Política e Administração Pública

Ex-diretor da Petrobras nega ter superfaturado contratos e desviado recursos

10/06/2014 - 17:58  

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa declarou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras no Senado, nesta terça-feira (10), não haver qualquer cabimento na acusação do Ministério Público de que ele teria usado a condição de executivo da estatal para superfaturar contratos e desviar recursos que seriam lavados pelas empresas do doleiro Alberto Youssef.

“Acho que a Polícia Federal, o Ministério Público ou quem quer que seja devia aprofundar as análises dentro da Petrobras. Vão chegar à conclusão de que a Petrobras não é isso que estão falando. A Petrobras é uma empresa que orgulha o povo brasileiro e não tem isso que estão falando dela”, disse. Costa também foi convocado pela CPI mista da Petrobras, mas a data do depoimento ainda não foi marcada.

Prisões
O ex-diretor afirmou que não sabia que Alberto Youssef era doleiro e que teria sido apresentado a ele pelo ex-deputado José Janene, que morreu em 2010. Costa admitiu, porém, que uma empresa de consultoria aberta por ele depois que se aposentou da Petrobras prestou serviços ao doleiro, recebendo um carro pelo trabalho.

Costa e Youssef foram presos em março pela Operação Lava Jato, que identificou um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, com movimentação estimada em R$ 10 bilhões. O ex-executivo foi solto em maio, por decisão do ministro do STF Teori Zavascki, mas Youssef permanece preso.

“Alberto Youssef falou: ‘Paulo, eu posso te pagar essa consultoria em espécie ou posso te comprar um carro aqui.’ Como eu estava precisando trocar de carro, falei: então, compra o carro no valor da consultoria. Aqui constam R$ 250 mil, mas, na realidade, a consultoria foi de R$ 300 mil”, disse Paulo Roberto Costa.

O ex-diretor contou que, além de Youssef, atendeu 81 contratos de consultoria nas mais diversas áreas, como mineração e fornecimento de bens e serviços. “Para conhecimento de vocês, eu tenho um contrato firmado para vender uma ilha das Organizações Globo. É um projeto chamado Zest. Fui procurado por uma pessoa ligada a eles e tenho um contrato assinado para procurar um leasing imobiliário ou a venda dessa área para poder viabilizar um apoio para as operações offshore”, ressaltou.

Dinheiro
O relator da CPI da Petrobras, senador José Pimentel (PT-CE), perguntou qual seria a origem do dinheiro - R$ 762.250, US$ 181.495 e € 10.850 – apreendido pela Polícia Federal na casa do ex-diretor da Petrobras.

Segundo Paulo Roberto Costa, os dólares são resultado de economias; os euros seriam usados numa viagem; e os reais destinavam-se a uma série de negócios. “Na busca e apreensão, eu tinha realmente esses valores na minha casa, em reais. Eu tenho, como falei, uma empresa, e eu tinha necessidade de ter também dinheiro vivo para fazer uma série de negócios dentro da empresa, como pagamento de impostos e pagamento de uma série de coisas”, disse.

O ex-diretor negou que comandava de dentro da Petrobras uma organização criminosa, acusação que classificou como "uma maluquice". Segundo ele, no momento oportuno, tudo será explicado.

Doações
O senador Humberto Costa (PT-PE) listou uma série de empresas que tem contratos com a Petrobras e que fizeram doações a campanhas eleitorais. O líder do PT citou nominalmente políticos do PSDB que teriam recebido essas doações e quis saber se Paulo Roberto Costa ajudou alguma campanha.

“Não atuei. Isso não me competia. Não era da minha participação na companhia. Eu sempre fui um técnico e nunca deixei de ser um técnico”, afirmou.

Ao avaliar a participação de Paulo Roberto Costa na CPI, Humberto disse que o depoimento foi satisfatório, principalmente no que diz respeito a questões técnicas. Em sua avaliação, como muitas acusações foram negadas, só será possível esclarecer a verdade quando chegarem os documentos referentes à Operação Lava Jato, já requisitados pela comissão de inquérito.

“Espero que o STF nos envie o mais rápido possível. Seria importante que tivéssemos tais informações antes de ouvirmos as pessoas para que pudéssemos confrontar o que está sendo dito e o que está escrito. Infelizmente isso não aconteceu. Mas, se for necessário, qualquer depoente pode ser novamente convocado”, explicou o senador.

Abreu e Lima
Paulo Roberto Costa também negou ter havido superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Segundo ele, a Petrobras divulgou em 2005 que o empreendimento custaria US$ 2,5 bilhões sem ter ainda o projeto da refinaria, tampouco definições sobre processos licitatórios. Hoje, o custo está estimado em cerca de US$ 18 bilhões.

Para o executivo, Abreu e Lima é importante, pois há necessidade de uma refinaria de petróleo para atender a Região Nordeste.

Como tem ocorrido, nenhum senador da oposição participou da audiência com Paulo Roberto Costa, mantendo a decisão de concentrar esforços na CPI Mista da Petrobras, que também é integrada por deputados.

Após a reunião desta terça-feira, o relator José Pimentel informou que planeja dar continuidade à investigação de questões relativas à refinaria Abreu e Lima. O gerente-geral da unidade industrial, Glauco Colepicolo Legati, será o próximo a depor, em data a ser definida.

Da Redação
Com informações da Agência Senado

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