Política e Administração Pública

Reforma política é inadiável, diz presidente Waldir Maranhão

Presidente defende ampla reformulação do Estado e diz que partidos precisam contribuir para aperfeiçoar propostas de combate à corrupção

29/06/2016 - 17:45  

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Presidente em exercício, dep. Waldir Maranhão (PP-MA) concede entrevista
Waldir Maranhão: "É preciso debater uma reforma de Estado, agregando todas as políticas públicas para que elas atendam ao interesse da população."

Em entrevista nesta quarta-feira (29) ao programa Conversa com o Presidente, da Rádio e TV Câmara, o presidente Waldir Maranhão (PP-MA) defendeu uma ampla reforma do Estado brasileiro, com mudanças que alcancem a Previdência, os tributos e as regras do sistema político. Maranhão pediu apoio dos partidos para aprimorar, em comissão especial instalada por ele, as 10 propostas de combate à corrupção apresentadas ao Congresso pelo Ministério Público Federal.

O presidente vê como prioridade uma reforma do ensino superior que capacite os estudantes a ingressarem de maneira efetiva no mercado de trabalho. Ele disse, ainda, que as críticas recebidas de outros parlamentares e da mídia o ajudam a corrigir rumos e a trabalhar na construção de um País melhor.

Ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão por duas vezes, o presidente está em seu terceiro mandato consecutivo na Câmara dos Deputados.

Veja os principais pontos da entrevista:

O senhor tem recebido críticas da imprensa e também de deputados. O senhor acredita que tem sido mal interpretado? Por quê?
Toda crítica é bem-vinda. Ser criticado pela sociedade, pelos meios de comunicação, pelos meus pares, me eleva à condição de corrigir rumos, de buscar um aprendizado, na adversidade, do que é o papel do Parlamento. As críticas melhoram as nossas vidas e são extensivas a todos nós. Precisamos encontrar rumos, possibilidades de construir um Brasil melhor, um Parlamento que seja forte, altivo, que tenha condições de se harmonizar com os demais Poderes constituídos da República e de ficar em sintonia com a sociedade brasileira.

Antes de chegar ao Congresso, o senhor era professor universitário e foi reitor. No que essa atividade pode ajudar na condução dos trabalhos na Câmara dos Deputados?
Ter sido reitor da Universidade Estadual do Maranhão foi parte de uma carreira acadêmica. Fui chefe de departamento, diretor do curso de Medicina Veterinária, pró-reitor de Graduação, vice-reitor por duas vezes e reitor também por duas vezes. Em órgãos colegiados, exercitei o debate, participei da votação de projetos que refletiam os sentimentos da comunidade acadêmica, e isso certamente me permite hoje, no exercício da Presidência, entender que há uma grande diversidade no Parlamento brasileiro, onde somos 513 reitores. Tenho todos os dias um aprendizado, uma contribuição para melhorar e corrigir rumos.

O senhor vem das áreas da educação e da saúde. Quais são as suas propostas para esses setores?
A proposta mais abrangente é enfrentar a reforma universitária, compreendendo que a educação é algo estruturante e requer investimentos. Precisamos investir numa escola pública de qualidade, numa universidade que responda aos anseios da sociedade, que tenha como princípio a capacitação do seu corpo docente, com programas de pós-graduação. A universidade acumula o capital de conhecimento que define os rumos de uma Nação. Investimentos consistentes na educação, na ciência e na tecnologia são pontos de partida para uma sociedade moderna.

O senhor foi integrante da Comissão de Educação. Há espaço neste momento para acelerar a aprovação de uma reforma universitária?
Sempre procurei atuar na Comissão de Educação, que é uma das mais estratégicas para a Casa e o País. Eu trouxe como bandeira a reforma do ensino superior brasileiro, que passa por um diálogo muito abrangente. Há muito a se fazer antes de levar um texto de reforma universitária para o Plenário, equalizando as propostas que foram sendo feitas ao longo do tempo. Temos de pensar no papel da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], da Finep [Financiamento de Estudos e Projetos]. A universidade não deve ser uma ilha, mas uma agregadora de valores de toda a comunidade científica, uma porta de entrada para todos aqueles que desejam chegar ao mercado de trabalho capacitados para o mundo real.

Um dos seus primeiros atos na Presidência da Câmara foi a anulação da sessão de admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. O senhor pode comentar esse episódio? Ele foi superado?
Era uma prerrogativa do exercício da Presidência, mas é uma página virada na minha vida, e fortalece a minha convicção de que se pode avançar e recuar. O importante é trabalhar pelo País; precisamos de governança, e esta Casa vem dando grandes contribuições, ao aprovar matérias de interesse do governo e da sociedade.

E quais são as matérias pelas quais o País agora não pode esperar?
Temos de enfrentar, de forma inadiável, a reforma tributária, a reforma política, a reforma da Previdência. A reforma política é o tema central das nossas angústias e preocupações. Estamos convivendo com a dura realidade de uma crise ética e moral. Precisamos compreender quantos partidos precisamos ter. Como vamos fazer as nossas campanhas? Como vamos refletir nas nossas aspirações o sentimento da população? O País mudou a partir de junho de 2013, quando o povo foi às ruas e se manifestou. A reforma política deve ser ampla, e não um arremedo. Vou além: é preciso debater uma reforma de Estado, agregando todas as políticas públicas para que elas atendam ao interesse da população.

O senhor determinou a instalação da comissão que vai analisar 10 medidas de combate à corrupção. Quais deverão ser os resultados desse trabalho?
Acolhi as 10 medidas e instalamos a comissão especial, cujos membros agora precisam ser indicados pelos partidos. Precisamos compreender que a democracia exige governança, eficiência e transparência. Essas propostas precisam da contribuição dos partidos para ser aprimoradas. É impossível negar a crise, a corrupção que existe. A nossa contribuição ficará na história para fazermos um novo País. O atual modelo de Estado está falido e não serve para uma sociedade moderna.

Veja a íntegra da entrevista.

Reportagem – Fabiana Melo
Edição – João Pitella Junior

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