Política e Administração Pública

Parlamentares exaltam Emenda Dante de Oliveira como marco democrático

Câmara realizou sessão solene em homenagem aos 30 anos de apresentação da proposta de realização de eleições diretas para presidente.

25/04/2013 - 13:56   •   Atualizado em 25/04/2013 - 16:38

Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Homenagem aos 30 anos da Emenda Dante de Oliveira – Diretas Já. Presidente da Câmara, dep. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)
Henrique Eduardo Alves destacou que a emenda foi "abraçada" pelo povo brasileiro.

Deputados elogiaram nesta quinta-feira a Emenda Dante de Oliveira como marco da luta democrática nacional. A proposta, apresentada à Câmara dos Deputados em 1983, durante o regime militar, restabelecia as eleições diretas para presidente da República no Brasil.

Para alguns parlamentares, as conquistas democráticas daquela época estariam ameaçadas por projetos em tramitação no Congresso, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/11, que atribui ao Congresso Nacional a prerrogativa de referendar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

A emenda Dante de Oliveira mobilizou a cena política brasileira, afirmou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. “Infelizmente, a emenda não foi aprovada pelo Congresso, mas foi abraçada e acalentada pelo povo brasileiro. Abraço traduzido na eleição de Tancredo, na Assembleia Constituinte e na Constituição Cidadã”, disse, durante sessão solene em homenagem aos 30 anos de apresentação da proposta.

Durante a votação em 1984, o presidente da Câmara já fazia parte do PMDB, partido de oposição aos militares, e votou a favor das eleições diretas para presidente da República. Henrique Alves disse que a participação popular foi essencial para o retorno das eleições diretas. Junto à emenda, uma grande manifestação popular, a campanha das Diretas Já, contribuiu para enfraquecer o regime militar.

Data histórica
O autor da homenagem, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), afirmou que o dia 25 de abril, data da rejeição da emenda das Diretas Já pela Câmara, deveria ser lembrado como um ato de transformação do País. “Essa emenda, que não teve o sucesso da aprovação, extrapolou as paredes do Congresso e contagiou cada brasileiro”, disse.

O então deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou sua proposta, assinada por mais 176 deputados e 23 senadores, em 2 de março de 1983. Pouco mais de um ano depois – em 25 de abril de 1984 –, a emenda foi rejeitada por uma Câmara de maioria governista. Na contagem, 298 deputados votaram a favor, 65 contra e 3 se abstiveram. Não compareceram para votar 112 deputados. Para que fosse aprovada, eram necessários pelo menos 320 votos a favor.

Luis Macedo / Câmara dos Deputados
Homenagem aos 30 anos da Emenda Dante de Oliveira – Diretas Já. Dep. Nilson Leitão (PSDB-MT)
Nilson Leitão acredita que o Brasil está se distanciando da democracia defendida por Dante de Oliveira.

Ameaças
Segundo Leitão, que é líder da Minoria, atualmente o Brasil está se distanciando a cada dia da democracia defendida por Dante de Oliveira. “É preciso que essa democracia alcance necessariamente cada rincão, assunto e tema que o Brasil não está querendo debater”, afirmou.

O deputado Roberto Freire (PPS-SP) criticou a PEC 33/11, que teve a admissibilidade aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. “Essa PEC pode ter tido qualquer intenção, mas a sua má redação ou alguns dos seus intuitos não ajudam a manter o que lá atrás conquistamos”, disse o parlamentar, que votou em 1984 a favor da emenda e pela redemocratização.

Para o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), a liberdade e a democracia conquistadas a partir de ações como a Emenda Dante de Oliveira podem ser perdidas quando os cidadãos não estão vigilantes. Ele criticou a aprovação pela Câmara de proposta (PL 4470/12) que restringe o acesso de novos partidos ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda política. “Isso contraria os ideais expressos na Emenda Dante de Oliveira e cerceia a liberdade ao limitar o poder do cidadão de votar em candidatos que representem suas ideias.” O texto estava em análise pelo Senado, mas teve a tramitação suspensa desde esta quarta-feira (24) por liminar do ministro do STF Gilmar Mendes.

Ulysses Guimarães
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) afirmou que o “sentimento da população é indestrutível”, referindo-se às manifestações a favor da proposta que pedia eleições diretas em todo o País. “Aquele cassetete que batia nos capôs dos carros que buzinavam só fez com que as pessoas buzinassem ainda mais, gritassem ainda mais”, lembrou o vice-líder do PDT.

Arquivo/Cedi
História do Brasil - Votação da emenda das Diretas-Já, de Dante de Oliveira
Dante Oliveira discursa durante a votação da proposta em 1984.

Segundo ele, a ideia da redemocratização e das eleições diretas já vinha sendo discutida no gabinete do então deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP). “Depois de se debater o assunto, doutor Ulysses sugeriu que se verificasse se já não havia alguma proposta nesse sentido tramitando na Casa. E foi quando se encontrou a Emenda Dante de Oliveira”, recordou.

O deputado Sarney Filho (PV-MA), que também votou a favor da Emenda Dante de Oliveira, disse que foi considerado traidor por seu partido à época, o governista PDS. “Fui acusado de traição, mas preferi seguir os clamores da sociedade que pedia o fim do regime militar e eleições diretas”, declarou.

Dante de Oliveira
Dante Martins de Oliveira (1952-2006) começou sua carreira política no MR-8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro), quando o grupo já havia optado pela via política em vez da luta armada contra a ditadura militar. Depois, foi filiado ao MDB e eleito deputado estadual em 1978. Em 1982, já pelo PMDB, elegeu-se deputado federal. Dante também exerceu os cargos de prefeito de Cuiabá e governador de Mato Grosso.

No ano passado a Câmara publicou um ensaio biográfico sobre o político matogrossense, de autoria do cientista político Paulo Kramer.

Na ativa
Dos deputados que participaram da votação em 1984, e que ainda estão na Câmara, votaram a favor da Emenda Dante Oliveira: Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Inocêncio Oliveira (PR-PE), José Genoíno (PT-SP), Roberto Freire (PPS-PE), Jutahy Júnior (PSDB-BA), Humberto Souto (PPS-MG), Sarney Filho (PV-SP) e Mário de Oliveira (PSC-MG), este último licenciado do cargo. Os deputados Simão Sessim (PP-RJ), Paulo Maluf (PP-SP) e Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) se ausentaram. Reinhold Stephanes (PSC-PR), também licenciado do cargo, se absteve.

Reportagem – Tiago Miranda e Murilo Souza
Edição – Marcos Rossi

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