Educação, cultura e esportes

CBF não cumpre pacto contra abuso de crianças e adolescentes nos clubes esportivos, apontam deputados

Em entrevista à Rádio Câmara, à noite, o secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol disse ver com estranheza as queixas de parlamentares

19/09/2017 - 14:08   •   Atualizado em 19/09/2017 - 19:03

Lúcio Bernardo Jr. -Câmara dos Deputados
Audiência Pública para a Implementação do pacto firmado entre a CBF, clubes esportivos e a CPI - Exploração sexual de crianças e adolescentes, pela proteção das crianças e dos adolescentes.
Participantes entenderam que pacto que incluía campanhas de prevenção, qualificação de profissionais, recebimento de denúncias e fiscalização pela CBF foi deixado de lado pela confederação, que não mandou representante para o debate

Integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara apontaram que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não cumpre o pacto pela proteção das crianças e dos adolescentes firmado com a CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2014.

O pacto incluía, por exemplo, a promoção de campanhas de prevenção dos crimes de exploração sexual; a qualificação de profissionais para atuação preventiva junto às crianças; o uso da ouvidoria da CBF para recebimento de denúncias; além da fiscalização das escolas de formação de atletas. Na época, o Brasil se preparava para a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e a CPI promoveu esforços para organizar a proteção de crianças e adolescentes durante esses eventos.

Três anos depois, a avaliação dos parlamentares é de que o pacto não vem sendo cumprido pela confederação. O assunto foi debatido em audiência pública na comissão nesta terça-feira (19). O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, foi convidado, mas não compareceu.

À noite, em entrevista à Rádio Câmara, o secretário-geral da CBF, Walter Feldmann, disse estranhar as queixas. “Vejo com estranheza, já que fizemos um extenso relatório apresentado à Comissão de Direitos Humanos e Minorias e acredito, inclusive, que extrapolamos o que foi acordado”, afirmou.

Feldmann destacou a criação de programas e campanhas contra o abuso de crianças e adolescentes, desenvolvidas junto as clubes e as escolinhas de futebol. “Estamos dando um tratamento prioritário à questão”, continuou, colocando a CBF à disposição para esclarecimentos.

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, e representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes também foram convidados para a audiência, mas não compareceram.

Pontos não cumpridos
“A CBF cumpriu parcialmente apenas duas ações das dez previstas no pacto”, avaliou a deputada Erika Kokay (PT-DF), autora do requerimento para a audiência. Ela cita que a CBF apoiou campanhas educativas e promoveu cursos de qualificação para profissionais, mas, nesse caso, o tema do abuso sexual não foi abordado. A entidade também criou grupo de trabalho sobre o tema, mas o grupo já foi dissolvido, sem chegar a resultados.

Segundo a deputada, as denúncias de abuso e de exploração sexual nas escolinhas e clubes de futebol permanecem. A comissão vai avaliar o que pode ser feito, do ponto de vista judicial e extrajudicial, para que a CBF cumpra seu compromisso. “Não podemos permitir esse desrespeito ao Parlamento e às crianças e adolescentes”, destacou Erika.

Breiller Pires, jornalista do jornal El País Brasil, autor de reportagens sobre exploração sexual em escolinhas de futebol no País, afirmou que a CBF não cumpre, por exemplo, o ponto do pacto que prevê a fiscalização das atividades das escolas de formação de atletas, e muito menos o ponto que prevê a adoção de medidas punitivas para os clubes que descumprirem as determinações da CPI.

Conforme o jornalista, tem crescido o número de casos de abuso sexual no futebol brasileiro. Ele levantou 102 casos desde 2011; 70 desde a Copa de Mundo de 2014; e 14 casos só neste ano. Porém, estima que o número é muito maior. “No Brasil, apenas 7% dos casos de violência sexual são denunciados”, salientou. Na opinião do jornalista, parte da receita da CBF deveria utilizada para a prevenção do problema.

Conivência
“Os casos que são denunciados não correspondem nem de perto ao que ocorre na realidade”, reiterou o ex-jogador Alê Montrimas, que foi assediado durante sua carreira. Ele disse que o assunto assédio e abuso sexual no futebol é sempre colocado em segundo plano nos clubes. Para ele, alguns clubes são inclusive coniventes com os crimes, já que não divulgam os casos de abuso, mas apenas mandam embora o abusador.

Na visão dele, as crianças não entendem o que é assédio e abuso sexual e não sabem evitá-los. “Os abusadores usam do sonho de menino de ser jogador de futebol para abusá-lo”, observou. Montrimas foi jogador de futebol durante 20 anos e vem promovendo campanhas em clubes no estado de São Paulo sobre o tema.

Reportagem – Lara Haje
Edição – Rachel Librelon e Ralph Machado
Com informações da Rádio Câmara

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