Meio ambiente e energia

Em seminário na Câmara, ambientalistas defendem diálogo com agronegócio para preservar cerrado

Taxa de desmatamento supera a da Amazônia e já destruiu mais de 50% do bioma; também foram defendidas políticas para agricultura familiar e extrativista

05/06/2018 - 18:36  

Participantes do seminário “Estratégia nacional para o cerrado brasileiro”, promovido na Câmara dos Deputados no Dia Mundial do Meio Ambiente nesta terça-feira (5), defenderam diálogo com representantes dos setores energético e do agronegócio para viabilizar a proteção do bioma. O debate foi realizado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável em parceria com a Frente Parlamentar Mista em Defesa do Cerrado. 

Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Seminário - Estratégia Nacional para o Cerrado Brasileiro
Cerrado tem hoje menos de 50% de combertura vegetal original

Jair Schmitt, do Ministério do Meio Ambiente, destacou que mais de 9 mil km2 de cerrado são desmatados por ano, contribuindo para a escassez de água no Brasil e impactando o clima. Ele informou que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais vai lançar nas próximas semanas um sistema de acompanhamento, em tempo real, do desmatamento do cerrado, nos moldes do que já existe para a Amazônia.

O presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Augusto Carvalho (SD-DF), que propôs o debate, ressaltou que a taxa de desmatamento do cerrado já supera a da Amazônia: o cerrado tem hoje menos de 50% de sua cobertura vegetal original e menos de 5% de sua extensão protegida sob a forma de unidades de conservação de proteção integral.

Produção e preservação
Coordenador do Programa de Agricultura e Alimentos do WWF Brasil, Edegar Rosa destacou a dificuldade de conciliar a riqueza ambiental com o potencial agrícola do cerrado. Segundo ele, o bioma representa 5% da biodiversidade mundial e 46% da água produzida no Brasil é produzida no cerrado. “Além de toda a importância ambiental, o cerrado é a casa de uma infinidade de povos tradicionais, que vivem da biodiversidade do cerrado”, ressaltou.

Por outro lado, segundo ele, metade da área do cerrado é voltada para a produção agropecuária em larga escala. “Aproximadamente 50% da soja, da cana e do milho e 94% do algodão do Brasil são produzidos no cerrado”, informou.

Para Paulo Fiuza, da Fundação Mais Cerrado, é preciso repensar o modelo de desenvolvimento, já que hoje ou se preserva ou se planta monocultura. “Precisamos mesmo alimentar o mundo? Precisamos acabar com nosso bioma para fazer ração para gado, para porcos?”, questionou. “O produtor rural tem que saber que tem alternativas, que pode trabalhar em áreas menores com mais tecnologias, de forma integrada com outras atividades”, acrescentou.

Política para uso sustentável
Na visão do professor Bráulio Dias, do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, falta uma política de uso sustentável do cerrado, que deve ser negociada com os vários setores, em câmaras permanentes de diálogo. “Não dá só para confrontar, é preciso estabelecer alianças com lideranças progressistas dos setores econômicos”, afirmou, citando os setores de energia e de agropecuária. Segundo ele, as áreas no cerrado são majoritariamente privadas, diferentemente do que ocorre na Amazônia; portanto, as estratégias têm que ser adaptadas a essa característica.

Para o especialista, o Código Florestal (Lei 12.651/12) continua sendo instrumento-chave para a proteção do cerrado, mas há um capítulo inteiro no código para fortalecimento de instrumentos econômicos para conservação do meio ambiente que não foi implementado pelo Poder Executivo. “O Congresso tem que cobrar do Executivo que avance nesta agenda”, afirmou.

Coordenador do Projeto “Estratégia Nacional para o Cerrado”, que foi tema do seminário, André Lima quer garantir que a preservação do bioma faça parte do programa de governo dos candidatos à Presidência da República.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Ana Chalub

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