Meio ambiente e energia

Empresas: desperdício de água tratada resulta de gestão descentralizada do governo

Dados apresentados em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Urbano mostram que o desperdício de água tratada no Brasil pode resultar em perdas de R$25 bilhões até 2020.

20/08/2015 - 22:09  

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Audiência Pública para debater o uso racional da água nos âmbitos da gestão e da redução de perdas nos sistemas de abastecimento de água e da indústria de equipamentos hidráulicos e sanitários. Presidente do Sindicato Nacional das Industrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental (SINDESAM), Gilson Cassini
Gilson Cassini: o poder público ainda emprega tecnologias defasadas na infraestrutura hídrica, o que se reflete no alto número de obras paradas.

O desperdício de água tratada no Brasil pode resultar em perdas de R$25 bilhões até 2020. Representantes da indústria de equipamentos hidráulicos e sanitários discutiram nesta quinta-feira (20), na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, a contribuição do setor para a economia de água.

A má gestão pública das obras de saneamento é uma das causas da perda hídrica. O presidente da Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente (Apecs), Luiz Roberto Pladevall, criticou o excesso de ministérios envolvidos em políticas de saneamento. “Tem sete (ministérios), não tem dono, o dinheiro pode ser usado em muitas ações em um mesmo local, não há coordenação”, pontuou.

O dirigente citou relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) para o Ministério das Cidades, que mostra que dos 491 contratos de obras que representavam R$10 bilhões em investimentos no período de 2007 a 2011, apenas 58 foram executados, com o total de R$ 587 milhões investidos.

Para Pladevall, falta concretizar o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), lançado em 2012, com o objetivo de integrar as ações de abastecimento de água e esgotamento sanitário. “Ele precisa efetivamente entrar em cena, até hoje ele não foi para a rua”, criticou. “Não adianta colocar dinheiro nas obras, se não tiver equipe treinada para operar a tecnologia.”

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Audiência Pública para debater o uso racional da água nos âmbitos da gestão e da redução de perdas nos sistemas de abastecimento de água e da indústria de equipamentos hidráulicos e sanitários. Dep. João Paulo Papa (PSDB-SP)
João Paulo Papa: água é o tema mais sensível na tendência de a população brasileira se concentrar em regiões metropolitanas.

Na opinião do presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental (Sindesam), Gilson Cassini, o poder público ainda emprega tecnologias defasadas na infraestrutura hídrica, o que se reflete no alto número de obras paradas. Conforme ele, a solução é melhor aproveitar a capacidade tecnológica do setor de saneamento no processo licitatório.

O deputado João Paulo Papa (PSDB-SP), que solicitou a audiência, reiterou a importância do debate no processo de urbanização. “A água é o tema mais sensível na tendência de a população brasileira se concentrar em regiões metropolitanas.”

Inovações na indústria
Pesquisas industriais para controlar o desperdício de água no País começaram no final da década de 1990, com metas para reduzir o tamanho das bacias de descarga. Após testes com bacias de 9 e 6 litros, os estudos apontaram que a maior economia vinha da descarga com 6,8 litros.

Hoje, todos os equipamentos sanitários do mercado, incluindo as destinadas à população de baixa renda, usam bacias de 6,8 para remoção de dejetos. Além disso, a indústria lançou no mercado em 2008 o sistema de duplo acionamento, que permite ao usuário regular o volume de água.

Essas adaptações resultaram em economia de 35 litros por pessoa ao dia, segundo Luiz Claudio Ferreira Leite, representante da Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais para Saneamento (Asfamas) – que reúne 38 firmas do setor hidráulico e de saneamento com faturamento de R$ 10 bilhões ao ano.

Leite argumentou, no entanto, que a baixa qualidade dos componentes hidráulicos ainda prejudica a qualidade da água. “A inovação deve ser embasada em parceria entre indústria e academia e de regulamentos que garantam boa performance dos equipamentos”, defendeu.

Já o presidente paulista do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaencom), Carlos Roberto Mingione, sugeriu implantar a medição individual de água em condomínios. Ele estima que a iniciativa vai reduzir em 20% o consumo de água.

Reuso
Para Gilson Cassini, não faz sentido construir novas estações hídricas que usem a água limpa para produzir mais água limpa. “É preciso incentivar a cultura do reuso e ter vontade política para isso”, ressaltou.

Cassini assinalou que a demanda internacional pela reutilização da água deve crescer em 33% até 2025 nos Estados Unidos, China e Espanha. Ele lembrou que as soluções – tratamento e reuso de resíduos líquidos provenientes da indústria, do esgoto e das redes pluviais, válvulas de controle da pressão, maior pressão nos horários de pico – podem trazer uma economia de um milhão de litros por dia. “Onde é que nós estamos nesse processo?”, indagou.

Reportagem - Emanuelle Brasil
Edição – Regina Céli Assumpção

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