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Debatedores defendem redução da vazão do reservatório de Sobradinho

04/11/2015 - 20:21  

Debatedores presentes em audiência pública da Comissão Mista de Mudanças Climáticas defenderam, nesta quarta-feira (4), a diminuição da vazão do reservatório de Sobradinho, no rio São Francisco, que deverá passar dos atuais 900 m³ por segundo para 800 m³ por segundo.

O diretor de operação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), José Ailton de Lima, afirmou que o que está em discussão para reduzir essa vazão não é a geração de energia elétrica, porque ela já é gerada por outras fontes, mas, sim, estender o estoque de água do reservatório de Sobradinho ao máximo possível.

Lima explicou que, caso não chova, ou se a vazão não for diminuída, a água do reservatório acabará no mês de dezembro, e será preciso utilizar a água do que chamam de “volume morto” da bacia. Segundo ele, o uso dessa água não é uma questão trivial, já que existem dúvidas se ela é boa para o consumo humano.

“Como não temos modelo de previsão de chuva e chegada de água, a única coisa que podemos fazer nesse momento é ser precavido. É tentar fazer com que a água que temos no reservatório se estenda o máximo possível”, disse.

O diretor ressaltou que a diminuição da vazão não deve ser atribuída à Chesf, mas ao interesse dos vários usos da bacia, e destacou a importância da busca conjunta de soluções para o problema. Para ele, outras áreas do governo e do próprio legislativo deveriam formalizar uma reivindicação ao Ibama colocando a necessidade dessa diminuição.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, afirmou que a agência já recebeu o pedido para a redução da vazão em Sobradinho e, no máximo em uma semana, divulgará nota técnica sobre o assunto. Ele disse que, resguardado o uso prioritário da água para abastecimento humano, a ANA se manifestará pela redução da vazão.

Guillo explicou que existem limitações de uso do reservatório de Três Marias, em Minas Gerais, em trecho anterior do rio, para regular a vazão. A redução da vazão de Sobradinho, segundo o diretor da agência, será feita de forma gradual e deve se iniciar até o início de dezembro.

“Os estados não podem ser, em um processo como esse, meramente agentes passivos. Eles têm que entender que a reserva de água é fundamental para os estados”, afirmou Guillo, destacando a necessidade do tema ser visto de forma integrada. “Órgãos como a Chesf não podem ser criminalizados em relação às decisões que tiveram que ser tomadas”, defendeu.

Perímetro Nilo Coelho
Ao redor do lago de Sobradinho operam muitos dos distritos irrigados implantados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). No maior deles, o perímetro Nilo Coelho, a situação é crítica porque a captação para esse projeto, na sua concepção original, só permite a retirada de água do volume útil da barragem. Por isso, a Codevasf já vinha executando um conjunto de obras para garantir a captação da chamada reserva morta, já que o volume mínimo útil seria atingido em meados de dezembro.

O diretor da Codevasf, Luis Napoleão, afirmou que as obras ficarão prontas no mês de novembro. Segundo ele, existem 67 equipamentos e 145 pessoas trabalhando na obra 18 horas por dia: “Toda a Codevasf, sem exceção, está vivenciando isso diariamente. Quero, através dessa audiência, tranquilizar a sociedade. O compromisso assumido pelo governo federal, através do Ministério da Integração, está sendo conduzido com muito comprometimento, critério e exigência”.

Napoleão lembrou que o desafio é grande, mas ressaltou que a população deve confiar em todos os órgãos envolvidos no processo de minimizar o colapso hídrico no Vale do São Francisco. Segundo ele, todas as entidades envolvidas estão trabalhando 24 horas por dia para evitar uma situação extrema de não ter água para produção agrícola ou para o consumo humano.

Revitalização
O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que o descaso com o rio São Francisco é um crime contra o povo nordestino e contra o povo de Minas. O senador defendeu a necessidade da revitalização do rio com o desassoreamento em trechos de suas calhas e explicou que esse é o melhor momento para que o governo adote essa medida.

“O rio São Francisco está marcado para morrer. O governo dorme com um paciente morrendo na fila. O governo não pode ter as vistas complacentes com uma situação dessa natureza”, protestou.

O senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) lamentou que vários projetos para minimizar o colapso hídrico no Vale do São Francisco tenham sido deixados de lado por falta de recursos. Ele afirmou que estão faltando lideranças e partidos para impulsionar o desenvolvimento de ações nesse sentido.

Da Redação – LC
Com informações da Agência Senado

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