Política e Administração Pública

Ex-presidente da Caixa nega irregularidades em empréstimos ao grupo J&F

25/10/2017 - 17:38  

Em depoimento à CPMI da JBS nesta quarta-feira (25), o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Hereda negou a existência de irregularidades na liberação de empréstimos ao grupo J&F. Segundo ele, todas as operações eram aprovadas por órgãos colegiados e passavam pelo crivo de mais de 50 técnicos.

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados
Oitiva com o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda Fontes
Jorge Hereda: Caixa teve lucro ao negociar ações da JBS

O ex-dirigente informou que, em 2014, o grupo comandando pelos empresários Joesley e Wesley Batista devia R$ 5,421 bilhões ao banco, porém todos os pagamentos para quitar a dívida estavam em dia. O valor refere-se a operações de financiamento de capital de giro, adiantamento de crédito de câmbio e aquisição de debêntures (títulos de dívida) feitas em favor das seguintes empresas do conglomerado J&F: SF investimentos, JBS, Seara, Vigor, Eldorado Celulose e J&F Investimentos.

Hereda, que presidiu a Caixa entre 2006 e 2015, acrescentou que as operações com a JBS não podem ser consideradas atípicas, considerando o tamanho da empresa e o mercado. Segundo ele, os cinco maiores bancos do País fizeram empréstimos à empresa. “E a Caixa não está em primeiro lugar. Tem 11,9% da dívida da JBS e possui 1,79% das ações da companhia”, informou.

Questionado por um dos sub-relatores da comissão, deputado Delegado Francischini (SD-PR), Hereda disse nunca ter recebido pedido do ex-ministro Guido Mantega para liberar dinheiro para a JBS. “Mantega nunca me pediu nada”, declarou.

Ele negou ainda prejuízos para a Caixa com operações como a aquisição de ações da JBS. “Nós não compramos as ações. Recebemos do Tesouro por um valor de R$ 6 e depois as vendemos por R$ 12, ou seja, a Caixa teve lucro”, apontou.

Por sua vez, o deputado Juscelino Filho (DEM-MA), autor do requerimento de convocação de Hereda, questionou a operação que permitiu à JBS adquirir a companhia Alpargatas com 100% de financiamento pela Caixa. “Existe precedente para esse tipo de financiamento total?”, indagou o parlamentar. “Isso ocorreu depois que eu saí da Caixa, então não posso responder”, afirmou Hereda.

Ameaça
O ex-presidente da Caixa afirmou ter sido pressionado pelo ex-deputado Eduardo Cunha para que a Caixa liberasse empréstimos para quatro empresas (não especificadas durante o depoimento), mas disse não ter aceitado a pressão.

Cunha, conforme Hereda, teria ameaçado convocá-lo para depor na CPI da Petrobras se o dinheiro não fosse liberado. O ex-presidente da Caixa declarou não saber que companhias seriam beneficiárias dos empréstimos. “Não quis nem saber e encerrei o assunto”, resumiu.

Hereda, que é filiado ao PT, admitiu que as indicações de Fábio Cleto e de Geddel Vieira Lima, respectivamente, aos postos de vice-presidente de Fundos de Governo e Loterias e de vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco foram políticas, feitas pelo PMDB.

Cleto e Geddel estão presos, acusados de receber propina em troca de benefícios a empresas. Em delação premiada, Fábio Cleto admitiu as irregularidades e apontou Eduardo Cunha como beneficiário do esquema.

No depoimento desta quarta-feira à CPMI, Jorge Hereda chegou a dizer que Geddel trabalhava pouco e não parecia ter interesse no serviço.

Ele afirmou ainda ter ficado surpreso com os crimes admitidos por Cleto em sua delação premiada, já que, como representante da Caixa no fundo que administrava os investimentos do FGTS, Cleto tinha apenas um voto, o dele mesmo.

“Pode parecer ingenuidade, mas eu achava que uma pessoa com um voto só não teria como fazer nada sozinho”, comentou Hereda.

“Porém está evidente, pelas delações, que foram obtidos ganhos ilícitos com essas operações. Você não notou que nesse mato tinha coelho, que ali poderia ter um foco de corrupção?”, perguntou o relator da CPMI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS).

Hereda voltou a afirmar que as operações eram analisadas do ponto de vista técnico.

“Enquanto houver indicações políticas para cargos técnicos, a farra do boi vai continuar. Como é que um Fábio Cleto vira vice-presidente da Caixa?”, questionou o presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO).

Reportagem - Antonio Vital
Edição - Marcelo Oliveira

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