Política e Administração Pública

Empresário nega que ligação com Lula o ajudou a conseguir contratos

Taiguara dos Santos, sobrinho de ex-esposa do ex-presidente, depôs nesta quinta-feira na CPI do BNDES

15/10/2015 - 16:48  

O proprietário da empresa de engenharia Exergia Brasil, Taiguara Rodrigues dos Santos, negou que a sua ligação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o tenha ajudado a conseguir contratos que celebrou com a construtora Odebrecht em Angola, entre 2011 e 2015. Ele prestou depoimento nesta quinta-feira (15) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, na Câmara dos Deputados.

Lucio Bernardo Junior / Câmara dos Deputados
Audiência pública para tomada de depoimento do proprietário da empresa de engenharia Exergia Brasil, Taiguara Rodrigues dos Santos. (E) Relator da CPI, dep. José Rocha (PR-BA)
Relator José Rocha (E): "Depoimento não contribui com a CPI, já que influência de Lula não foi comprovada"

Conhecido como sobrinho de Lula, porque seu pai é irmão da primeira mulher do ex-presidente, Taiguara admitiu manter contato com Lula e confirmou ser amigo do filho Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha.

Autores do pedido de convocação, os deputados Arnaldo Jordy (PPS-PA) e João Gualberto (PSDB-BA) questionaram o depoente sobre eventual influência política para conseguir os contratos. “Influência zero do ex-presidente Lula e do Fábio”, garantiu Taiguara.

Denúncias
Conforme matéria da revista Veja de fevereiro de 2015, a Exergia foi contratada pela Odebrecht para trabalhar na ampliação e modernização da hidrelétrica de Cambambe, em Angola, em 2012, mesmo ano em que a Odebrecht conseguiu no BNDES um financiamento para realizar esse projeto na África.

Taiguara disse que não sabia que a obra executada por sua empresa em Angola tinha financiamento do BNDES e afirmou que não conhece ninguém no banco. Ele confirmou que, em 2009, abriu a empresa de engenharia Exergia Brasil sem capital próprio, mas com 49% da sociedade, para atuar no país africano. Ele atribui o contrato firmado com a Odebrecht para a ampliação da hidrelétrica de Cambambe ao “acervo de obras” da Exergia S.A, que existia antes da formação da Exergia Brasil, e que já teria, inclusive, prestado outros serviços à Odebrecht.

“Estamos assistindo aqui a um festival de deboches do depoente, deboches de empresa que não tem capital, que não tem carteira, que não tem experiência no mercado, que não tem conhecimento e, de repente, consegue contratos com a Odebrecht”, afirmou Arnaldo Jordy.

João Gualberto também disse considerar estranho o fato de não ter sido exigido capital de Taiguara para ser sócio da empresa. “Está claro o tráfico de influência”, ressaltou o deputado.

Falta de comprovação
Outros deputados consideraram que o depoimento não comprovou a existência de influência do ex-presidente Lula para que a Exergia Brasil tenha conseguido contratos com financiamento do BNDES. Para o relator, deputado José Rocha (PR-BA), o depoimento não acrescenta nada aos trabalhos da CPI.

Para os deputados Carlos Zarattini (PT-SP) e Davidson Magalhães (PCdoB-BA), o depoimento de Taiguara não tem relação com o escopo de atuação da CPI do BNDES. Zarattini afirmou que a oposição não tem nenhuma denúncia efetiva relativa ao banco. “Só resta à oposição atacar o [ex-]presidente Lula”, disse.

O deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) ponderou que a questão central não é se o depoente tem relação com alguém do BNDES, mas se o depoente recebe propina, e se esta é direcionada para o ex-presidente Lula ou para o PT. Thame questionou se todos os trabalhos para os quais a Exergia Brasil foi contratada foram efetivamente prestados. Taiguara respondeu que sim e negou o recebimento de propina.

“Precisamos ter documentos ao convocar depoentes. Não podemos chamar pessoas para fazer insinuações. Se as obras não tivessem sido feitas, aí, sim, teríamos razão para convocá-lo”, opinou o deputado Edio Lopes (PMDB-RR).

Já o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP) considera a contratação da Exergia Brasil “no mínimo suspeita” e ressaltou que o caso está sendo investigado pelo Ministério Público.

Quebra de sigilo
Durante a reunião, Taiguara aceitou a quebra de seu sigilo fiscal, telefônico e bancário, solicitado pelo deputado Betinho Gomes (PSDB-PE). Mas o deputado Edio Lopes informou que, nesse caso, a CPI precisa aprovar requerimento nesse sentido. O deputado Miguel Haddad, que presidia a sessão, confirmou a informação de Lopes, mas esclareceu que, na falta de deliberação da CPI, o depoente pode optar por entregar suas informações sigilosas.

Patrimônio
O depoente confirmou a compra de um apartamento duplex, com financiamento da Caixa Econômica Federal (CEF), e de um carro de luxo da marca Land Rover. Taiguara alegou, entretanto, que, de meados de 2014 até agora, vive em situação econômica difícil. “A Exergia Brasil está há muito tempo sem contratos”, afirmou. Segundo ele, seu patrimônio atual é constituído “pelo apartamento, que corre o risco de ir a leilão, pelo carro e por muitas dívidas”.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Luciana Cesar

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