Política e Administração Pública

Com base menor, novo governo Dilma ficará mais dependente de outros partidos

PT é a maior bancada na Câmara, mas perdeu 18 deputados em relação à sua atual composição.

26/10/2014 - 20:38   •   Atualizado em 29/12/2014 - 16:42

A presidente Dilma Rousseff assumirá o mandato no ano que vem com uma base menor na Câmara dos Deputados. O PT continuará com a maior bancada na Casa, mas com 18 deputados a menos do que hoje. Serão 69 deputados em 2015 contra os 88 atuais.

Os nove partidos que estão na chapa que elegeu Dilma Rousseff (PT, PMDB, PSD, PP, PR, Pros, PDT, PCdoB e PRB) elegeram 304 deputados, 36 a menos do que na eleição passada.

Com a diminuição do PT e dos aliados, a presidente ficará mais dependente dos outros partidos para conseguir os votos necessários para aprovar seus projetos.

O apoio dos deputados é ainda mais relevante porque é na Câmara dos Deputados que se iniciam os debates de projetos de autoria do governo federal. Também caberá à Câmara discutir propostas relacionadas à reforma política, tema considerado prioritário no discurso feito por Dilma após a vitória neste domingo.

Antes mesmo de divulgados os resultados das urnas, alguns deputados da base já cobravam mudanças na relação entre a presidente Dilma Rousseff e o Congresso.

O deputado Luciano Castro (PR-RR) cobrou a reconstrução das relações com os partidos. “A base diminuiu um pouco, então será necessário um pouco mais de cuidado e a formação de alianças que deem sustentação ao governo”, disse.

O PR está na chapa de Dilma, mas ameaçou retirar o seu apoio antes do começo da campanha. O líder do partido, deputado Bernardo Santana de Vasconcellos (MG), chegou a liderar um movimento para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva substituísse Dilma Rousseff no pleito.

Bancada do PMDB
O apoio integral dos 66 deputados eleitos pelo PMDB também deverá ser negociado, já que o segundo maior partido da Casa ficou dividido entre Dilma e Aécio durante a eleição. O racha ficou evidente na convenção da legenda, em que 42% foram contrários à aliança.

O líder do PT, deputado Vicentinho (SP), reconheceu que será necessário avaliar onde o partido falhou e onde precisa melhorar para obter mais entendimento no Congresso Nacional. Ele reclamou, no entanto, que o Congresso ficou mais conservador. “Será necessária uma boa conversa com os partidos da base aliada e também com os novos partidos”, disse.

Outros líderes petistas, no entanto, dizem que as relações com o Congresso a partir do ano que vem não serão muito diferentes do que o praticado nestes quatro anos. O líder do governo, deputado Henrique Fontana (PT-RS), afirmou que as mudanças só virão se for aprovada uma reforma política.

“As relações vão continuar sendo muito semelhantes às de hoje, temos um sistema político que precisa ser alterado, que está gerando uma pulverização muito grande de partidos, o que dificulta a governabilidade de qualquer presidente”, disse Fontana.

Dilma terá de lidar com 28 partidos com representação na Câmara, 6 a mais do que hoje.

O deputado Afonso Florence (BA), que é vice-líder do PT, explicou que os partidos da base nunca se comportam da mesma forma diante de cada tema e que o governo vai ter de continuar negociando assunto por assunto com cada partido, como já faz hoje. “Nada se repete na vida tal qual aconteceu antes, mas a orientação política geral do governo não deve mudar. É da natureza da democracia que, a cada tema controverso, haja necessidade de muita conversa”, disse.

Fragmentada e conservadora
A cientista política Débora Messenberg, professora da Universidade de Brasília (UnB), afirmou que a Câmara dos Deputados estará, em 2015, mais fragmentada e menos experiente. Ela lembrou que, dos 513 deputados eleitos, 198 são novatos na Casa. “A experiência parlamentar faz diferença na atuação de cada deputado”, afirmou.

Débora Messenberg disse ainda que, em seu novo mandato, a presidente Dilma terá que negociar mais para conseguir aprovar projetos na Casa, que terá um perfil mais conservador. Ela afirmou que 48% dos deputados eleitos estão alinhados mais à direita, 26% à esquerda e 25% no centro. “Isso vai exigir mais negociação”, declarou.

Para a líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), a pressão da militância e da sociedade civil será fundamental para contornar a guinada à direita do Congresso, fato que lamentou. “Espero que a gente consiga manter o povo mobilizado porque, infelizmente, o Congresso que vem é mais conservador.”

Oposição ressalta divisão do País
Os líderes oposicionistas chamaram atenção para o resultado apertado das urnas, que indica uma divisão do País. Para o líder do DEM, deputado Mendonça Filho (PE), isso aumenta a responsabilidade dos partidos contrários ao governo. Ele afirmou que vai insistir nas investigações de escândalos envolvendo o governo federal, como é o caso da Petrobras.

“Haverá tumulto político geral tendo em vista esse quadro de contaminação do governo com os escândalos da Petrobras. A comissão parlamentar de inquérito terá de ser retomada na próxima legislatura, inclusive com possíveis processos de quebra de decoro parlamentar contra parlamentares envolvidos”, disse o líder oposicionista.

A CPMI da Petrobras tem funcionamento garantido até 23 de novembro. Para continuar as investigações, será necessário um novo pedido de investigação, com o apoio de 1/3 da Câmara e 1/3 do Senado.

Os partidos que estavam na chapa de Aécio Neves (PSDB, PMN, SD, DEM, PEN, PTN, PTB, PTC e PTdoB) elegeram 127 deputados. O PSDB será o maior partido de oposição, com 54 deputados – 10 a mais do que a bancada atual.

PPS e PSB, que apoiaram a candidata Marina Silva, negociam uma fusão entre as duas legendas. Juntos, os dois partidos teriam 44 representantes na Câmara.

O líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), ressaltou que o partido vai cobrar de Dilma “tudo que foi prometido na campanha”.

Reportagem – Carol Siqueira
Edição – Pierre Triboli

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