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Especialista defende integração de ensino presencial e online para personalizar educação

04/05/2016 - 13:42  

Divulgação/Cid Queiroz
Educação - geral - audiência ensino híbrido em 04 maio 2016
Frente Parlamentar e Comissão de Educação discutiu o Ensino Híbrido em mais uma palestra do ciclo Educação em debate

A pesquisadora Lilian Bacich, da Universidade de São Paulo (USP), defendeu, em debate na Câmara dos Deputados, a integração entre o ensino presencial e propostas de ensino online visando à personalização do atendimento escolar. Essas medidas fazem parte do Ensino Híbrido, ou “blended learning”, uma das tendências da Educação do século XXI.

Lilian Bacich é doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano e discutiu o tema com os parlamentares, nesta quarta-feira (4), em mais uma palestra do ciclo Educação em Debate, promovido pela Frente Parlamentar Mista da Educação e pela Comissão de Educação da Câmara.

O presidente da Frente da Educação, deputado Alex Canziani (PTB-PR), afirmou que a mudança no paradigma do processo de aprendizagem é imprescindível para tornar o ensino atraente para os jovens.

"A própria discussão da Base Nacional Comum Curricular, cujo segunda versão foi apresentada ontem pelo Ministério da Educação, evidenciou que os jovens acabam tendo baixo rendimento pelo desinteresse na escola tradicional. São pessoas do século XXI, aprendendo com professores do século XX, que utilizam pedagogia do século XIX", compara o parlamentar.

Nova sala de aula
Lilian Bacich fez um relato sobre o projeto desenvolvido pelo Instituto Península e a Fundação Lemman, que permitiu o lançamento do primeiro curso de ensino híbrido do Brasil, em abril de 2014. O curso serviu para a criação de um grupo de experimentações em Ensino Híbrido, formado por 36 professores selecionados entre 1.700 profissionais de todo o Brasil que se inscreveram para participar do programa.

Nas oficinas do curso, os professores foram desafiados a reorganizar o espaço da sala de aula e a refletir sobre o papel dos estudantes. Bacich explicou que, numa nova organização da sala de aula, os alunos passam a conversar entre eles e os papéis mudam.

“O professor passa a ser mediador, e o aluno, mais protagonista. Aparecem alunos que assumem liderança e passam a colaborar no processo de ensino. Isso mesmo antes de usar a tecnologia – só com a reorganização. Só depois é que a gente introduz os recursos da tecnologia”, afirma.

Envolvendo a comunidade
Segundo a professora da USP, para dar efetividade à nova proposta pedagógica, é preciso envolver os gestores e toda a comunidade escolar, incluindo as famílias. Além disso, é preciso oferecer recursos ao professor, promover a troca de experiências e refletir sobre formas de personalizar a avaliação dos alunos.

“Pesquisas enfatizam a importância de uma reelaboração da cultura escolar para uso das tecnologias. Substituir apenas a lousa tradicional pelo recurso tecnológico não traz benefícios. Será a mesma aula e, portanto, o mesmo resultado”, sustenta Bacich.

Não à média
O problema do ensino tradicional, apontam os críticos, é que ele é normalmente voltado para a média – nem é dirigido aos que têm dificuldades e nem para os que assimilam o conhecimento mais rápido.

Citando o pesquisador L. Todd Rose, Bacich afirma que se desenhamos um ambiente de aprendizagem para a média, fazemos esse ambiente para ninguém. Aqueles com mais dificuldades não acompanham, e os mais avançados se desinteressam.

“Mesma avaliação para todos não é uma avaliação justa. Precisamos trabalhar pelas bordas e não com as médias. Daí a importância do papel da avaliação e da utilização eficiente de dados que as tecnologias digitais permitem. A oferta de dados dá, de forma mais rápida, o resultado do ensino”, destaca a pesquisadora.

“Na sala de aula, o professor tem, ao longo do semestre, oportunidades de avaliação por meio de formulários online, que os alunos podem preencher. Isso proporciona uma experiência integrada da aprendizagem, de forma que o aluno possa controlar o ritmo, o espaço e o seu próprio tempo e se colocar no centro de todo o processo”, argumenta a consultora do Instituto Península.

Modelos
Bacich explica que a estrutura de ensino no Brasil, de escola seriada e dividida em disciplinas, torna mais adequado o modelo de rotação de estações. Nesse modelo, as turmas se dividem em vários grupos trabalhando com propostas diferenciadas que se integram. Essa configuração favorece uma ação colaborativa com uso compartilhado da tecnologia disponibilizada, evitando o isolamento de alunos.

Outro modelo adotado no País é de rotação de laboratório (ou lab rotation, em inglês), na qual são combinados momentos na sala de aula e no laboratório de informática, com conteúdos complementares.

Assim, para uma disciplina, o estudante pode passar a primeira aula em um laboratório de informática usando recursos online para o primeiro contato do tema. Na aula seguinte, com a ajuda do professor e em companhia dos colegas, ele pode aprofundar o que aprendeu e aplicar os conceitos, desenvolvendo projetos, debatendo o assunto, trabalhando exercícios de contextualização, tirando dúvidas, entre outras atividades.

Foco no aluno
Lilian Bacich afirmou ainda que “não é a tecnologia que deve estar no centro do processo, mas sim o aluno. Também é muito importante o apoio dos gestores e o envolvimento de toda comunidade escolar com a proposta. O aluno pode até achar interessante, mas, se o seu entorno, a sua própria família, compreender aquilo como aprendizagem, ele vai aproveitar melhor”.

Da Redação - NA
Com informações da Frente Parlamentar Mista da Educação

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