Direitos Humanos

Deputados e ativistas pedem mais valorização dos negros na sociedade

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi tema de sessão solene na Câmara dos Deputados

19/11/2015 - 17:45  

Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra no Brasil. Ministra das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Brasil, Nilma Lino e Dep. Tia Eron (PRB/BA)
Sessão solene teve a presença da ministra Nilma Lino e foi presidida pela deputada Tia Eron

A ocupação de postos importantes no governo, na economia, nas artes e na vida social brasileira por pessoas negras foi o mote da sessão solene que lembrou nesta quinta-feira (19), na Câmara dos Deputados, o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Ainda que a escravidão tenha sido abolida em 1888 e o País tenha aprovado leis importantes, como o Estatuto da Igualdade Racial, parlamentares e pessoas ligadas ao movimento negro lamentaram o fato de o racismo ainda existir no Brasil.

Presente à homenagem, a ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino, destacou que o negro e a negra devem estar em todos os lugares da sociedade. Esse, aliás, é o tema da campanha “Novembro pela Igualdade Racial”, lançada pelo governo federal em comemoração ao mês da consciência negra.

“Nós, negros e negras, temos o direito de ocupar todo e qualquer lugar na nossa sociedade e não aquilo que comumente se pensa, dentro de um imaginário racista, que existem alguns lugares específicos para essa população”, afirmou Lino.

Visão estrangeira
Essa visão é corroborada mesmo por quem vem de fora e já viajou muito, como a consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras. Ela disse que o Brasil é um dos países mais racistas do mundo e, por aqui, sobrevive uma herança ligada à escravidão. “O Brasil ainda não quis se olhar no espelho. Onde estão os negros nos bancos executivos? Na televisão, a negra é a faxineira. Temos uma estigmatização muito forte do negro, que é sempre o criminoso, o traficante de drogas”, observou.

Negra, a própria Loras se depara constantemente com o racismo velado no País. “Todos os dias, há brasileiros que me perguntam se sou francesa mesmo. A França também tem 400 anos de escravidão, também possui uma cara multicultural. Claro, o marketing mundial da França são mulheres como Brigitte Bardot. Eu nunca vou parecer a Brigitte Bardot, mas sou francesa.”

Em mensagem lida na sessão pela deputada Tia Eron (PRB-BA), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também reconheceu que “o racismo e a desigualdade permanecem presentes na vida brasileira e, portanto, devem ser combatidos”. Essa desigualdade, segundo Cunha, se reflete nas oportunidades educacionais e de emprego e ainda na violência, que atinge mais os jovens negros do que os brancos.

Por sua vez, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), lamentou o que chamou de “genocídio da cultura afro-brasileira”, com o desaparecimento de línguas africanas. “Minhas avós e bisavós, que foram escravas, se reuniam em 13 de maio [Dia da Abolição da Escravatura], falavam suas línguas. A língua constitui independência também.”

Pedido de desculpas
O pedido do procurador do Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro Wilson Prudente é para que o governo ou o Congresso Nacional trabalhem em um decreto reconhecendo que o Estado brasileiro praticou o crime de escravidão e pedindo desculpas.

Também Tia Eron, que sugeriu a sessão solene, disse que o Congresso não pode se furtar de discutir o racismo, nem pensar que a pauta se esgotou depois do Estatuto da Igualdade Racial. “Muito pelo contrário. Temos vários artistas e celebridades vítimas de racismo, mas quero chamar a atenção porque esse é o dia a dia dos nossos cidadãos”, declarou.

Já o deputado Damião Feliciano (PDT-PB) defendeu a indicação de negros para os ministérios do Planejamento, da Educação e da Saúde. “O que falta para o País é colocar políticas públicas onde estão os bolsões da nossa cor. Não adianta dizer que é importante que o negro tenha o seu espaço, se não nos derem oportunidade. Queremos o espaço que nós merecemos na sociedade brasileira”, comentou.

A data de 20 de novembro foi escolhida como Dia Nacional da Consciência Negra por ser o dia da morte, em 1695, de Zumbi dos Palmares, um dos nomes da resistência negra no Brasil.

Reportagem – Noéli Nobre
Edição – Marcelo Oliveira

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