Política e Administração Pública

Para testemunhas no Conselho de Ética, deputado agiu de má-fé ao usar vídeo

Em sua defesa, Delegado Éder Mauro questiona representação da Mesa Diretora que o acusa de descontextualizar discurso de Jean Wyllys ao publicar postagem em uma rede social

05/07/2017 - 20:23  

Leonardo Prado / Câmara dos Deputados
Reunião Ordinária. Dep. delegado Éder Mauro (PSD-PA)
O deputado Delegado Éder Mauro durante reunião na Câmara

Parlamentares afirmaram nesta quarta-feira (5) ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que o deputado Delegado Éder Mauro (PSD-PA) agiu de má-fé ao divulgar vídeo que teria sido editado para descontextualizar pronunciamento do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Mauro se defendeu e disse que a fala de Wyllys, com ou sem edição, deveria ser vista apenas como uma opinião.

O processo por quebra de decoro (REP 15/16) é baseado em uma representação da Mesa Diretora fundamentada em ação na Corregedoria Parlamentar da Câmara. Éder Mauro publicou, em sua página do Facebook, vídeo com parte de pronunciamento de Wyllys durante reunião de 2015 da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurou a violência contra jovens negros e pobres no Brasil.

Segundo o deputado do Psol, a frase completa dita naquela ocasião é: “Tem um imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que está impregnado na gente”.

No vídeo publicado por Mauro, conforme a representação aprovada pela Mesa Diretora, ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média”.

Testemunhas apoiam
Segundo a deputada Erika Kokay (PT-DF), não houve um “corte inocente” no vídeo, mas uma ação proposital para distorcer a fala de Wyllys e, ainda assim, o material foi divulgado. “Ele [Delegado Éder Mauro] estava presente, viu qual foi a fala de Jean Wyllys. E, mesmo assim, utilizou uma edição com cortes, dolosa, para tentar desqualificar outro deputado.”

Kokay, que também assina o processo inicial contra Mauro, disse que a edição de vídeos gera insegurança entre os parlamentares, devido à possibilidade de que trechos de discursos sejam pinçados e explorados politicamente.

O deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), corregedor parlamentar à época da representação, disse que a edição não pode ser questionada e que Mauro divulgou algo inverídico. “Houve uma clara má-fé e, por isso, achei por bem encaminhar a representação à Mesa Diretora. A Mesa aprovou e enviou ao Conselho de Ética.”

Segundo Cajado, a Corregedoria Parlamentar não conseguiu determinar a autoria da edição. Mas, de acordo com ele, o Conselho de Ética poderá fazer isso.

Opinião do parlamentar
Para Delegado Éder Mauro, a fala de Jean Wyllys reflete preconceito contra profissionais das forças de segurança. O deputado questionou se, nesse contexto, a declaração seria caracterizada como racismo – e não apenas uma opinião do parlamentar sem implicação criminal.

Para Mauro, no segundo caso, Wyllys não poderia criticar a edição da fala. “Se é uma opinião, que os policiais têm uma visão de que os negros são mais violentos, porque deixaria de ser opinião depois?”

Mudança em norma
Durante a reunião, o presidente do Conselho de Ética, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), sugeriu a alteração da norma que rege o colegiado para prever pena de suspensão condicional do mandato em caso de infração reiterada. “O objetivo é menos punir e mais orientar.”

A reunião foi encerrada pouco após o início da Ordem do Dia do Plenário. Assim, outros dois deputados do Psol, Chico Alencar (RJ) e Ivan Valente (SP), também convocados para falar nesta quarta-feira (5), devem testemunhar só na próxima semana.

Reportagem - Tiago Miranda
Edição - Ralph Machado

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