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Torcidas questionam acesso a estádios em debate na comissão da MP do Futebol

O relator da MP, deputado Otávio Leite, informou que pretende apresentar seu relatório na próxima terça-feira (2).

26/05/2015 - 19:00  

Marcos Oliveira/Agência Senado
Reunião da Comissão mista da MP do Futebol (671/15)
Representantes de torcidas organizadas defenderam cota mínima de 50% dos ingressos de cada partida para serem vendidos a preços mais acessíveis. 

Em audiência pública realizada nesta terça-feira (26), a comissão mista que analisa a medida provisória (MP) do Futebol (671/15) ouviu representantes de torcidas organizadas. Os convidados dirigiram críticas especialmente aos preços de ingressos e às estratégias de ocupação de estádios atualmente em voga no futebol brasileiro.

Apesar de o tema em debate não ser diretamente relacionado à matéria da medida provisória (o refinanciamento das dívidas fiscais e trabalhistas dos clubes brasileiros), os representantes das torcidas argumentaram que a questão da presença de torcedores nas partidas tem a ver com a qualidade do espetáculo do futebol – que também se relaciona com as medidas de moralização de gestão e responsabilidade fiscal que a MP do Futebol propõe.

“Os principais atores desse espetáculo somos nós, torcedores. Somos consumidores e temos um produto ruim. Tudo que está sendo discutido aqui é para nós, para termos um produto melhor no nosso futebol”, resumiu André Azevedo, presidente da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg).

Ingressos caros
Os convidados disseram acreditar que a modernização dos estádios brasileiros, promovida em decorrência da Copa do Mundo de 2014, provocou um encarecimento dos ingressos que “elitizou” as arquibancadas.

Rodrigo Fonseca, presidente da Gaviões da Fiel (torcida organizada do Corinthians), falou a respeito do assunto: “Consideramos perigosa a confusão que se dá entre a modernização e a exclusão do povo mais pobre. Fizeram as arenas e esqueceram-se de enchê-las. Futebol não é só para a elite. O torcedor da classe D tem que voltar a frequentar os estádios”.

Para Gabriel Naman, diretor social da Urubuzada (torcida organizada do Flamengo), existe ainda o problema de que muitas das obras em estádios para a Copa foram feitas com dinheiro público e, no entanto, o público tem pouco acesso a eles.

“Eu paguei pela reforma do Maracanã, mas hoje não posso pagar pelo ingresso. Fora o transporte e a alimentação no estádio, que também são caros. Hoje em dia, vemos estádios sem graça, sem jovens, sem pobres. Fazer uma festa numa arena dessas é muito complicado”, afirmou.

Sócio torcedor
Os membros das organizadas também criticaram a disseminação dos programas de sócio torcedor, através dos quais os torcedores pagam um valor fixo mensal aos clubes em troca de benefícios, como descontos ou preferência na compra de ingressos. Para eles, esses programas reduzem a oferta de ingressos disponíveis para quem não pode arcar com um plano de sócio torcedor.

“Para você ter o ingresso, tem que pagar a mensalidade. O torcedor não tem mais a iniciativa de simplesmente pegar o seu filho e ir ao jogo, porque hoje quase toda venda é digital, ou destinada a sócio”, observou André Azevedo, da Anatorg.

Rodrigo Fonseca, da Gaviões da Fiel, disse entender que os programas de sócio torcedor sejam uma fonte consistente de arrecadação para os clubes, mas chamou a atenção para as baixas médias de público nos principais campeonatos, uma consequência, segundo ele, da redução dos setores de arquibancada com ingressos a preços baixos.

“Não achamos vantajosa a política de encarecimento dos ingressos, por mais que ela possa apresentar números de arrecadação que os dirigentes consideram satisfatórios. O ideal seriam estádios cheios, que talvez mantivessem uma arrecadação próxima à que os clubes parecem buscar”, avalia Rodrigo.

Cota mínima
Fonseca argumentou que os setores chamados “populares” são os que frequentemente apresentam maior taxa de ocupação. Baseado nisso, ele propôs a adoção de uma cota mínima de 50% dos ingressos de cada partida para serem vendidos a preços mais acessíveis. Em sua avaliação, esse valor deve ser de, no máximo, 4% do salário mínimo – o que, hoje, corresponderia a R$ 31,52.

O vice-presidente da comissão mista, deputado Andrés Sanchez (PT-SP), que foi presidente do Corinthians, apresentou uma perspectiva dos dirigentes em relação a esse tema. De acordo com ele, o preço crescente dos ingressos tem a ver com os impostos que os clubes precisam pagar. Além disso, seria necessário compensar a arrecadação perdida com as meias-entradas, cuja oferta Sanchez considera excessiva.

Conteúdo da MP
Os convidados também falaram especificamente sobre o texto da medida provisória e as exigências que ela faz aos clubes para admiti-los no programa de refinanciamento de dívidas fiscais e trabalhistas.

Gabriel Naman, da Urubuzada, elogiou o espírito do projeto, por orientar os clubes a adotarem práticas de gestão mais sustentáveis. “A lei é importante no sentido da moralização. Além de dar aos clubes a possibilidade de terem uma vida mais saudável, pagando suas dívidas, leva a maior eficácia administrativa. Qualquer torcedor quer que seu clube tenha esse tipo de gestão.”

No entanto, Naman explicou que, no caso de seu clube, as mesmas providências gerenciais e de responsabilidade fiscal trazidas pela MP já estão sendo implementadas. Ele acredita que é possível que os clubes adotem essa postura por iniciativa própria.

“O Flamengo sempre foi conhecido por ser um clube bagunçado, que não pagava salários. Hoje o clube já penaliza seus dirigentes que não cumprirem o orçamento. Esse tipo de atitude tem que ser prolongada para todos os clubes do País”, afirmou Naman.

Os pressupostos de gestão responsável da MP também são discutidos internamente no Corinthians, segundo relatou Rodrigo Fonseca, da Gaviões da Fiel. “Grande parte do que é apresentado [na MP], a Gaviões já cobra do Corinthians: maior transparência nos relatórios financeiros e balanços, melhor planejamento e comprometimento de receitas futuras dentro de um limite.”

Próximos passos
A audiência foi a única atividade da comissão programada para esta semana. O relator da MP, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), informou que pretende apresentar seu relatório na próxima terça-feira (2). Uma semana depois disso, a comissão deve votar o texto e enviá-lo para apreciação do Plenário da Câmara dos Deputados.

A MP 671 tem validade até o dia 17 de julho.

Da Redação – NA
Com informações da Agência Senado

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