Política e Administração Pública

Renato Duque foi acusado de receber propinas por seis delatores na Lava Jato

19/03/2015 - 15:49  

Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados
Ex-diretor da Petrobras, Renato Duque depõe à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades na estatal
O ex-diretor da Petrobras Renato Duque foi denunciado em delações premiadas por doleiro, ex-diretor e ex-gerente da estatal e por empresários presos na Operação Lava Jato.

O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco , em depoimento à CPI, disse que começou a dividir propinas com Renato Duque em 2007, quando a Petrobras fez um contrato com a empresa holandesa SBM para o fornecimento de um navio-plataforma chamado P57, no valor de R$ 1,25 bilhão.

Barusco era então gerente executivo de Engenharia e recebeu 1% do total entre 2007 e 2010. Segundo ele, a propina paga pelas empresas contratadas pela Petrobras era dividida da seguinte maneira: metade ia para ele e Renato Duque, e a outra metade ia para João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

Barusco também disse que parte da propina foi usada nas eleições de 2010, quando Renato Duque (então diretor de Serviços da Petrobras, ao qual Barusco era subordinado) pediu ao empresário Júlio Faerman, representante da SBM, US$ 300 mil como “reforço” de campanha eleitoral, “provavelmente” a pedido de João Vaccari Neto, quantia que teria sido “contabilizada” por ele como “pagamento destinado ao PT”. Vaccari também nega as acusações.

70 milhões de dólares
O ex-gerente da Petrobras admitiu à CPI ter recebido cerca de 70 milhões dólares em propinas de empresas contratadas pela estatal e deu a entender que Duque recebeu o mesmo. Nos depoimentos que prestou à Justiça Federal no processo de delação premiada, ele afirmou que, além da SBM, as propinas eram pagas por outras empresas, como a Bueno e a Galvão Engenharia (pela construção do gasoduto Gasene, entre o Espírito Santo e a Bahia), Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Engevix, Iesa, Mendes Júnior, MPE, Setal, Skanska e UTC. Também teriam pago propinas os estaleiros Rio Grande (da Engevix), Jurong, Kepel Fels e o Enseada do Paraguaçu (do consórcio Odebrecht, OAS, UTC e Kawasaki).

Ainda de acordo com os depoimentos de Barusco à Justiça, ele e Duque abriram contas no exterior para receber os pagamentos, junto com outros dois acusados, Júlio Gerin de Almeida Camargo e João Carlos de Medeiros Ferraz. Os quatro teriam ido a Milão, na Itália, em outubro de 2011, onde se encontraram com o presidente do Banco Cramer, da Suiça, para tratar de abertura de contas, todas em nome de offshores (Empresas offshore são entidades situadas fora do país de domicílio de seus proprietários e, portanto, não sujeitas ao regime legal vigente naquele país).

Nas planilhas de distribuição de propinas de um dos estaleiros contratados pela Petrobras, o Jurong, cada um dos beneficiários era identificado com uma sigla: MW (My Way) era Renato Duque; Mars (marshal) era João Ferraz, Sab (Sabrina, uma ex-namorada) era Barusco, e MZB (Muzamba) era Eduardo Musa. Barusco ainda detalhou os nomes das contas que ele e Duque mantinham no exterior: RHEA Comercial, Pexo Corporation, Canyon View Assets, Dqydream e Backspins, Doletech.

Outras acusações
Mas Barusco não foi o único a acusar Duque. O doleiro Alberto Youssef também acusou o ex-diretor da Petrobras de receber propinas e ligou-o ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O empresário Augusto Mendonça Neto, sócio da empresa Toyo Setal, também disse, em depoimento na Justiça Federal, que Paulo Roberto Costa e Renato Duque recebiam propina. Disse Mendonça Neto: “Eu fui procurado e discuti essas questões com o próprio Duque e com Pedro Barusco, que era gerente de Engenharia da Petrobras na época. Eles me pediram, no caso do Paulo Roberto, 1%, e no caso do Renato Duque, 2%, sobre o valor do contrato".

Outro delator da Operação Lava Jato, o executivo Julio Camargo, também disse ter pagado propina a Duque. Ele admitiu que repassou propinas para duas diretorias da Petrobras: Abastecimento, então sob comando de Paulo Roberto Costa, e Engenharia e Serviços, na ocasião dirigida por Renato Duque.

Paulo Roberto Costa também afirmou, em depoimento à Justiça Federal, que Duque recebia propinas de empresas contratadas pela estatal. O mesmo disse o empresário Shinko Nakandakari, apontado também como operador de propinas entre as empresas e funcionários da Petrobras.

Naknadakari disse em depoimento ter pagado R$ 7,5 milhões em espécie a Renato Duque e ao gerente Pedro Barusco entre 2010 e 2013. Desse total, Nakandakari disse que entregou R$ 1 milhão diretamente nas mãos de Duque, em dinheiro vivo. Ele acrescentou ainda que chamava Duque de "Nobre" e Barusco de "Amigão".

Reportagem - Antônio Vital
Edição - Newton Araújo

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