Política e Administração Pública

Graça Foster nega conhecer o tesoureiro do PT, processado por corrupção na Petrobras

26/03/2015 - 18:17  

Laycer Tomaz - Câmara dos Deputados
Reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras para ouvir o depoimento da ex-presidente da estatal, Maria das Graças Silva Foster
Graça Foster depôs por uase sete horas à CPI da Petrobras. Ela considerou admirável o ex-gerente Pedro Barusco, corrupto confesso e que vai devolver mais de 90 milhões de dólares de propina.

Na audiência desta quinta-feira (26), o deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), um dos sub-relatores da CPI da Petrobras, mencionou depoimento de um dos delatores do esquema, o engenheiro Shinko Nakandakari, que confirmou à Justiça Federal pagamentos de propina ao ex-diretor da estatal Renato Duque e ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em contratos da Diretoria de Energia e Gás, entre 2008 e 2013.

A diretoria foi dirigida no período por Ildo Sauer e depois por Maria das Graças Foster. “Nunca vi João Vaccari, nem na Petrobras nem em lugar nenhum”, disse Graça Foster. Esses contratos também estão sob investigação da Polícia Federal na Operação Lava Jato. Foster não foi acusada de participação até o momento.

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi apontado em diversos depoimentos da Operação Lava Jato como destinatário de propina paga por empresas contratadas pela Petrobras. Ele está sendo processado pelo Ministério Público Federal por corrupção e lavagem de dinheiro. Vaccari nega as acusações.

Pasadena
A ex-presidente da Petrobras repetiu declaração dada por ela no ano passado à CPI mista da Petrobras a respeito da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ela disse que, na época, a operação de compra se justificava, mas isso acabou sendo um mau negócio em razão da queda do preço do petróleo.

“Eu esperava que, em 2014, a refinaria desse um resultado melhor, o que não aconteceu por causa da queda do preço do petróleo. Não foi um bom negócio, olhando com olhar de hoje”, repetiu Graça Foster.

A refinaria de Pasadena foi comprada pela empresa belga Astra Oil,em 2005, por 42,5 milhões de dólares. Um ano depois, a estatal brasileira decidiu adquirir 50% da refinaria ao custo de 360 milhões de dólares, e se tornou sócia da emprega belga.

Perdas de R$ 88 bilhões
Graça Foster também explicou outro episódio relativo às contas da Petrobras: a divulgação de um balanço contábil, no início do ano, interpretado como cálculo de prejuízos causados pela corrupção na época.

Ela classificou como “justo” o valor contábil de R$ 88 bilhões referentes a perdas da companhia, conforme balanço da empresa apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras em janeiro último.

Ela negou, porém, que este valor corresponda a perdas com corrupção verificadas pela Operação Lava Jato. “Estes R$ 88 bilhões representam o valor justo por conta de uma série de ineficiências, até mesmo por causa de chuva e outros, não o número da corrupção”, disse à CPI da Petrobras.

“Eu defendi na ocasião que o mercado deveria ser informado deste valor, mesmo que a metodologia usada para fazer o cálculo seja questionada”, disse a ex-presidente. “A presidente Dilma Roussef pediu para a senhora não divulgar este balanço?”, perguntou o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS). “Não, a presidente nunca me pediu isso”, ela respondeu.

Alertas de Venina
Lorenzoni também questionou a ex-presidente da Petrobras a respeito da afirmação feita pela ex-funcionária da Petrobras Venina Velosa de que teria alertado Graça Foster a respeito de corrupção na Petrobras em e-mails enviados entre 2009 e 2011. A ex-presidente da Petrobras disse que não foi informada de irregularidades.

Admirável Barusco
Graça Foster classificou como “inimaginável” a confissão de recebimento de propina por parte do ex-gerente de Tecnologia da empresa, Pedro Barusco. À CPI que investiga irregularidades na estatal, Barusco admitiu ter acumulado 90 bilhões de dólares em propinas de 1997 a 2010. “Barusco sempre foi um engenheiro naval admirável no mercado, um grande quadro técnico da Petrobras”, disse Foster.

A ex-presidente contou aos membros da CPI qual foi sua participação na criação da empresa privada Setebrasil, para a qual Barusco foi nomeado diretor assim que pediu aposentadoria da Petrobras. A Setebrasil foi fundada em 2011 para a construção de sondas para exploração do pré-sal e firmou contratos de operação de sete sondas com a Petrobras e o Estaleiro Atlântico Sul.

Em 2011, a Setebrasil foi contratada pela Petrobras para construir 28 sondas de perfuração, no valor total de 22 bilhões de dólares. Segundo depoimento de Barusco à Justiça Federal, havia um acordo de pagamento de propina de 1% para os contratos entre a Setebrasil e os estaleiros – percentual reduzido depois para 0,9%. Essa combinação foi feita entre Barusco, o tesoureiro do PT João Vaccari Neto e os estaleiros.

Gasoduto Gasene
Ao ser questionada pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) sobre a criação da empresa Gasene, uma sociedade para fins específicos (SPE) feita para construir um gasoduto entre o Espírito Santo e a Bahia, Graça Foster disse ter “vergonha” do projeto em função da descoberta de propinas pagas pelas empresas contratadas a diretores da Petrobras.

“Tenho orgulho de ter participado disso, mas tenho vergonha também”, explicou. Ela admitiu que o gasoduto acabou custando 20% a mais que o previsto. “Mas eu considero este adicional razoável. O valor justo do Gasene supera em alguns bilhões o valor contábil. Isso significa que não tivemos prejuízo com o Gasene”, disse ela.

Reportagem – Antônio Vital
Edição – Newton Araújo

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