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ABO condena excesso de cursos de pós-graduação em ortodontia

Associação reclama da falta de critérios para a criação desses cursos e alerta para a baixa qualidade do ensino dessas instituições.

27/05/2010 - 18:12  

Brizza Cavalcante
Ronaldo Jardim: muitos cursos são oportunistas, exclusivamente focados no negócio.

A criação sem critérios de cursos de pós-graduação na especialidade de ortodontia foi criticada nesta quinta-feira em audiência pública na Comissão de Educação e Cultura. No debate sobre a qualidade do ensino de pós-graduação em ortodontia, o presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABO), Ronaldo da Veiga Jardim, disse que o excesso de cursos contribui para a baixa qualidade do ensino e para a formação de "pseudo-especialistas".

Para ele, muitos cursos são oportunistas, exclusivamente focados no negócio. "Diversos cursos de especialização, mesmo em desacordo com critérios técnicos e com as demandas da sociedade brasileira, são apresentados como forma de garantir emprego em um mercado já praticamente saturado", afirmou.

O vice-presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO), Emanuel Dias de Oliveira e Silva, informou que 1/3 dos cursos de especialização odontológica é na área de ortodontia. Segundo o presidente da ABO, em setembro de 2009 existiam 309 cursos de pós-graduação em ortodontia registrados no CFO. "Isso sem contar os cursos que aparecem como credenciados pelo Ministério da Educação mas não estão registrados no conselho. Estima-se que o número possa até dobrar por conta disso." Jardim disse ainda que nos Estados Unidos existem apenas 64 cursos de pós-graduação em ortodontia.

Conforme o presidente da ABO, somente 22 cursos existentes no Brasil têm carga horária superior a 2.000 horas/aula. A Federação Internacional de Ortodontia recomenda pelo menos 3.700 horas/aula. Já o CFO define como 1.000 horas/aula a carga horária mínima para especializações na área.

Atuação de conselhos
Na audiência, o presidente da Comissão de Educação e Cultura, deputado Wilson Picler (PDT- PR), afirmou que pretende apresentar proposta de alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) para permitir que os conselhos profissionais possam estabelecer critérios adicionais para a validação dos diplomas e certificados de pós-graduação lato sensu em ortodontia e em outras áreas da saúde. "A livre concorrência na área de educação é predatória e causa uma série de distorções", opinou.

O vice-presidente do CFO também defendeu a atuação dos conselhos profissionais federais e estaduais para opinar sobre as reais demandas da sociedade nesta e em outras áreas da saúde.

Já a deputada Luciana Costa (PR-SP), que também é cirurgiã-dentista, defendeu a inclusão de mais disciplinas sobre ortodontia dentro do currículo normal dos cursos de graduação.

Mestrado
Para o diretor de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação, Paulo Roberto Wollinger, os cursos de pós-graduação lato sensu não garantem a formação de profissionais capacitados para atuar na especialidade de ortodontia ou em outras áreas da saúde. Ele defendeu os mestrados profissionais como saída para garantir a qualidade na formação de especialistas.

Ortodontia é uma especialidade odontológica que corrige a posição dos dentes e dos ossos maxilares posicionados de forma inadequada.

Reportagem - Murilo Souza
Edição - Lara Haje

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