Política e Administração Pública

Cunha espera coerência do PT depois de delação do senador Delcídio

03/03/2016 - 16:46  

Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Presidente da Câmara, dep. Eduardo Cunha (PMDB-RJ) concede entrevista
Cunha: Delação premiada nos olhos dos outros é pimenta, nos deles é refresco

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, disse nesta quinta-feira (3) que há fatos de natureza grave na reportagem da Revista Istoé - que traz trechos da suposta delação premiada do senador Delcídio Amaral - que poderão ou não ser confirmados posteriormente.

“Achei engraçado o PT ontem falar de delação premiada. Delação premiada nos olhos dos outros é pimenta, nos deles é refresco”, ironizou. Na matéria, Delcídio teria citado o ex-presidente Lula e acusado a presidente Dilma Rousseff de interferir na Operação Lava Jato.

Cunha declarou que gostaria de assistir ao discurso do PT desta quinta depois dessa nova delação. “Tem que ter coerência. O PT não é coerente. Ele só é coerente pra se defender. Agora para atacar os outros, usa o mesmo argumento para se defender. Não vale”, afirmou.

O vice-líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), afirmou, por sua vez, que é preciso a confirmação das supostas denúncias de Delcídio, mas espera que as investigações atinjam todos.

O presidente relativizou a postura de alguns parlamentares que novamente pediram em Plenário seu afastamento do cargo. Para ele, esse tipo de comportamento faz parte do jogo democrático.

“Todos aqueles que estão se manifestando oficialmente em função disso são os mesmo que não me apoiaram, que não votaram em mim. Isso é do jogo politico e cada um tem o direito de se manifestar democraticamente como queira. Minha posição não altera um milímetro por conta disso”, disse. “Não estou preocupado com isso. Efetivamente eu tenho o exercício da função e eu a continuarei exercendo”.

Segundo Cunha, desde que o inquérito foi instaurado, em março de 2015, diversos deputados vem dizendo que ele não tem mais condição de presidir a Casa. “Cada fato novo que acontece eles fazem o mesmo discurso.”

Afastamento
Ele ainda comentou a possibilidade de o Supremo julgar em breve o pedido do procurador-geral da República ao STF, no qual Rodrigo Janot pede o seu afastamento da presidência da Câmara. Para Eduardo Cunha, o pedido de afastamento é juridicamente, constitucionalmente e regimentalmente “um absurdo”.

“O próprio Supremo já afastou 70% das imputações contra mim que tinham por base a denúncia de que eu teria participado do suposto esquema de corrupção da Petrobras”, disse, comentando o voto apresentado ontem pelo relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavaski.

Notificação
O presidente da Câmara justificou por que não pode receber nesta quinta-feira a notificação sobre a continuidade do processo contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. “Não sou obrigado a estar na porta esperando a hora que resolvem aparecer. Todas as notificações eu marco hora e recebo todas”, explicou. “

“Eles querem colocar para mídia no momento que não estou aqui. Isso é querer jogar para a plateia”, afirmou Cunha, acrescentando que viaja hoje para o Rio de Janeiro.

Segundo a assessoria do presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), uma nova tentativa de notificação deverá ocorrer na próxima segunda-feira (7).

Reportagem – Murilo Souza
Edição – Luciana Cesar

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