

O coordenador da Câmara de Reprodução Assistida do Conselho Federal de Medicina (CFM), José Hiran Gallo, concorda. “É um grande risco para mãe e feto. A gravidez múltipla é uma gravidez de alto risco”, alerta.

“Economia de barriga”
“Não é incomum no consultório a gente receber pacientes querendo a gravidez gemelar. Elas dizem: 'Eu vim para fazer reprodução assistida para ter gêmeos, eu quero economizar uma barriga'”, conta a doutora Carla Martins, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução assistida e dona de outra clínica em Brasília. “A gravidez gemelar é uma consequência da técnica, não um objetivo a ser atingido, porque gravidez de gêmeos implica uma gravidez mais complicada, com riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.”

Luis Macedo
Michelle Diniz fez reprodução assistida, engravidou de trigêmeos e só um aobreviveu.
Michelle critica a falta de informação: "Não fui avisada dos riscos".

A psicóloga Michelle Diniz recorreu a uma clínica de Reprodução Assistida porque tinha dificuldade de manter a gravidez. A ideia era “produzir” bebês gêmeos para que aumentasse a chance de o útero da paciente sustentar um dos fetos. Com 34 anos na época, Michelle engravidou de trigêmeos. Os bebês nasceram com 26 semanas e apenas um sobreviveu.

Ela conta que o médico só lhe avisou dos riscos de sequelas ocasionados pela prematuridade depois que os trigêmeos nasceram. “Eu levei um susto. Foi aí que o médico, pela primeira vez, falou de todos os problemas que eles poderiam ter. Até então, eu nunca tinha sido avisada.”

De acordo com o coordenador da UTI neonatal do Hospital Santa Lúcia, o mais antigo serviço do Centro-Oeste, Nélson Diniz de Oliveira, apesar dos cuidados tomados pelos profissionais, as sequelas de um bebê prematuro extremo podem mesmo ser diversas. “A sequela vai depender do dano ocasionado. Se é em consequência de falta de oxigênio, processo infeccioso, meningite neonatal ou hemorragias intracranianas... Poderemos ter crianças que vão apresentar dificuldades ao longo de toda a sua vida. Cognitivas, motoras, auditivas, visuais”, enumera.

O caso de Gina Carla foi diferente. Ela passou por quatro fertilizações sem sucesso. Na quinta tentativa, dois dos três embriões implantados no útero se desenvolveram e o casal de bebês nasceu bem. Gina teve os bebês na 39ª semana de gravidez, algo raríssimo no caso de gêmeos.

Limites
Para evitar gestações múltiplas, em 2010, o Conselho Federal de Medicina (CFM) limitou o número de embriões a ser implantados, de acordo com a faixa etária. Em mulheres de até 35 anos só podem ser implantados 2 embriões; pacientes de 35 a 40 anos podem receber 3; e, apenas em mulheres acima de 40 anos, podem ser implantados quatro embriões.

Já o Projeto de Lei 1184/03, em análise na Câmara, limita a dois o número de embriões a ser transferidos, independente da idade da paciente. O presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Adelino Amaral, critica a proposta. Segundo ele, em mulheres mais velhas é necessária a transferência de até quatro embriões para que haja chances de um deles se desenvolver. “A chance de uma mulher com mais de 40 anos engravidar com apenas dois embriões é muito pequena. Quase nula.”

Arquivo/ Leonardo Prado
João Ananias
João Ananias rebate projeto, alegando que, em mulheres de mais de 40, gravidez não acontece com apenas 2 embriões.

Essa também é a opinião do deputado João Ananias (PCdoB-CE). “Para mulheres acima de 40 anos, o risco de não dar certo com a implantação de apenas dois embriões é muito grande.”

Mas o deputado João Campos (PSDB-GO), relator do projeto na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, defende o limite. “Apesar de teses nessa direção, nós assistimos em data recente a mulheres com idade superior a 50 anos e que tiveram êxito.” O parlamentar, no entanto, admite a possibilidade de mudar de ideia após ouvir especialistas sobre essa restrição.

O parlamentar propôs a realização de uma audiência pública sobre o assunto para ouvir os diversos segmentos envolvidos nesse processo antes de votar o projeto. O presidente da SBRA quer participar do debate para pedir a rejeição do PL 1184/03 e a aprovação do PL1135/03, do ex-deputado José Pinotti, que tramita apensado e é mais parecido com a resolução do Conselho Federal de Medicina.

Se a CCJ aprovar o PL 1184/03 como está, João Ananias, que também é médico, pretende apresentar emendas para alterar o projeto no Plenário, caso ele seja aprovado como está na comissão.

Reportagem- Mariana Monteiro
Edição – Natalia Doederlein

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