Direitos Humanos

Em missão nos EUA, CPI se surpreende com depoimento de brasileiro traficado

21/11/2013 - 00:13  

Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga o tráfico de pessoas estão nos Estados Unidos desde o início desta semana, ficaram impressionados com o depoimento de Marcel Lee Paul, que no Brasil se chamava Marcelo, e que teria sido traficado de São Paulo para os EUA há cerca de 28 anos, junto com sua irmã Raquel.

Em Milwakee, principal cidade do estado de Winsconsin, os parlamentares ouviram de Marcelo, hoje com 35 anos, que ele tinha certeza de que foi vítima de uma quadrilha, detalhando com clareza como aconteceram os fatos, após se perder com a irmã, depois que saiu de casa, em Cajamar - cidade próxima a Jundiaí/SP -, para tentar chegar à casa de seu pai, em uma cidade vizinha. Hoje casado, e tendo reencontrado sua família brasileira por meio da Internet, Marcelo que é deficiente auditivo, contou aos deputados sua vontade de voltar a morar no Brasil.

“Foi um depoimento revelador porque ele disse ter presenciado a troca de dinheiro entre pessoas que o levaram para o exterior. Ele (Marcel) se considera uma vítima do tráfico humano”, disse o presidente da CPI, Arnaldo Jordy (PPS-PA), em entrevista por telefone.

Os parlamentares cumprem agenda oficial, como reuniões com representantes do governo norte-americano e organizações não governamentais (ONGs) que fazem o enfrentamento ao tráfico humano.

As investigações deste caso envolvem a ONG Limiar, com sede nos EUA e com filial na capital paulista, mas com atuações também em Curitiba/PR, e que podem desvendar uma rede de adoções ilegais que teria enviado para fora do País, mais de 1.700 crianças, com possível envolvimento de autoridades, inclusive da Justiça.

Reuniões com autoridades
Na capital americana, Washington, os parlamentares brasileiros participaram de reuniões com autoridades do Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security – DHS), agentes federais e de inteligência, responsáveis pelo combate e enfrentamento e do Departamento de Saúde, que fazem o atendimento de vítimas das quadrilhas que negociam humanos, principalmente mulheres e crianças.

Os parlamentares estiveram reunidos com diretores da ONG The Human Prosecution Unit - Divisão de Direitos Civis dentro do Departamento Criminal que unifica as ações e experiência de alguns dos principais promotores contra o tráfico humano dos Estados Unidos, inclusive no apoio às vitimas de tráfico humano, principalmente jurídico, pois a maioria das vítimas deste crime, como em outros países, não tem acesso fácil à justiça e aos seus direitos.

ONGs
A CPI reuniu-se na tarde desta quarta-feira (20), em Nova Iorque, com organizações como a Safe Orizon, a New York Anti-Trafficking Network, a The Alliance to End Slavery and Trafficking, além da Blue Campaign, que unifica os órgãos de segurança do DHS, no combate ao tráfico de seres humanos, e que trabalham em colaboração com a polícia, governo, outras organizações não governamentais e privadas.

De acordo com Jordy, o contato com autoridades e entidades americanas é extremamente válido para o rastreamento e a identificação das quadrilhas que operam na negociação de pessoas, e de suas rotas. “O tráfico humano é uma calamidade mundial, um crime tão absurdo quanto lucrativo, e que tem operado à margem das leis e autoridades, bem como da sociedade, que não ainda consegue identificar quando a violação está acontecendo.”

Jordy acrescentou que é importante que as relações entre os países sejam fortalecidas, “de modo que as autoridades estejam capacitadas para combater as quadrilhas e que a sociedade tenha a consciência para denunciar”, afirmou.

Tradicional destino de imigrantes ilegais, por vezes vítimas de quadrilhas internacionais que negociam humanos dos mais diversos países, como China, Vietnã, Rússia e de seus vizinhos como o México, os americanos têm interesse nas investigações que estão sendo realizadas pela CPI brasileira, inclusive nas propostas legislativas que estão sendo apresentadas pelo colegiado.

Estatísticas
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas para exploração sexual é a terceira maior fonte de renda ilegal no mundo, após o tráfico de drogas e de armas, movimentando em torno de 32 bilhões de dólares (cerca de R$ 60 bilhões) por ano. Estima-se que, por ano, quase um milhão de pessoas sejam traficadas, das quais 98% são mulheres. O Brasil lidera o vergonhoso ranking dos maiores exportadores de mulheres, com 85 mil vítimas.

Da Redação – RCA

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