Política e Administração Pública

Aliados de Temer e oposição estudam estratégias para votação de denúncia

Vice-líderes governistas dizem acreditar em desfecho favorável em Plenário, e oposição avalia que não haverá quórum

01/08/2017 - 16:28   •   Atualizado em 01/08/2017 - 18:20

Às vésperas da votação do parecer que recomenda ao Plenário negar autorização ao Supremo Tribunal Federal para analisar denúncia contra Michel Temer, governo e oposição realizam sucessivas reuniões para traçar estratégias. A maior dúvida é se haverá, ou não, quórum suficiente para que o Plenário conclua a votação nesta quarta-feira (2).

O presidente da República, Michel Temer, foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por crime de corrupção passiva nas investigações decorrentes da delação do empresário Joesley Batista, do grupo J&F. Cabe à Câmara decidir se autoriza, ou não, o Supremo examinar a denúncia.

Em um primeiro momento, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) aprovou parecer contrário à Solicitação para Instauração de Processo (1/17). A decisão final é do Plenário, em sessão marcada para as 9h de amanhã.

A presença de parlamentares da oposição é fundamental para dar andamento à sessão, já que a votação só pode começar com 342 nomes registrados em Plenário. Mas a oposição só concorda em votar a proposta quando quase todos os 513 deputados estejam presentes.

Expectativa
Vice-líder do governo, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse estar confiante. “A oposição não tem nem perto os votos necessários para promover o afastamento [de Temer], e queremos os deputados apareçam para superarmos essa situação.”

Marun reconheceu, no entanto, que o quórum é incerto. “Se a oposição comparecer, a derrotaremos. Se fugir, governaremos, que é a obrigação que temos neste momento”, disse.

Outro vice-líder governista, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) foi incisivo. “Quero que a oposição tenha respeito ao eleitor, tenha coragem política e vote”, afirmou.

Perondi disse ainda que o parlamentar da base aliada que votar contra Temer sofrerá retaliações. “Tem que votar conosco, ou vai perder os cargos indicados. No PMDB, poderão ser expulsos”, disse.

Sem votos
Pela oposição, o deputado Chico Alencar (Psol-RS) avaliou que nenhum dos lados conseguirá o apoio de 342 deputados. Esse é o número mínimo de votos para autorizar ou não o Supremo a prosseguir com o caso – que poderá ser suspenso e só voltar a ser analisado pela Justiça quando Temer deixar o cargo.

“De fato, não temos 342 deputados para autorizar. Vamos tensionar ao máximo, mas não vamos dar quórum para o governo engavetar”, afirmou.

O líder da Minoria, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o quórum em Plenário é responsabilidade do governo e que a oposição se empenhará para garantir 342 votos favoráveis à autorização. “Estamos avaliando milimetricamente.”

Segundo ele, PT, PCdoB, PDT e Psol também vão fazer obstrução para mudar o rito de votação previsto. “Esse rito resumido não é razoável. Os líderes precisam falar, e quatro de um lado e quatro de outro é pouco para uma coisa que o Brasil vai acompanhar. Votar à noite também é fundamental, para que os trabalhadores acompanhem”, disse.

Debates
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirmou que tentou construir um acordo entre governo e oposição para que a denúncia fosse deliberada antes do recesso parlamentar, garantindo mais tempo para os debates, mas a oposição preferiu adiar a votação para agosto.

Segundo Maia, se a votação tivesse ocorrido antes do recesso, o rito poderia ter sido alterado. Agora, afirmou, os aliados do Planalto não querem dar mais tempo de debate para a oposição.

“É do processo democrático tentar construir um caminho que gere um espaço maior para oposição, mas infelizmente não posso desrespeitar o Regimento Interno porque, assim, corro o risco de fazer uma sessão o dia inteiro e ser anulada pelo Supremo”, justificou.

Reportagem - Carol Siqueira e Luiz Gustavo Xavier
Edição - Ralph Machado

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