Política e Administração Pública

Campanhas eleitorais: principais mudanças de 1989 para 2014

O que mudou de 1989, ano das primeiras eleições diretas para presidente depois da ditadura, para 2014? Em que o marketing político e as novas tecnologias influenciaram as campanhas eleitorais?

05/10/2014 - 09:44  

Depois de quase 30 anos sem votar para presidente da República, a população brasileira se viu diante de 22 candidatos em 1989, um número recorde ao posto mais alto do Executivo. A principal reivindicação das “Diretas Já” finalmente virava realidade, e várias linhas políticas buscavam chamar a atenção e ganhar o voto do eleitor.

Consultor de marketing político Álvaro Lins fala sobre a participação na campanha de Collor à Presidência em 1989.

Políticos que participaram juntos da campanha pela volta das eleições diretas, como Ulysses Guimarães e Leonel Brizola, agora estavam em campos opostos.

O consultor de marketing político Álvaro Lins participou ativamente da campanha vitoriosa de um candidato até então desconhecido: Fernando Collor de Mello. Ex-colega de escola de Collor, ele recebeu um convite para coordenar a área de informação e contrainformação da campanha. Antes de acertar, foi conversar com um amigo, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

Álvaro Lins lembrou as palavras ditas por Lula na ocasião: “o Fernando Collor é um candidato pitoresco, ele não vai ter mais do que 4%, e essa história de marajá não dura nem dois meses”.

“Ele [Lula] me autorizou e eu fui trabalhar. E foi uma experiência muito importante profissionalmente porque foi a primeira eleição direta depois de 29 anos no Brasil”, disse Lins.

Mudança de rumo
Lula não acertou na análise, e Collor saiu vencedor em 1989. A importância do marketing político para o resultado final das eleições ficou clara no discurso contra a corrupção usado na candidatura de Collor, que ficou conhecido como “caçador de marajás”.

Para Lins, o ano de 1989 estabeleceu um marco para orientar todas as corridas eleitorais seguintes. “Foi um marco da modernidade e uma mudança na concepção de fazer campanha eleitoral. A partir daí, começou a se entender a importância da televisão, da informação e da contrainformação. A importância do computador e do relacionamento com o eleitor. O início da profissionalização na forma de fazer campanha eleitoral.”

Número de partidos
Para o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, o aumento do número de partidos é o principal fato negativo no comparativo das eleições de 1989 com as deste ano.

“O País tem hoje 32 partidos, e isso não consolida a democracia. Isso enfraquece a democracia. Acho que o País não tem pensamento nem opiniões programáticas com tantos partidos assim”, declarou Alves.

Redes sociais
Como ponto positivo, o presidente da Câmara citou as redes sociais e a democratização da comunicação, “que torna cada eleitor um comunicador social a partir de seu celular”.

Para Álvaro Lins, a forma antiga de se fazer campanha está com os dias contados e foi superada pela realidade altamente conectada da atualidade. “O panfleto, o carro de som e até o comício estão com os dias contados. [Hoje], o sujeito faz um post com o celular, coloca no Facebook e pode atingir 500 mil pessoas em 48 horas, a um custo zero”, afirmou.

“O candidato vai se preocupar em fazer uma mala direta com envelope que vai pagar correio e 90% vai para o lixo? E vai fazer santinho se a opinião que conta é dos amigos e parentes que estão nas redes sociais opinando que aquele é o melhor candidato?”, questionou Lins.

Na opinião de Álvaro Lins, essa interação entre os eleitores vai fortalecer a consciência política e gerar votos mais refletidos.

Ronaldo Caiado fala sobre a importância dos debates na campanha presidencial de 1989.

Debates eleitorais
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) afirmou que, em 25 anos, os debates eleitorais, com reflexão de propostas entre os candidatos, foram perdendo a importância. Ele foi candidato à Presidência em 1989, quando recebeu quase 490 mil votos, menos de 1% do total.

“O ponto alto [das eleições de 1989] foram os debates. O que vem acontecendo é o contrário hoje: você tem a presença de marqueteiros no processo. Pessoas que elaboram planos, muitas vezes o candidato pouco sabe sobre esses planos”, criticou Caiado.

Para o deputado, as campanhas de hoje não permitem ao eleitor conhecer, de fato, os candidatos. “As campanhas eleitorais são feitas muito mais na estrutura midiática ou de rede, do que do debate, da pergunta ao candidato, da sua capacidade de responder, firmar suas posições. A sociedade fica sem saber em quem está votando, se é em uma embalagem ou se esta embalagem tem conteúdo”, disse Caiado.

Reforma política
Do outro lado do espectro político, o deputado Nilmário Miranda (PT-MG) foi um dos comandantes da campanha de Lula em 1989. Ele também reclamou da falta de debates nas eleições atuais, dominadas pela venda de candidatos.

“Campanha tem de ser debate, campanha não é marketing, não é uma indústria eleitoral. Campanha tem de ser cidadania, e a 1989 foi assim, os debates eram decisivos. O debate político era decisivo, o que não era decisivo era a quantidade de dinheiro nas campanhas”, disse Miranda.

Para ele, essa realidade só vai mudar se houver “uma reforma política que estabeleça o financiamento público, estabeleça o papel de debates, debate de projetos, não vender candidatos”.

Reportagem – Tiago Miranda
Edição – Pierre Triboli

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.