Ciência, tecnologia e Comunicações

Cortes no orçamento de Ciência e Tecnologia podem inviabilizar pesquisas

Investimentos no setor caíram de R$ 8,4 bilhões em 2014 para R$ 3,2 bilhões este ano. Para 2018, o programado é ainda menor, de R$ 2,7 bilhões

10/10/2017 - 18:49  

Will Shutter/Câmara dos Deputados
Audiência Pública
Entidades entregaram documento com a assinatura de 80 mil pesquisadores

A queda no orçamento público para Ciência e Tecnologia neste ano e no próximo pode inviabilizar pesquisas em andamento no país. Este é o diagnóstico dos pesquisadores brasileiros que estiveram na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (10) para entregar um abaixo-assinado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, contra os cortes. O documento da campanha “Conhecimento sem Cortes” reuniu mais de 80 mil assinaturas.

A comunidade científica afirma que o orçamento de investimentos do setor passou de R$ 8,4 bilhões em 2014 para R$ 3,2 bilhões este ano. Para 2018, o programado é ainda menor, de R$ 2,7 bilhões.

Em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, Ildeu Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), lembrou que 23 ganhadores do prêmio Nobel enviaram uma carta ao presidente Michel Temer em setembro, alertando que os cortes podem comprometer o futuro do Brasil.

“Reconhecer a importância da ciência brasileira, assinar uma carta, o que não é comum. Assinar uma carta ao presidente da República de um país, dizendo da importância da ciência brasileira, que ela tenha continuidade. E, no entanto, nos envergonha que a gente veja que cientistas do exterior, desse alto quilate, tenham mais sensibilidade com a ciência brasileira que nossos governantes”, afirmou o presidente da SBPC.

Ministério
O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informou, por meio de nota, que está trabalhando para elevar os recursos deste ano e que os valores de 2018 ainda não estão fechados.

Helena Nader, da Academia Brasileira de Ciências, disse que o trabalho dos pesquisadores está presente na alta produtividade agrícola do país e na exploração de petróleo em águas profundas. Ela disse que países como a Coreia do Sul gastam mais de 4% do Produto Interno Bruto em Ciência e Tecnologia; enquanto o Brasil investe cerca de 1%.

Fernando Peregrino, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica, disse que o problema também é de gerenciamento de recursos. Segundo ele, o sistema de Justiça brasileiro gasta quase 2% do PIB, o dobro do que tem o setor de Ciência e Tecnologia. Nos Estados Unidos, segundo ele, os gastos com C&T representam 2,4% do PIB enquanto o sistema de justiça tem 0,2%.

A deputada Luiza Erundina (Psol-SP) pediu aos colegas que atuem para reverter os cortes. “Como é que se quer disputar a hegemonia no mundo - e isso não se fará sem ciência, sem tecnologia, sem inovação - se vai se andando pra trás na destinação de recursos públicos para essas áreas? É algo incompreensível, é algo burro, me desculpe a força da expressão”, disse a parlamentar.

Teto de gastos
Outros deputados e convidados afirmaram que os cortes decorrem da emenda constitucional que fixou um teto de gastos para o país pelos próximos 20 anos, enquanto o pagamento da dívida pública não sofre interrupções. Eles também defenderam a manutenção do ensino superior público.

Reportagem - Sílvia Mugnatto
Edição – Roberto Seabra

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