Plenário deve decidir sobre desconto em venda com dinheiro

31/07/2009 - 17:40  

A Frente Parlamentar Mista do Comércio Varejista vai mobilizar a sua base para a votação da Medida Provisória (MP) 460/09, que reduz tributos para as construtoras de imóveis do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. A MP está trancando a pauta do Plenário. O objetivo da frente é aprovar a emenda 73, apresentada ao texto pelo senador Adelmir Santana (DEM-DF), que permite ao comércio cobrar preços diferenciados de acordo com o meio de pagamento escolhido pelo consumidor (dinheiro, cheque ou cartão de crédito).

A emenda foi aprovada no Senado após a mobilização da frente, que é presidida pelo deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC). Se ela for aceita na Câmara, e não sofrer veto presidencial, o varejo poderá cobrar preços diferentes nas compras com cartão (crédito e débito) e dinheiro.

Hoje essa possibilidade é proibida pela Portaria 118/94, do Ministério da Fazenda, que considera a compra com cartão como sendo pagamento à vista. A maioria das decisões judiciais emitidas no País desde 1990 caminham no mesmo sentido.

O relator da MP 460, deputado André Vargas (PT-PR), adiantou à Agência Câmara que vai pedir a rejeição da emenda. Para ele, o assunto é muito complexo e precisa ser melhor discutido. "Essa questão não pode ser tratada dessa forma. Tem que vir em um projeto de lei", afirmou.

Destaque para votação
Para a frente, a decisão do relator não encerra o debate. "Vamos pedir um destaque para votação em separado. O partido já fechou questão nisso", disse o vice-presidente da Frente do Varejo, deputado Guilherme Campos (DEM-SP). Ele e os demais parlamentares que defendem a emenda apostam na força da frente, que conta com 203 deputados, além do apoio de outros que já manifestaram simpatia com o assunto.

Há dois meses, por exemplo, deputados da comissão especial que debateu os efeitos da crise no sistema financeiro chegaram a discutir a possibilidade de aprovação de projeto de decreto legislativo sustando os efeitos da portaria ministerial. A proposta foi apresentada pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Decisões anteriores
Mas a disputa não será fácil. Nas outras vezes em que a questão foi debatida, no âmbito das comissões da Casa, projetos de teor semelhante à emenda 73 foram rejeitados. O último foi o PL 822/07, do deputado Guilherme Campos. Ele foi aprovado na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio em 2007, mas rejeitado na de Defesa do Consumidor no ano passado.

Assuntos diferentes
O debate da emenda 73 deverá ser um dos mais polêmicos na votação da MP 460. A matéria trata de assuntos diferentes como o Programa Minha Casa, Minha Vida, tributação e a criação de cargos no Executivo. Essa diversidade é um dos trunfos da frente mista, já que os opositores da emenda não poderão alegar assunto alheio à MP para rejeitá-la.

Caso a emenda seja rejeitada, a frente mista deverá focar os projetos que tramitam no Congresso, principalmente os que estiverem com tramitação mais adiantada. Entre as 15 propostas, a mais abrangente é o PL 4804/01, do deputado Edinho Bez (PMDB-SC), atualmente na Comissão de Finanças e Tributação. Ele trata da regulamentação da indústria de cartões. A maioria, porém, foca aspectos pontuais, como a permissão para diferenciar preços e a proibição de envio de cartão não solicitado pelo consumidor.

Perfil da indústria
No jargão financeiro, a proibição de diferenciar preços entre os meios de pagamento é conhecida como "regra do não sobrepreço", uma tradução para a expressão americana "no surcharge rule (NSR)". A prática não é restrita ao Brasil e, segundo o Banco Central, em relatório sobre a indústria de cartões divulgado em março, a sua aplicação está relacionada a fatores institucionais e de formação do mercado de cartões de cada país.

No Brasil, existem 535 milhões de cartões nas mãos dos consumidores, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). Entre 2000 e o ano passado a média anual de crescimento do número de cartões na praça superou os 20%. De acordo com o relatório do BC, a indústria é pouco competitiva, concentrada e aplica tarifas elevadas para os lojistas. O relatório diz ainda que o setor teme que a diferenciação de preços desestimule o uso de cartões de pagamento.

Veja como funciona o mercado de cartões

Continua:
Varejo aposta na aprovação da emenda para aquecer vendas

Notícias relacionadas:
Comissão rejeita lei sobre administração de cartões de crédito
Deputados querem criar CPI para investigar indústria de cartões
Debatedores apontam abusos de operadoras de cartões
Finanças aprova supervisão de empresas de cartão pelo BC
Comerciantes defendem preços diferentes para cartão e dinheiro

Reportagem - Janary Júnior
Edição – Regina Céli Assumpção

(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura `Agência Câmara`)

Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216.1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:agencia@camara.gov.br

A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara Notícias'.


Sua opinião sobre: PL 4804/2001

Íntegra da proposta