Política e Administração Pública

Ex-diretor do grupo J&F, Ricardo Saud fica em silêncio na CPMI da JBS

Para relator, Saud perdeu a oportunidade de se defender das acusações de irregularidades no acordo de delação premiada feito com a PGR

31/10/2017 - 16:00  

Durante pouco mais de duas horas, o ex-diretor de assuntos institucionais do grupo J& F Ricardo Saud repetiu dezenas de vezes, nesta terça-feira (31), que não iria responder às perguntas feitas pelos deputados e senadores da CPMI da JBS. “Vou usar meu direito constitucional de permanecer calado”, limitou-se.

Lúcio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
Oitiva com o ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo J&F, Ricardo Saud
Ricardo Saud está preso há 50 dias. Ele é suspeito de, junto com Joesley Batista, ter mentido e omitido informações no acordo firmado por ambos com a Procuradoria-Geral da República

Os integrantes da comissão queriam saber principalmente detalhes a respeito das negociações entre a Procuradoria-Geral da República (PGR) e os controladores da JBS em torno dos acordos de delação premiada. Saud argumentou que, como o acordo está temporariamente suspenso, não iria responder aos questionamentos de parlamentares.

Ricardo Saud foi preso junto com o empresário Joesley Batista (dono do grupo J&F) no começo de setembro após pedido feito pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot ser acatado pelo relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin. Os executivos são acusados de terem mentido e omitido informações informações na delação premiada firmada por ambos com a PGR.

O relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), disse ter ficado decepcionado com o silêncio de Saud e afirmou que ele perdeu uma oportunidade de se defender. “O fato de ter ficado calado é um agravante e me autoriza a considerar como verdade fatos narrados por outras pessoas e que ele não negou”, declarou Marun.

“Este foi o depoimento do banho de sol”, resumiu o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), referindo-se ao fato de Saud estar preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília, e ter se deslocado ao Congresso Nacional para comparecer à reunião da CPMI.

Mesmo se recusando a falar, Saud, ao ser questionado pelo deputado Izalci Lucas (PSDB-DF), prometeu entregar à comissão documentos que constam dos 30 anexos de sua delação premiada.

Convocações
Apesar de não obter respostas de Saud, os membros da CPMI decidiram reforçar a linha de investigação que aponta para supostas irregularidades nos acordos de delação. Eles aprovaram a convocação, como testemunha, do ex-chefe de gabinete de Janot na Procuradoria-Geral da República Eduardo Pellela.

Pellela havia sido convidado a comparecer à comissão, e o depoimento estava marcado para amanhã (1º). Ele, no entanto, recusou o convite alegando o sigilo de suas funções. Com isso, o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), apresentou novo requerimento, dessa vez de convocação de Pellela, como testemunha.

Oliveira explicou que, dessa forma, o procurador será obrigado a comparecer à CPMI, que quer detalhes sobre o acordo premiado feito pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. A data da oitiva ainda não está marcada.

“Sabemos, pelos depoimentos já colhidos, que havia contato direto com Pellela para a assinatura da colaboração premiada”, destacou o presidente da CPMI, referindo-se a afirmações feitas pelo procurador da República Ângelo Goulart Villela, pelo advogado Willer Tomaz de Souza e pelo ex-diretor jurídico do grupo JBS Francisco de Assis e Silva.

A convocação de Pellela teve apoio na comissão. “Essa medida está correta. Os procuradores vivem repetindo que ninguém está acima da lei, porém eles mesmos se esquecem disso”, comentou o deputado Wadih Damous (PT-RJ), um dos sub-relatores da comissão.

A CPI mista da JBS também aprovou hoje a convocação do advogado Rodrigo Tacla Duran, que declarou, em entrevistas, que a Odebrecht fraudou documentos apresentados em seu acordo de delação premiada.

Além disso, foi aprovada a convocação do empresário Victor Sandri, acusado por Joesley Batista de ser o intermediário do pagamento de propina para o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Reportagem - Antonio Vital
Edição - Marcelo Oliveira

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.