Meio ambiente e energia

Ministério reconhece que são insuficientes os dados sobre impacto de agrotóxicos na saúde humana

21/06/2017 - 15:13   •   Atualizado em 21/06/2017 - 17:30

TV Câmara
Agropecuária - Agrotóxicos
Em audiência na Câmara, debatedores defenderam a substituição dos agrotóxicos pelo controle biológico de pragas

A Coordenadora Geral Substituta de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, Thaís Cavendish, reconheceu, em seminário na Câmara dos Deputados, na terça-feira (20), que há insuficiência de dados sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde das pessoas, mesmo com a criação pelo ministério da ‘Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos’ no início do ano 2000.

Um relatório publicado no ano passado consolida as notificações de intoxicações por agrotóxicos apresentadas desde a criação do programa. De acordo com a representante do Ministério da Saúde, estados que mais comercializam agrotóxicos, como Minas Gerais e Mato Grosso, apresentam o maior número de intoxicações.

"O que a gente observa ano a ano é o crescimento do uso de agrotóxicos acompanhado do crescimento da taxa intoxicações, lembrando que os casos estão subnotificadas", explicou Thaís durante evento da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Média superada
Dados do Ministério da Saúde mostram que a média de intoxicações no Brasil pelo uso de agrotóxicos é de 6 casos para 100 mil habitantes. Estados com uso mais intensivo do produto superam a média; Minas Gerais com 10 casos e Tocantins com 16, por exemplo.

Problema sério
Luís Cláudio Meirelles, pesquisador em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), considera o uso de agrotóxicos um sério problema de saúde pública. "Usamos uma série de produtos hoje que contaminam os alimentos, a água, tudo que é consumido diariamente, e que têm capacidades carcinogênicas, teratogênicas, mutagênicas e que reduzem nossa capacidade de resposta a doenças crônicas", alertou.

Ele destacou que a literatura internacional é inequívoca sobre os malefícios dos agrotóxicos. "Há muitos produtos banidos em outros países, mas que continuam sendo usados aqui", alertou.

Pouca oferta
Representantes dos produtores agrícolas reclamaram da pouca oferta dos biodefensivos. Reginaldo Lopes Minaré, consultor técnico da Confederação Brasileira de Agricultura e Pecuária, alertou para a má distribuição dos produtos de controle biológico. "Há que se considerar ainda que 4 milhões de agricultores no País vivem na pobreza e têm baixa escolaridade", advertiu.

Limites dos biodefensivos
Fabrício Rosa, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja do Brasil, disse ainda que o limite para o uso de biodefensivos é o nível do dano econômico. "Se a praga está em estágio avançado dentro da lavoura, o biológico não controla. E se não entrar com químico, o agricultor perde tudo", afirmou.

Ele ressaltou, entretanto, que o setor está interessado em novas tecnologias e trabalha para sua popularização. Ele estima que, nos próximos dez anos, com o aumento da oferta de biodefensivos, pode haver a mudanças no uso de agrotóxicos.

Reportagem – Geórgia Moraes
Edição – Newton Araújo

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