Política e Administração Pública

Tumulto nas galerias adia para esta quarta votação de mudança na meta fiscal

Oposição fez escudo humano para proteger manifestantes, depois de ordem de esvaziamento das galerias do Plenário. Já o governo acusa a oposição de incitar o tumulto para adiar mais uma vez a mudança na meta do superavit. Manifestantes disseram que voltarão na quarta-feira.

02/12/2014 - 22:36   •   Atualizado em 03/12/2014 - 15:01

Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
Sessão destinada à leitura de expedientes e apreciação dos Vetos Presidenciais nºs 28 e 29 de 2014 e dos Projetos de Lei do Congresso Nacional nºs 31, 36, 5, 2, 9, 4, 6 a 8, 10 a 12, 14 a 30 e 32 a 35, de 2014. Tumulto durante sessão
Deputados, seguranças e manifestantes se envolveram em tumulto nas galerias.

A sessão do Congresso Nacional marcada para votar dois vetos presidenciais e a mudança na meta do superavit (PLN 36/14) foi encerrada nesta terça-feira depois intenso tumulto entre policiais legislativos, parlamentares de oposição e manifestantes que estavam nas galerias do Plenário. A sessão será retomada nesta quarta-feira, às 10 horas, quando o governo tentará pela terceira vez votar o projeto que desobriga o cumprimento da meta fiscal atual.

A suspensão da sessão foi motivada pela interferência das galerias – com gritos, palmas e palavras de ordem contra o governo. A líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), exigiu que os manifestantes fossem expulsos depois que a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) disse que foi chamada de “vagabunda”. “Numa sessão em que se debate política, não se admite que uma parlamentar seja chamada de vagabunda”, criticou. Muitas pessoas que estavam no Plenário entenderam que os manifestantes gritavam "vagabunda", mas nas galerias era possível ouvir que a maioria gritava "vai pra Cuba".

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, ordenou a retirada dos manifestantes e denunciou a “partidarização” das galerias. Deputados da oposição, no entanto, fizeram escudo humano e impediram o esvaziamento do local. Houve empurra-empurra, e um manifestante disse ter sido atingido por uma arma de choque de um policial do Senado.

O clima de confronto durou cerca de 40 minutos e acabou impedindo o andamento da sessão. Renan marcou nova votação para quarta-feira, denunciando uma “obstrução única em 190 anos do Parlamento”. “Havia 26 pessoas partidariamente instrumentalizadas provocando o Congresso, tumultuando. Não dá pra trabalhar e conduzir uma sessão do Congresso desta maneira”, disse.

Conduta
A oposição cobrou de Renan mais diálogo para permitir que a população acompanhe a votação e cogita entrar com uma representação no Conselho de Ética do Senado contra o parlamentar. Já o governo avaliou que os oposicionistas incitaram a violência exatamente para adiar a votação da mudança na meta do superavit.

Para o líder da Minoria, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), Renan deveria ter encontrado uma saída para permitir a manutenção dos populares na galeria. “Ele sequer se dispôs a dialogar com as galerias, como todo presidente do Congresso sempre fez. Estamos preocupados em preservar a democracia”, criticou.

O líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), não escondeu que o adiamento foi uma vitória. “É mais uma vitória do povo, querer retirar o povo é inaceitável”, disse.

O líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), disse que os parlamentares de oposição comandaram “um processo para inviabilizar a votação” porque não têm votos para derrubar a mudança na meta do superavit. “Foi um golpe à democracia”, afirmou.

Na avaliação do deputado Sibá Machado (AC), que é vice-líder do PT, a oposição está por trás do tumulto que levou ao adiamento da votação. “Eles transformaram a sessão em um jogo de vale-tudo. Jamais se viu isso aqui, se orientar o tumulto para os parlamentares fazerem disso uma obstrução”, criticou.

Impeachment
Os manifestantes que estavam na galeria pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Ela cometeu crime de responsabilidade [ao não cumprir a meta de superavit] e deve sofrer impeachment”, defendeu o advogado Mauro Scheer, que diz não ter filiação partidária.

Ele disse que os manifestantes não xingaram a senadora Vanessa Grazziotin. “Não dissemos ‘vagabunda’ e sim ‘vai pra Cuba’. Mas ela não escuta bem”, ironizou. Ele prometeu voltar nesta quarta-feira com mais colegas para criticar o governo.

A deputada Jandira Feghali assegura que a parlamentar foi xingada. “Não foi só vagabunda, tiveram duas palavras piores gritadas das galerias e todos levantaram ao mesmo tempo porque ouviram a mesma coisa”, disse.

Jandira afirmou que a sessão deve ser disputada no voto e não no grito das galerias.

Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Pierre Triboli

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